Os cinemas Belas Artes, 104, Humberto Mauro e MIS Santa Tereza são bravos resistentes em meio aos multiplex que dominam o cenário de Belo Horizonte. Na próxima semana, vão ganhar um companheiro: o Cine-Theatro Brasil Vallourec abrirá a sua sala, que vai funcionar eventualmente.
Conforme a reportagem comprovou, eles têm outros pontos em comum. Todos estão em regiões centrais e acessíveis ao bolso (quando não são gratuitos). Mas há alguns poréns. Há salas que precisam – para ontem – de reforma. O Belas Artes é o caso mais urgente.
Mesmo com exibições no sistema mais atualizado (o chamado DCP), o espectador pode sofrer no quesito conforto. As salas têm poltronas medianas, com pouca inclinação. Há o que melhorar, os responsáveis pelas salas sabem disso. O (bom) cinema agradece.
>> Cinemas Belas Artes
Rua Gonçalves Dias, 1.581, Lourdes,
(31) 3273-3229
Fundação: Agosto de 1992
Três salas: 1 (138 lugares); 2 (123 lugares);
3 (76 lugares) Tem café e livraria
Ingressos: Segunda, terça e quinta: R$ 18 e R$ 9 (meia); quarta: R$ 16 e R$ 8 (meia); sexta a
domingo e feriado: R$ 22 e R$ 11 (meia). Meia para estudantes, maiores de 60, assinantes do Estado de Minas (de segunda a sexta, exceto
feriado). Vendas na bilheteria e pelo site www.ingresso.com. Aos sábados, às 11h,
sessão gratuita para professores (escolanocinema.com.br)
Vinte e quatro anos depois de sua inauguração, o Cine Belas Artes mantém a proposta inicial. É um cinema comercial, mas busca passar ao largo – quase sempre – das programações que dominam os multiplex.
Por um lado, isso é muito bom: programação diversa, com filmes de nicho, e produções tanto de nomes consagrados quanto de novatos. Também tem localização nobre, ao lado da Praça da Liberdade e de todos os prédios e instituições que formam o Circuito Cultural, além de contar com bons café e livraria.
Porém, quase um quarto de século depois de sua inauguração, o Belas Artes, enquanto estrutura, é basicamente o mesmo. Sim, houve reformas ao longo desses anos – a mais recente delas há dois, quando foi trocado o sistema de projeção: hoje totalmente digitalizado, com o chamado DCP (Digital Cinema Package).
No entanto... As poltronas já viveram dias melhores. Há pouquíssima inclinação entre elas. E o ar-condicionado fica longe de ser exemplo de bom funcionamento. Atual proprietário da casa, Adhemar Oliveira, exibidor e distribuidor responsável por 114 salas em nove estados, admite: o Belas Artes necessita de uma reforma urgente.
Quando assumiu o cinema, em janeiro de 2014, ele já chegou com a intenção de fazer uma grande reforma. A revitalização incluiria – nas três salas – a troca das telas, das poltronas, do revestimento e da iluminação. A mudança ainda abarcaria a digitalização do cinema (os ingressos teriam lugar marcado), além de novos banheiros e programação visual.
Há um projeto ainda mais ousado de ampliação do Belas. A casa ao lado do cinema já foi alugada por Oliveira. “Serão mais duas salas. Assim, teríamos, em vez de 300 lugares, 500”, prevê. A conta é que é o complicado. Pelo orçamento previsto, seriam R$ 300 mil para reformar as salas já existentes, mais R$ 300 mil para o banheiro e o saguão e outros R$ 3 milhões para a parte nova.
“Hoje, estamos sobrevivendo apertados, garantindo ocupação, mas está difícil. Quando entrei aqui, já tinha tudo planejado, com o desenho. Aprovei o projeto (da reforma), estou costurando umas conversas... Mas sei que tenho que ter paciência de cão, esperar a economia engrenar novamente. Estou pagando para ver, literalmente, pois houve até uma oferta para abrir um restaurante (na casa ao lado). Não abro mão do meu projeto”, conclui Oliveira.
>> Cine 104
Praça Ruy Barbosa, 104, Centro, (31) 3222-6457
Fundação: Outubro de 2012Uma sala: 90 lugares
Tem café, biblioteca e espaço multimídia
Ingressos: R$ 12 e R$ 6 (meia). O cinema não abre às segundas-feiras.
Qualquer belo-horizontino conhece o Centro e Quatro. Se não como espaço cultural, pelo menos sua edificação, galpão que integra a paisagem arquitetônica da região da Praça da Estação há mais de um século (foi inaugurado em 1908).
Cento e um anos mais tarde, a antiga fábrica de tecidos deu lugar a um centro cultural com café/restaurante e espaço multimídia. Pode receber de exposições a palestras, shows etc.
Há apenas quatro anos o espaço ganhou uma sala de cinema. Dos cinemas de rua, pode-se dizer que é o mais alternativo. Tem três sessões diárias (não abre às segundas) e busca exibir filmes que tenham “dificuldade de encontrar espaço”, explica o programador Daniel Queiroz. Pelo menos metade é de produção nacional.
O ingresso é comprado no café que fica logo na entrada. A sala, ao fundo, é pequena, mas confortável. Os banheiros estão do lado de fora, em frente. Para muitos frequentadores, o fetiche do Cine 104 são os pufes que ficam na parte da frente, antes da primeira fila de poltronas. Bom para namorar, mas pra ver filme não é exatamente o ideal.
As poltronas (do antigo Ponteio, reformadas) ficam em nove filas. Ainda que a inclinação seja pequena – as quatro primeiras filas estão no mesmo plano –, a visão da tela é boa, colocada bem alta. No ano passado, o 104 foi digitalizado, com a projeção em DCP.
Os lugares são livres e assim ficarão. “Não curtimos lugar marcado”, afirma Queiroz. Como espaço aberto para o cinema autoral, o 104 ainda tem sessões especiais gratuitas. Participa ainda de mostras da cidade. A Mostra Cine BH, que começou ontem, por exemplo, terá sessões na sala.
>> MIS Santa Tereza
Rua Estrela do Sul, 89, Santa Tereza,
(31) 3277-4699
Fundação: Abril de 2016
Uma sala: 122 lugares
Tem biblioteca e espaço para exposições
Entrada franca (senhas deverão ser retiradas meia hora antes das sessões)
É tudo novo: tela e cadeiras (apertadas, de médio conforto). Há a projeção em DCP e agora estão terminando de montar um projetor em 35mm. Pequena, a sala fica na parte de cima do prédio (um elevador dá acesso a cadeirantes; há banheiro tanto na parte de cima quanto na de baixo). Para quem odeia gente comendo no cinema, a boa notícia é que no MIS não se pode levar comida ou bebida para a sala (pipoca, só na entrada mesmo). E, mesmo assim, por ora não há muito o que consumir.
No pequeno foyer, há área já pronta para receber um café. Como o MIS é espaço público, uma licitação (que terminou na terça-feira) foi aberta para a ocupação. Outra iniciativa que deve ficar pronta até o ano que vem é a própria entrada. “Vamos criar um ambiente de convivência, com objetos e móveis que resgatem elementos da arquitetura art decô”, afirma Ana Amélia Lage Martins, gestora do MIS.
Outra questão que deve ser resolvida ainda este mês diz respeito à divulgação da programação. O MIS funciona diariamente (à exceção das segundas-feiras), com média de duas sessões diárias (sempre gratuitas, com distribuição de senhas). A agenda é bastante eclética. Existem a curadoria da própria casa e também iniciativas de terceiros.
O MIS vai receber sessões da Mostra Cine BH, assim como exibiu, no primeiro semestre, a Mostra Varilux. “É ainda um espaço para difusão. Temos realizado muitos lançamentos de produções locais e regionais”, afirma Ana Amélia.
Difícil é saber o que está passando ali. A programação está disponível no site BH faz cultura (bhfacultura.pbh.gov.br), que apresenta todos os espaços municipais da capital. A navegação é “bem complicada”, como afirma a própria Ana Amélia. Existe a página do MIS no Facebook, mas, devido à lei eleitoral, ela foi suspensa em julho (ou seja, voltará em novembro).
Por ora, no próprio cinema, é possível colocar o e-mail num caderno. Daí, a programação mensal será enviada – e funciona, conforme a reportagem comprovou. Ou, então, pode-se pegar a programação em papel disponível na entrada do cinema. É old school, mas a cara do MIS.
>> Cine Humberto Mauro
Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro,
(31) 3236-7400
Fundação: Outubro de 1978
Uma sala: 129 lugares
O Palácio das Artes conta também com café, galerias de arte e teatros
Entrada franca (senhas deverão ser retiradas meia hora antes das sessões)
A criação do Cine Humberto Mauro foi uma resposta à demanda cineclubista, que no final da década de 1970 tinha dificuldades para sobreviver. A sala surgiu também como um espaço onde se poderia refletir sobre a sétima arte. A premissa se mantém, quase 40 anos depois da inauguração. A programação é mais pautada por mostras temáticas do que propriamente pelo que está em cartaz nas outras salas.
Como espaço para exibição, o Humberto Mauro não tem mais a precariedade técnica dos primeiros anos. Na reforma mais recente, em 2012, foi reestruturado o sistema de projeção. Hoje, a sala tem um projetor em DCP, dois de 35mm e um em 16mm. Houve também a troca recente de poltronas – o que não quer dizer que sejam o supra-sumo do conforto.
O problema maior é a mínima inclinação da sala. Dependendo do colega da frente, pode atrapalhar e muito a sessão. O banheiro, que já viu dias melhores, fica do lado de fora.
O gerente Philipe Ratton sabe destes poréns. Mas admite: não há muito a ser feito. “A gente poderia até ter outro tipo de poltrona, mais larga, mas perderia espaço na sala (que já é pequena). Quanto à inclinação, também é uma questão estrutural. Não tem como mexer.”
Para um futuro próximo Ratton afirma que existe a intenção de mudar o sistema de ingressos, que terão lugares marcados. “Estamos estudando a melhor forma de implantar isso, pois gera uma pequena reforma na iluminação para que a numeração esteja visível.”
Com a política de cobrar ingressos apenas para mostras de terceiros, este ano o Humberto Mauro conseguiu exibir 100% de sessões gratuitas. Um alívio em tempos bicudos. Só gera, dependendo da sessão, muita fila (como ocorreu na recente mostra dedicada à obra de Quentin Tarantino, a de maior sucesso em 2016). E a distribuição é democrática. Um ingresso por pessoa.
De volta
Um dos mais conhecidos cinemas de rua de BH, o Cine Brasil volta a funcionar na próxima semana. Originalmente, ele ficava onde hoje está o Grande Teatro do Cine Theatro Brasil Vallourec, que tem capacidade para 1 mil pessoas.
O teatro de câmara, que já abrigou bingo e restaurante popular, tem 200 lugares e recebeu investimento de R$ 400 mil para poder ser utilizado como sala de exibição.
O funcionamento será apenas esporádico. De 26 deste mês a 4 de novembro, serão exibidos filmes que fizeram história na década de 1980. Entre eles estão Scarface, E.T. e a trilogia De volta para o futuro. Ingressos: R$ 10 e R$ 5.