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Estado de Minas

Saiba por que viajar pela Armênia é reviver a história da humanidade

Neste país, Noé teria atracado a arca após o dilúvio, aos pés do Monte Ararat, a montanha sagrada para os armênios. A região é ainda a mais antiga do mundo a produzir vinho, desde 4 mil a.C., e o primeiro país a adotar o cristianismo, em 301


09/10/2018 07:12 - atualizado 10/10/2018 11:27

Jovens observam o Monte Ararat, a partir de Yerevan, capital da Armênia(foto: Renan Damasceno/EM)
Jovens observam o Monte Ararat, a partir de Yerevan, capital da Armênia (foto: Renan Damasceno/EM)

Yerevan (Armênia) – Era início de tarde de domingo, um temporal se aproximava pela fronteira da Armênia com Turquia e Irã. Nas seis horas anteriores, eu e um grupo de 11 estrangeiros havíamos visitado alguns dos mosteiros e vinícolas mais antigos da primeira nação cristã do mundo – quase todos, destruídos e reconstruídos ao longo dos séculos, por motivos políticos, religiosos ou desastres naturais. Olhando para as paredes de pedra do mosteiro de Noravank, do século 13, em Yeghegnadzor, a guia Diana Grigoryan deu uma pausa no discurso decorado e fez uma observação: “O povo armênio é forte: está sempre preparado para reconstruir sua história”.


A Armênia tem extensão territorial pouco maior que o estado de Alagoas, sem saída para o mar, ao sul da região do Cáucaso. Faz fronteira com quatro países – Turquia (Oeste), Geórgia (Norte), Azerbaijão (Sul) e Irã (Sul) – e é justamente por sua posição estratégica, na ligação do Oriente com o Ocidente, na antiga rota da seda, que a história armênia é marcada por invasões desde a antiguidade. Sobretudo pelos vizinhos persas, turco otomanos e russos.


A população armênia foi dizimada pelo primeiro genocídio do século 20, que matou 1,5 milhão de armênios entre 1915 e 1923, na invasão otomana. Os turcos não reconhecem o termo genocídio, o que afeta a relação diplomática entre os dois países. Em 1918, a Armênia anunciou independência, mas a vida da república democrática durou apenas dois anos, quando Yerevan foi invadida pelo Exército Vermelho, dando início ao domínio soviético.


O regime de Josef Stalin foi cruel com os armênios. O ditador cedeu a região de Nagorno-Karabakh ao Azerbaijão – conflito até hoje não solucionado, motivo pelo qual as fronteiras são fechadas, inclusive com minas terrestres. Em 1988, quando o comunismo ruía e os armênios ensaiavam independência, um terremoto de magnitude 7.2 atingiu o país, matando mais de 50 mil armênios e destruindo as principais cidades.


Por tudo isso, a Armênia tem sua história contada em escombros, cicatrizes que não se fecham, mas que formam uma identidade única celebrada no mundo todo. Motivos não faltam para conhecer o lugar onde, segundo a bíblia, Noé atracou a arca após o dilúvio; a região mais antiga a produzir vinho e o primeiro país a adotar a cristianismo, em 301. Viajar pela Armênia é viajar pela história.

 

O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE A ARMÊNIA 


Mosteiro de Noravank, construído no século 13: a Armênia é a primeira nação cristã do mundo(foto: Renan Damasceno/EM)
Mosteiro de Noravank, construído no século 13: a Armênia é a primeira nação cristã do mundo (foto: Renan Damasceno/EM)
 

 

Não se engane com o tamanho da Armênia no mapa: você vai precisar, ao menos, de uma semana para explorar a história do país de 29 mil quilômetros quadrados repletos de história. É o tempo para passear com calma pelas ruas de Yerevan, passar um dia às margens do Lago Sevan; outro para conhecer os mosteiros de Khor Virap, Noravank e as vinícolas de Areni, ao sul, além de diversos passeios pelo interior agrícola do país. Antes de viajar, vale a pena ficar atento a alguns detalhes, já que o país tem problemas diplomáticos com vizinhos como Turquia e Azerbaijão.

 

SERVIÇO
 

»Como chegar
Os voos de Belo Horizonte a Erevan têm, pelo menos, duas escalas e as viagens duram mais de um dia. As melhores opções fazem escala em Doha (Catar) ou em aeroportos europeus, como Paris e Madrid.

» Visto

Desde 2015, brasileiros não precisam mais de vistos para entrar na Armênia para permanência de até 90 dias, tanto para turismo quanto para negócios.

» Moeda e câmbio
A moeda local é o dram armênio. As moedas vão de 20 a 500 drames e as notas, de 1 mil a 50 mil drames. Pelo câmbio atual, R$ 1 vale aproximadamente 120 drames.

» Alfabeto e idioma
Assim como Geórgia e Azerbaijão – outros dois países do Cáucaso, a Armênia tem alfabeto próprio, milenar e único. São 38 letras, entre consoantes e vogais. Na capital, em restaurantes e hotéis, o inglês é falado. Algumas placas também estão em cirílico, herança do período soviético.

» Clima
De dezembro a fevereiro, Yerevan pode registrar temperaturas negativas, ao passo que entre junho e agosto, a máxima gira em torno de 35ºC, com o clima bastante seco.

» Hotéis
Yerevan é servida pelas principais redes de hotel. As principais opções ficam na região central, no entorno da Praça da República.

» Pelo interior
Próximo da Praça da República, várias vans e carros particulares oferecem passeios de um dia pelo interior do país. Recomenda-se, porém, as várias agências de turismo instaladas no Centro, que oferecem transporte e refeições. Os principais destinos são o Lago Sevan, os mosteiros de Khor Virap e Noravank e a região vinícola de Areni.

» Problemas diplomáticos

Grupos separatistas, com o apoio armênio, permanecem em controle de Nagorno-Karabakh e sete outros territórios do Azerbaijão. O Itamaraty recomenda que brasileiros permaneçam cautelosos em regiões armênias próximas à fronteira azeri. Além disso, quem viaja às regiões separatistas pode ter problemas para futuras entradas no Azerbaijão. Os funcionários da Embaixada do Brasil em Yerevan não podem, por razões políticas, deslocar-se ao território de Nagorno-Karabakh para prestar assistência consular. 

 

Luta pelo reconhecimento

 

Praça da República, em Yerevan: brasileiros não precisam de visto para visitar a Armênia(foto: Renan Damasceno/EM)
Praça da República, em Yerevan: brasileiros não precisam de visto para visitar a Armênia (foto: Renan Damasceno/EM)

A história está em cada esquina, em cada prédio de Yerevan, uma das cidades mais antigas continuamente habitadas do mundo, desde 782 a.C. Mas é o sofrimento do último século que segue latente na memória do povo, que celebrou, em 2015, o centenário do genocídio armênio, que vitimou 1,5 milhão de pessoas, segundo estimativas. O povo armênio – com ajuda de artistas locais aclamados, como a banda System of a Down –, luta pelo reconhecimento por parte da Turquia. O genocídio é lembrado no memorial Tsirsernakaberd, um parque a céu aberto, com museu e uma enorme estrutura de pedra, com a chama que nunca se apaga.

 

A fome e a perseguição geraram uma diáspora, com armênios se instalando em várias partes do mundo. No Brasil, segundo o Itamaraty, a comunidade armênia é de aproximadamente 40 mil descendentes, a maioria em São Paulo. Artistas como Aracy Balabanian e Stepan Nercessian são de origem armênia. Ao redor do mundo, os descendentes vão dos franceses Alain Prost e Charles Aznavour, que faleceu semana passada, à cantora Cher e à família Kardashian.

 

Yerevan tem um centro moderno, entre a Praça da República, sede do governo, e a Praça da Liberdade, onde está o Teatro da Ópera, e que precede as escadarias da Cascade. Lá de cima, a melhor vista para o Monte Ararat, que fica do lado turco, mas que é sagrado para os armênios. Ao lado está a estátua da Mãe Armênia, com espadas em mãos, a personificação do espírito guerreiro do povo local. O monumento, de 22 metros, foi erguido para substituir uma estátua de Joseph Stalin, trocada em 1922.

 

Nesta região central estão os principais hotéis e restaurantes. Entre fast food e comidas internacionais, estão restaurantes locais, como o Tun Lahmajo (23, Teryan), que vende o melhor lahmajo, uma espécie de pizza armênia, com lavash (pão-folha), carne e molho.

 

 

O QUE VISITAR

 

Museu de História da Armênia

Museu de História(foto: Renan Damasceno/EM)
Museu de História (foto: Renan Damasceno/EM)
 

Para ter um panorama da história local, comece seu roteiro em Yerevan pelo Museu de História da Armênia, localizado na Praça da República. A entrada custa 1.000 AMD (R$ 12). O museu percorre desde a Era do Bronze à independência da União Soviética, em 1991, passando pela instauração do cristianismo e a criação do alfabeto único.

 

»  Cascade

Do alto de Yerevan Cascade, tem-se a melhor vista para o Monte Ararat, que fica do lado turco(foto: Renan Damasceno/EM)
Do alto de Yerevan Cascade, tem-se a melhor vista para o Monte Ararat, que fica do lado turco (foto: Renan Damasceno/EM)
 

A obra mais imponente da cidade, construída no período soviético. A escadaria tem 118 metros de elevação, dividida em seis níveis, cada um deles com obras de arte e esculturas doadas pelo magnata Gerard Cafesjian.

 

»  Museu Paradjanov

Yerevan também tem pequenos museus que homenageiam personalidades, como a Maison Charles Aznavour, cantor franco-armênio que morreu semana passada, aos 94 anos. Outro que vale a pena conhecer é o Museu Paradjanov, na casa do cineasta georgiano que fez carreira na Armênia. Sergei Paradjanov dirigiu A cor da romã (1969), uma livre adaptação da biografia do poeta e cantor Sayat Nova.

 

»  Mesquita Azul

Mesquita Azul(foto: Renan Damasceno/EM)
Mesquita Azul (foto: Renan Damasceno/EM)
 

O cristianismo é a religião oficial da Armênia, mas as religiões coexistem pacificamente em Yerevan. No Centro, está a Mesquita Azul, erguida no século 18, durante o domínio persa. Durante o período soviético, ela foi desativada, mas voltou à atividade com a independência armênia. 

 

VIAGEM AO BERÇO DO VINHO 

Pesquisadores descobriram em Areni vestígios de uma adega com mais de 6 mil anos(foto: Renan Damasceno/EM)
Pesquisadores descobriram em Areni vestígios de uma adega com mais de 6 mil anos (foto: Renan Damasceno/EM)
 

 

Ao viajar pelas estradas da Armênia, atenção redobrada: além de cruzar com antigos Ladas do período soviético pelo caminho é bem possível que terá de ficar parado enquanto bois, vacas e carneiros atravessam a pista. Assim como outras ex-colônias soviéticas do Cáucaso e da Ásia Central, o interior da Armênia é bastante rural.
Enquanto capitais como Tbilisi (Geórgia) e Yerevan respiram o ar europeu – afinal, o Cáucaso é ligado econômica e politicamente à Europa –, as cidades interioranas se mantêm fiéis à cultura milenar local. Um exemplo é a culinária. Nas casas, é comum as mulheres armênias produzirem o próprio lavash – a massa fina, parecida com uma folha, sem fermento, que são assados nas paredes de um forno a lenha aberto no chão, o tonir.


A história no interior da Armênia é bem preservada, já que mosteiros estão espalhadas em vários pontos do país. Um dos mais importantes é o Khor Virap, aos pés do Monte Ararat, erguido sobre a prisão onde ficou São Gregório, responsável por tornar a Armênia o primeiro estado cristão do mundo.


O pioneirismo é, certamente, um orgulho para os armênios. Na região de Areni foi descoberto o primeiro sapato de couro (com 5.500 anos). Em 2011, ainda em Areni, foi descoberto vestígios de uma adega com mais de 6 mil anos. Na caverna foram encontrados instrumentos para prensar, vasilhames para fermentar e armazenar a bebida da uva, além de taças.


Segundo os pesquisadores, o vinho era usado em cerimônias fúnebres, já que foram encontrados ao lado de túmulos da Idade do Cobre. Armênia e Geórgia disputam o posto de berço do vinho, disputa que se intensifica a cada descoberta científica. Areni vive em função do vinho, com casas de rótulos conhecidos e vinhos produzidos por famílias e vendidos à beira das estradas em garrafas de plástico.

 

 

 
O QUE VISITAR

 

» Khor Virap
O mosteiro de Khor Virap está a 43 quilômetros de Yerevan, aos pés do Monte Ararat, na fronteira com a Turquia. O lugar abrigava uma prisão subterrânea, onde São Gregório, o Iluminador, ficou preso por 13 anos, a mando do rei Tiridates III. O santo acabou convertendo o rei ao cristianismo, em 301 d.C., transformando a Armênia no primeiro 
país cristão do mundo.

» Noravank
O mosteiro está a 117 quilômetros da capital, perto da fronteira da Armênia com o exclave azeri do Naquichevão. Ladeada por cânions de terra vermelha, Noravank é do século 13 
e resistiu a todas as invasões e desastres naturais que assolou o povo armênio ao longo dos séculos.

» Lago Sevan
A cerca de 80 quilômetros de Yerevan, ao leste, está o maior lago da Armênia e um dos mais altos do mundo, à altitude de 1.900m. Às margens do Sevan estão pequenas

 praias e mosteiros, como o de Sevanavank e Hayravank. 

 


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