Uma das preferidas do público era Marina Person. Com muita simpatia e jovialidade, ela esteve à frente de diversas atrações da emissora entre 1999 e 2011, quando deixou a MTV para comandar programas na TV Cultura e no Canal Brasil, além de se dedicar a outros projetos. O resultado de um deles é o longa Canção da volta, que estreia nesta quinta (3) nos cinemas de BH, trazendo a ex-VJ pela primeira vez em um papel principal na telona.
Apesar da novidade, a sétima arte sempre fez parte da vida dessa paulistana de 47 anos. Formada em cinema pela Universidade de São Paulo (USP) e filha do diretor Luís Sérgio Person, ela participou de outras produções e dirigiu o longa Califórnia, lançado no fim de 2015. Os laços de Marina com as câmeras se fortaleceram depois do casamento com o documentarista Gabriel Rosa de Moura, que, pela primeira vez, dirige um longa ficcional.
Canção da volta, parceria cinematográfica de Marina e Gabriel, conta o drama dos personagens Julia (vivida por ela) e Eduardo (João Miguel). O casal atravessa uma crise marcada pelos transtornos psicológicos dela, que resultam em uma tentativa de suicídio, e o comportamento controlador dele, que vira obsessão doentia. No meio do furacão estão o filho adolescente Lucas e a caçula Maria.
A construção do personagem Eduardo contou com a experiência e o reconhecido talento de João Miguel, premiado dentro e fora do Brasil pelas atuações em Cinema, aspirinas e urubus (2005), Estômago (2007) e Se nada mais der certo (2008). Por sua vez, Julia precisou da desconstrução, por parte de Marina Person, da apresentadora alegre e divertida dos programas Supernova, Menina veneno e Piores clipes do mundo.
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Se a ficção mostra a história de um casal que não se entende, para contá-la a parceria entre diretor e atriz foi fundamental para enfrentar os ineditismos de Canção da volta. “Precisávamos muito da confiança um do outro. Nossa intimidade como casal e a parceria que já trazíamos de outras produções ajudaram a criar aquela proteção de sempre poder ser sincero e trabalhar com calma, confiando no outro, sabendo que o outro estaria lá, verdadeiramente, de corpo e alma, para o que precisasse”, explica Gabriel. Foi ele o produtor de Califórnia, dirigido por Marina. Os dois são sócios na produtora Mira Filmes.
ONDA HIPPIE O desafio talvez tenha sido maior para Marina. Além da complexidade da personagem – mãe, esposa, depressiva e suicida –, o roteiro reservou à atriz estreante cenas de nudez e de sexo, geralmente complicadas até para os mais experientes.
“No começo, é meio tenso ficar nua no set, não tenho facilidade em fazer isso, mas depois foi libertador. Entendi que era natural e aí bateu uma onda hippie. A pessoa que poderia ficar mais preocupada, o Gabriel, era justamente quem mais incentivava e dava força para eu me soltar. Então, foi tranquilo”, brinca a atriz. Ela teve a difícil missão de atuar mais com o corpo do que com as palavras.
A história é marcada pela mistura de sentimentos. A maioria das cenas se passa no apartamento do casal, em São Paulo, o mesmo onde vivem Marina e Gabriel. Julia e Eduardo acreditam ser apaixonados um pelo outro e procuram demonstrar isso de várias formas. Por outro lado, incertezas e inseguranças do casal se manifestam em diferentes momentos, geralmente de forma oposta por parte de cada um.
O resultado final é uma trama com certo tom de mistério, consequência da angústia dos dois personagens – especialmente do marido, em sua busca desesperada e quase abusiva por compreender e, ao mesmo tempo, controlar a mulher.
Com produção simples, poucas locações, algumas alongadas cenas silenciosas e sem ação, o longa aposta nos diálogos e nas expressões dos atores para conquistar e, de alguma forma, mexer com o público.
“É um filme muito sensorial, que não pretende dar conselhos ou passar mensagem muito direta. O objetivo é pôr as pessoas para pensar, sentindo um pouco daquela angústia e daquele mal-estar do personagem, que não consegue aceitar a diferença do outro”, explica Gabriel Rosa de Moura. Ele conta ter se inspirado em filmes como Uma mulher sob influência (1974), de John Cassavetes, para criar a história, batizada com o título de uma canção de Dolores Duran.
CANÇÃO DA VOLTA
(Brasil, 2016, 90min)
Direção: Gustavo Rosa de Moura. Com João Miguel e Marina Person. 14 anos.
. Belas Artes 3, 14h, 15h40, 20h
. Cine 104, 19h