Sucesso em Portugal, filme 'Os Maias' chega às telas brasileiras

Em 2014, a coprodução entre Brasil e Portugal foi o longa mais assistido em terras lusitanas

por Ricardo Daehn 16/11/2015 11:16

Arthouse BR/Divulgação
(foto: Arthouse BR/Divulgação)
Com poucas exibições no Panorama do Cinema Mundial no Festival do Rio do ano passado, Os Maias — Cenas da vida romântica, enfim chegou ao circuito comercial brasileiro. Orçada em 1,5 milhão de euros, a adaptação da obra clássica de Eça de Queirós chega em versão para os cinemas, pelas mãos do diretor João Botelho, responsável por mais de 10 longas-metragens, alguns deles premiados em festivais como os de Veneza e de Berlim. Em 2014, Os Maias, uma coprodução entre Brasil e Portugal, foi o longa mais assistido em terras lusitanas.

No novo longa, ganhador do Globo de Ouro português de melhor filme, o protagonista, ex-universitário de medicina em Coimbra, conquista o afeto de Maria Eduarda, papel da brasileira Maria Flor. O romance brota nos anos posteriores à criação eclética do viajado Carlos, espécie de xodó do avô Afonso da Maia (João Perry), que viu seu filho, Pedro, cometer suicídio, por razões amorosas. No começo da trama, bem agilizada para o cinema, o espectador fica ciente da traição cometida por Maria Monforte, a mulher de Pedro, que sai de casa atrás do príncipe italiano Tancredo.

Com muita importância na trama, os ambientes contemplam residências como o Ramalhete (em Lisboa), além das paisagens naturais descritas, com frequência, no texto de Eça de Queirós. Direção de arte impecável assinada por Sílvia Grabowski, conhecida pelo recente trabalho em Os amores de Florbela Espanca, se juntam à incomum solução artística para o filme: pinturas ao fundo, confeccionadas a óleo por João Queiroz, dão ares antigos, mas estilosos. Uma opção inventiva do diretor João Botelho que, no passado, já ilustrou livros infantis.

Painel de hábitos que marcaram época em Portugal dos anos do século 19, Os Maias explora dramas, amores proibidos e ainda aspectos cômicos que cercam a figura central de Carlos Eduardo. Passagens de tempo; um quê radical de personagens progressistas e cômicos, como João da Ega (Pedro Inês); tipificação das mulheres, algumas tidas por prostitutas, numa sociedade machista; o retrato de jantares pomposos, recheados por mais de três horas de acalentadas discussões, flertes ocasionais e situações carimbadas pela expressão de moda um “certo chique” (usada constantemente) estão no miolo de Os Maias — Cenas da vida romântica.

Aos 66 anos, João Botelho ganha projeção depois de feitos como adaptar para as telonas, parcela dos pensamentos do filósofo francês Denis Diderot (em O fatalista, de 2005) e de se arriscar na criação de abstratas imagens que remetem a textos de Fernando Pessoa (caso de Filme do desassossego, em 2010).

Tendo estreado nos palcos, em 2003, com a peça A ópera do malandro, Graciano Dias, o protagonista, já ressaltou, em entrevistas, a vontade de honrar uma obra tão difundida de Eça de Queirós, autor preferido do pai do ator. Vale a lembrança de que, há 14 anos, o personagem de Graciano Dias teve interpretação de Fábio Assunção, na tevê, em minissérie global adaptada por Maria Adelaide Amaral.

 

 

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