Perto de Natal existe um pedaço do Rio Grande do Norte tão cheio de mar e sol quanto, mas bem menos badalado. É um daqueles lugares em que o tempo passa mais devagar e é possível desfrutar horas somente na companhia do mar, do calor e do vento. Dizem, inclusive, que lá é onde o vento faz a curva. Esse lugar é Touros, na Costa das Dunas, cidade que, apesar de pequena, guarda grandes histórias.
MARCO Uma das versões atribui o nome da cidade a uma formação rochosa que lembra o animal. O marco é considerado o monumento colonial mais antigo do Brasil. No portal do governo do estado, uma matéria lista cinco evidências, apontadas pela navegadora e professora-doutora Rosana Mazaro, do Departamento de Turismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), de que a chegada dos europeus se deu por lá.
Se Cabral desembarcou primeiro em Touros ou não, fica o debate. Mas é possível confirmar que outros pioneiros europeus chegaram à cidade na história recente, e pelo ar. Foi lá que pousou o primeiro avião a fazer um voo atravessando o Oceano Atlântico sem escalas, em julho de 1928, vindo da Itália. Uma foto fácil de encontrar na internet mostra moradores de todas as idades ajudando a empurrar a aeronave dos pilotos Arturo Ferrarin (1895-1941) e Carlo Del Prete (1897-1928).
Em Touros, fica o segundo maior farol da América Latina, com 62 metros de altura e quase 300 degraus. Construído no início do século 20, o Farol do Calcanhar ganhou esse nome por estar no local chamado de “calcanhar” do Brasil, bem no extremo leste. É nesse lugar que, observando no mapa, o litoral do país começa a curva de Norte/Sul para Leste/Oeste.
Também é em Touros que começa a BR-101, que leva do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, ao longo de 4,5 mil quilômetros. Repetindo uma frase conhecida pelos locais, um guia da Potiguar Turismo, uma das empresas de receptivo que oferecem passeios a quem visita o estado, diz que a rodovia, que ele já percorreu de moto, “liga o oxente ao tchê”. Uma placa marca o quilômetro zero da estrada. Diante dela estão arcos de concreto construídos pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012).
ESPETÁCULO O caminho de Natal a Touros é feito pela mesma rodovia, saindo do Aeroporto Internacional Governador Aluízio Alves. A viagem leva pouco mais de uma hora. No caminho, é possível apreciar a paisagem formada pelas dunas fixas (os montes de areia com vegetação nativa), cactos e criadouros de camarão. A região também produz abacaxi e grama. A pesca e a agropecuária familiar estão presentes.
Floresta encantada
Falando em energia eólica, agosto e setembro são os meses com os ventos mais fortes. Então, você verá os equipamentos em movimento de diferentes pontos das cidades. O vento também ajuda a aliviar o forte calor da região, que pode chegar a 29 graus, segundo o Climatempo. Por outro lado, o mar fica mais agitado.
É um lugar com muita água, não só a do mar, como a de pequenos rios, lagoas e mangues, que ganham um ar de “floresta encantada”, dessas dos livros de colorir, quando vistos ao cair da tarde. Rendem belos cliques, como o que fica no acesso à Praia da Xêpa, ainda em São Miguel do Gostoso. O visitante atravessa uma pequena ponte de madeira sobre o mangue, caminha por uma faixa de areia onde há um restaurante, e sobe uma duna com um charmoso portão de madeira no topo. Lá do alto, é possível admirar toda a extensão da praia, que, assim como grande parte do litoral daquela região, é praticamente vazia. Movimento, só o dos barcos pesqueiros a distância e dos nativos (um grupo de crianças jogava futebol no dia dessa visita). De resto, apenas o som das ondas. E o vento, que atrai praticantes de kite e windsurf.
Outro passeio que vale a pena na região é a visita aos Parrachos de Perobas, piscinas naturais a 5 quilômetros da costa de Touros. Na maré baixa, é possível mergulhar com máscara e snorkel para observar os cardumes e outros animais marinhos que se reúnem na área. O passeio também pode ser adquirido com a Luck Receptivo, que, além de Natal, presta serviço na Costa das Dunas.
ORIGEM No fim da manhã de 1º de setembro, centenas de pessoas se reuniram na Matriz de Bom Jesus dos Navegantes, sob sol forte, para dar início ao tríduo para celebrar os 218 anos da construção do santuário e os 186 de criação da paróquia. O padre Rodrigo Paiva contou a história da devoção que deu origem à igreja. “Nos idos do século 19, aparece, exatamente neste rio atrás da gente, o Rio Maceió, na enseada entre o rio e o mar, um caixote com uma imagem de Jesus Cristo. Essa imagem é venerada desde então. Milagrosa, a ela são creditados tanto milagres quanto bênçãos e devoções. E ocorre exatamente que, naquela ocasião, o povo padecia à fome, e não tinha pescado. Logo em seguida ao achado da imagem, abundantes peixes e tempos de graças e vida ocorreram em Touros”, explica.
Segundo o religioso, a comunidade cresceu em torno da fé do Bom Jesus dos Navegantes. “Touros, na ocasião, era uma vila de pescadores e se constituía em torno do crescimento econômico relacionado à pesca. Ela vai crescendo também, a partir de então, com a devoção ao Bom Jesus. Devotos se mudam para Touros, pessoas constituem essa sociedade e, hoje, se confundem com a cidade, a paróquia e a devoção ao Bom Jesus”, pontua o padre Rodrigo Paiva.
Depois do hasteamento das bandeiras no pátio, acompanhado pelo badalar dos sinos, por volta do meio-dia, quem estava do lado de fora se apertava para acompanhar a cerimônia dentro da igreja. Os bancos não foram suficientes e alguns fiéis contaram com a ajuda dos bares próximos, que emprestaram cadeiras de plástico. Todos acompanhavam a chamada Missa da Coroa com grande expectativa. Ao final, todos eles recebem a bênção da coroa do Bom Jesus, que, segundo a tradição, é colocada na cabeça de cada um dos fiéis.
Na cerimônia, o encontro da tradição e da modernidade. Isso porque a celebração era transmitida ao vivo pelo Facebook por um grupo de jovens da comunidade. A missa ocorre todo dia 1º de cada mês. Já a festa do Bom Jesus dos Navegantes ocorre de 22 de dezembro a 2 de janeiro, atraindo fiéis de diferentes partes do país.
Entre as pessoas que participavam da missa estava a professora Clésia Maria do Nascimento Silva, que elogiou a cultura e a população e disse por que os turistas devem visitar a cidade dela. “Touros é uma cidade riquíssima em cultura popular, principalmente. É uma terra de pescadores, de agricultores, de pessoas acolhedoras. Além da diversidade de praias, que são atrativos para as pessoas que vêm de fora, é uma cidade de pessoas religiosas também. É uma diversidade de religiões, mas, graças a Deus, todo mundo bem unido”, comentou.
Do lado de fora da igreja, chamam a atenção dois canhões coloniais apontados estrategicamente na direção da praia. Eles foram instalados pelos portugueses para combater a invasão holandesa no Brasil, que começou no século 17 com o objetivo de tomar posse do Nordeste do país. Na década de 1950, as peças foram transferidas de um antigo forte para essa área mais central do município. Não muito longe dali fica a ponte sobre o Rio Maceió, que corta a cidade. Da praia, é possível ver, ainda que bem longe, o Farol do Calcanhar.
Um taxista disse que lá as coisas não são “aceleradas” como em Natal. De fato, o tempo lá parece passar de outro jeito. É possível caminhar pelas vias planas ou percorrer longas distâncias de uma praia a outra, sob um céu sem nuvens, a areia fina e branca sob os pés, sem perceber que horas se passaram. Touros é um lugar para perder a noção do tempo e se esquecer da vida.
Em agosto, a cidade, que ainda guarda fortes traços da vila de pescadores de outrora, ganhou um empreendimento que trouxe opção de hospedagem com padrões internacionais para quem quer conhecer a Costa das Dunas. Inaugurado em 1º de setembro, o Vila Galé Touros Hotel Resort Conference & Spa ocupa área de 113 mil metros quadrados e é o maior da região. São 514 acomodações no sistema all inclusive.
Com investimento de R$ 150 milhões, o hotel teve o lançamento da pedra fundamental em fevereiro de 2017. Hoje, garantiu 300 empregos diretos e 1,2 mil indiretos pela cadeia produtiva, com o fornecimento de alimentos e outros produtos. Pelo menos 80% dos trabalhadores são da região de Touros, boa parte atuando no primeiro emprego formal, com carteira assinada.
A rede procura lugares novos para criar hotéis, o que faz parte das inovações propostas para fidelizar os clientes. O presidente do Grupo Vila Galé, Jorge Rebelo de Almeida, explicou que, no caso de Touros, chamou a atenção “a vila que parece ter parado no tempo”, mantendo suas belezas naturais. O empresário português também ressaltou que na região “não há inverno”. O tema do hotel, o oitavo da rede portuguesa Vila Galé, é a aviação, um dos grandes desafios para o turismo no país, de acordo com Almeida. “O Brasil precisa de transporte aéreo mais barato e mais eficiente”, enfatizou na coletiva de imprensa por ocasião da inauguração, referindo-se à oferta de voos nacionais e internacionais no Brasil.
O resort conta com seis restaurantes, que oferecem gastronomia mediterrânea, italiana, regional, portuguesa, bufê e até um voltado para o público infantil. Também conta com bares, um deles localizado em uma das piscinas, além de acesso à praia. Tem também um centro de convenções com capacidade para 1,2 mil pessoas. As opções de hospedagem são apartamentos standard, família e superior, suíte (para até quatro adultos), e chalés.
SUSTENTÁVEL Há também uma preocupação com a preservação do meio ambiente, como destaca o gerente-geral do empreendimento, Alexandre Magno. “Dentro da nossa unidade, temos um hectare de área preservada. Contamos com uma trilha ecológica, com a proposta de fazer um percurso com nossos hóspedes, com as crianças, para fomentar ainda mais a consciência ecológica. Todo nosso lixo é recolhido e tratado. Temos uma estação de tratamento de água e uma de tratamento de esgoto aqui dentro.
Então, tudo que volta para o meio ambiente volta de maneira purificada. Nossa consciência é muito importante e também divulgamos isso com nossos clientes, colocando lixeiras ecológicas para separação do lixo. A Vila Galé vem bem focada nesse propósito”, afirma. *A repórter viajou a convite do Grupo Vila Galé
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