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Estado de Minas

Confira o roteiro da fé no feriado da semana santa nas cidades históricas de Minas

Vida, calvário, morte e ressurreição. Durante a semana santa, a representação dos últimos dias de Jesus Cristo na Terra é celebrada com devoção, amor e lágrimas


13/03/2018 07:12 - atualizado 13/03/2018 14:12

 

Adoração, louvor e fé nas ladeiras de Ouro Preto: os belos tapetes de serragem e a procissão de anjos são tradição na cidade histórica mineira (foto: Gladyston Rodrigues/EM)
Adoração, louvor e fé nas ladeiras de Ouro Preto: os belos tapetes de serragem e a procissão de anjos são tradição na cidade histórica mineira (foto: Gladyston Rodrigues/EM)
 

O Brasil, com a maior população católica do mundo, revive, nos quatro cantos do país, todo o sofrimento vivido por Jesus: do calvário à crucificação e, depois, a ressurreição. Rumo ao interior, mais especificamente às cidades históricas mineiras, é que se vê a força das tradições católicas – costumes preservados desde a época do período colonial. "É uma viagem interior em todos os sentidos: interior de Minas, do Brasil e de si mesmo. Aqui em Minas, me reencontro, me fortaleço e recarrego as energias."

A fala, da professora aposentada Magda Rambo, de Brasília, é a mesma de outros milhares de fiéis que visitam Minas no feriado religioso. Eles buscam, nessa data, o contato direto com o divino e não se cansam de acompanhar o ritual religioso em procissões luminosas por ruas e vielas estreitas das cidades históricas, ao som de cânticos melancólicos intercalados pelas badaladas dos sinos das igrejas barrocas.

As igrejas barrocas e ladeiras de pedras de Ouro Preto são palco, na semana santa, de missas, procissões luminosas e dos tradicionais motetos, cantos em latim que dão um ar ainda mais solene à cidade, reconhecida como patrimônio da humanidade e visitada por gente do mundo inteiro.

SERRAGEM

A exemplo de outros municípios mineiros nascidos nos tempos coloniais, a antiga Vila Rica tem suas particularidades: as paróquias de Nossa Senhora da Conceição, do Bairro Antônio Dias, e a de Nossa Senhora do Pilar se revezam na organização das cerimônias da Paixão de Cristo – no ano ímpar, a primeira; no par, a segunda.

A paisagem colonial, com seu casario e monumentos, se torna um espetáculo à parte, com o Centro Histórico emoldurado pela luz das velas que os fiéis carregam durante os cortejos. No domingo de Páscoa, os tapetes coloridos e os anjos dominam as ruas por onde passará a procissão da ressurreição. Materiais como serragem, borra de café, farinha e areia se transformam em encantamento pelas mãos da comunidade e de visitantes.

 

Reflexão em Cristo

Em Mariana, as celebrações ocorrem em frente das belas igrejas barrocas de São Francisco de Assis e N. S. do Carmo, na Praça Minas Gerais(foto: Élcio Rocha/Divulgação)
Em Mariana, as celebrações ocorrem em frente das belas igrejas barrocas de São Francisco de Assis e N. S. do Carmo, na Praça Minas Gerais (foto: Élcio Rocha/Divulgação)
 

 

Mariana, com mais de 320 anos de existência, tem uma das celebrações mais tradicionais de Minas. A procissão das almas, na madrugada de sexta-feira da Paixão, em que fiéis se cobrem com túnicas brancas e carregam velas pelas ruas do Centro Histórico. No domingo de Páscoa, a cidade se enche de cores. As ruas são enfeitadas e as janelas decoradas com colchas de retalhos, toalhas bordadas e vasos de flores. Os sinos anunciam o início da procissão, formada por crianças vestidas de anjo passando por ruas cobertas por tapetes de serragem. O palco principal das festividades é a Catedral da Sé e a Praça Minas Gerais, que conta com bailes, shows, malhação do Judas e os tapetes de flores e serragens coloridas.


Entre serras: da Piedade ao Caraça

Imagem de Maria com Jesus no colo marca a cerimônia no alto da Serra da Piedade, em Caeté(foto: Beto Novaes/EM)
Imagem de Maria com Jesus no colo marca a cerimônia no alto da Serra da Piedade, em Caeté (foto: Beto Novaes/EM)


No município de Caeté encontra-se a menor basílica do mundo, a igreja da padroeira de Minas Gerais, que integra o complexo arquitetônico do Santuário Nossa Senhora da Piedade. Durante toda a semana santa está programada uma série de missas e vigílias e vale também destacar a “encomendação das almas”, quando os moradores, em procissão, rezam pelas almas que se encontram no purgatório, com diversas missas, celebrações e vigílias. Um dos momentos mais aguardados nas comemorações em Barão de Cocais é a bênção dos fogos, no sábado de Aleluia, realizada no Santuário de São João Batista. Também conhecida como “cerimônia da luz”, os fiéis renovam seus votos e promessas do batismo.

 

Já em Santa Bárbara, o grande destaque das comemorações da semana santa é a encenação da Paixão e morte de Cristo, conhecida como Os passos da agonia, realizada pelo Grupo de Teatro Âncora há mais de 40 anos. As apresentações se iniciam na quinta-feira santa, e são realizadas em frente à Igreja Matriz de Santo Antônio, no Centro Histórico. Na cidade, as missas são em todas as igrejas locais. A procissão de Ramos é uma das atividades mais importantes para os moradores de Catas Altas, assim como a comemoração da Ressurreição de Jesus Cristo no domingo de Páscoa. A porta da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição é ponto-chave das encenações, que seguem pela madrugada. As missas e via-sacra no Santuário do Caraça também merecem ser acompanhadas pelos visitantes. 

 

Patrimônio  festivo

Patrimônio da humanidade, Diamantina celebra a vida e morte de Jesus Cristo pelas ruas e ladeiras históricas(foto: José Leônidas/Divulgação)
Patrimônio da humanidade, Diamantina celebra a vida e morte de Jesus Cristo pelas ruas e ladeiras históricas (foto: José Leônidas/Divulgação)
 


As cerimônias da semana santa em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, a 292 quilômetros de BH, são marcadas pela devoção popular, tradição dos atos solenes e presença da guarda romana, que, de tão importante na história da cidade, foi registrada como bem imaterial do patrimônio local. Vale a pena viajar à terra de JK e Chica da Silva para ver o grupo portando escudos e batendo as alabardas (arma antiga composta por uma longa haste) no chão, gerando um som que rompe o silêncio da noite. Na via-sacra, com encenação da Paixão de Cristo nas ruas, os mais de 50 soldados, fazendo o papel de guarda romana, acompanham Jesus nas cerimônias da condenação, enterro e ressurreição.

Reconhecida como patrimônio cultural da humanidade, Diamantina tem muitas atrações para os visitantes, como o antigo mercado, as igrejas, o passadiço da Glória, os sobrados surgidos na época da mineração do diamante e distritos com um passado muito rico de histórias. Portanto, do domingo de Ramos ao de Páscoa haverá tempo suficiente para conhecer lugares que encantam. A queima do Judas é outro atrativo.


Obra-prima

Em 1985, os passos da paixão passaram a ser patrimônio mundial da Unesco(foto: Daniel Silva/Divulgação)
Em 1985, os passos da paixão passaram a ser patrimônio mundial da Unesco (foto: Daniel Silva/Divulgação)


Nesta época do ano, centenas de turistas visitam a histórica cidade de Congonhas, que integra o Circuito do Ouro, para ver de perto as obras de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730-1814), maior artista brasileiro de todos os tempos. Ele deixou, no alto de um dos morros de Congonhas, a 89 quilômetros de Belo Horizonte, sua obra-prima: os passos da paixão de Cristo. Por três anos, entre 1º de agosto de 1796 e 31 de dezembro de 1799, ele executou, ao lado de ajudantes de seu ateliê, as 66 figuras em cedro instaladas em grupos: ceia, horto, prisão, flagelação, coroação de espinhos, cruz às costas e crucificação. Bem ao lado se encontra o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, que, mesmo em reformas, é cenário único com os profetas esculpidos em pedra-sabão. Em Ouro Branco, a celebração é marcada pela presença das comunidades rurais, sermões, confissões na casa paroquial e na realização da santa missa. Na quinta-feira santa é realizada uma vigília pascal, com a cerimônia do lava-pés e a tradicional transladação do Santíssimo Sacramento.

 

Ao lado de BH 

Sabará é a única cidade do país onde a vigília e a abertura do Santo Sepulcro ocorrem na véspera da sexta-feira da Paixão(foto: Jair Amaral/EM)
Sabará é a única cidade do país onde a vigília e a abertura do Santo Sepulcro ocorrem na véspera da sexta-feira da Paixão (foto: Jair Amaral/EM)
 

 

Em cidades tricentenárias da Região Metropolitana de Belo Horizonte, como Santa Luzia e Sabará, homens e mulheres mantêm vivos antigos costumes, como enfeitar as imagens de Nossa Senhora das Dores com rosas, e a de Nosso Senhor dos Passos com folhas de alecrim, manjericão e rosmaninho, perfumando com suavidade os templos dos séculos 18 e 19. Quem for a Santa Luzia poderá acompanhar as celebrações, que se iniciam no dia 25, com a procissão de ramos, às 18h, e terminam em 1º de abril, com a procissão da ressurreição, às 8h30.

Sabará guarda um momento muito especial para a tarde da quinta-feira santa (29). Às 15h, na Igreja de São Francisco, começa a cerimônia de abertura do santo sepulcro do Senhor morto. O ritual remonta ao século 18 e é considerado único no país, pois retrata a morte de Jesus na quinta-feira – na véspera, portanto, da sexta-feira da Paixão, quando os católicos relembram a crucificação e acompanham a procissão do enterro. A vigília começa logo depois do ritual e vai até a encenação da paixão de Cristo e procissão. Uma das explicações para o fato tão inusitado é que, nos tempos coloniais, a antiga vila tinha muitos escravos. Diz a história que eles trabalhavam na sexta-feira santa para tirar leite e, portanto, preferiam iniciar a vigília e fazer a abertura do sepulcro na véspera.

Outro momento especial em Sabará ocorrerá na sexta-feira da Paixão, às 4h. Trata-se da via-sacra da penitência, que sai da Igreja de São Francisco, chega ao Morro da Cruz e, depois, retorna ao ponto de origem, numa duração de cerca de três horas.

 

 

Grande encontro

O Ginásio do Mineirinho, em Belo Horizonte, se transforma em grande templo da fé, ao receber a Missa da Unidade na quinta-feira santa(foto: Jair Amaral/EM/)
O Ginásio do Mineirinho, em Belo Horizonte, se transforma em grande templo da fé, ao receber a Missa da Unidade na quinta-feira santa (foto: Jair Amaral/EM/)


A religiosidade se manifesta em Belo Horizonte na forma de um grande encontro. Unidos no desejo de renovação na fé católica, os belo-horizontinos se entregam à devoção com cânticos e louvores durante a celebração da Missa da Unidade, na quinta-feira santa, desde as 9h, no Ginásio do Mineirinho, na Região da Pampulha, declarada em 2016 patrimônio cultural da humanidade, título concedido pela Unesco.

Como já é tradicional na cidade, cada comunidade organiza caravanas para que todos os fiéis possam participar desse momento de fé e oração, que reúne milhares de pessoas todos os anos. Bispos, padres, seminaristas, jovens, instituições e cristãos se unem nesse importante momento, em que todo o clero arquidiocesano renova os votos sacerdotais e concelebra com o arcebispo metropolitano a Unidade do Povo de Deus em torno do sacramento da eucaristia, instituído por Jesus na última ceia. Durante a celebração, há a bênção dos santos óleos utilizados pelas paróquias da Arquidiocese de Belo Horizonte para a celebração dos sacramentos: batismo, crisma e unção dos enfermos. E a Praça da Liberdade, cartão-postal da capital mineira, será palco da encenação da via-sacra. Os passos da Paixão são o momento de meditação diante da dor e sofrimento. Em seguida, uma procissão luminosa seguirá até a Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem, no Centro da cidade.  

 

Encontro com a fé 

O momento de maior emoção em São João del-Rei ocorre na sexta-feira da Paixão, com cerimônia em frente à Igreja das Mercês(foto: Emmanuel Pinheiro/EM)
O momento de maior emoção em São João del-Rei ocorre na sexta-feira da Paixão, com cerimônia em frente à Igreja das Mercês (foto: Emmanuel Pinheiro/EM)
 

 

Fé, cânticos em latim e ritos que atravessam os séculos, sem perder as tradições e a devoção popular. Em São João del-Rei e Tiradentes, na Região do Campo das Vertentes, a semana santa é um período de reflexão e também de muita beleza, com missas solenes acompanhadas por 25 padres, corais, orquestras e integrantes das irmandades religiosas nascidas no século 18. Entre os eventos estão a procissão do encontro, a cerimônia do lava-pés, a encenação da crucificação e morte de Jesus, o descendimento da cruz e a ressurreição. Além das missas e encenações, as ruas do Centro Histórico são enfeitadas com detalhado tapete de serragem, que é confeccionado pelos moradores e visitantes. Para quem nunca esteve na cidade, vale a pena participar do ofício das trevas, que ocorrerá na catedral nos dias 28 (quarta), 30 (sexta-feira) e 31 (sábado) com a presença da Orquestra Ribeiro Bastos e do Coral Gregoriano da Associação dos Coroinhas de Dom Bosco da Catedral. O ofício das trevas nunca foi interrompido em São João del-Rei.

Tradição secular

 

Os passos da paixão (foto: Fábio Aquino/Divulgação)
Os passos da paixão (foto: Fábio Aquino/Divulgação)
Na vizinha Tiradentes, distante 15 quilômetros de São João del-Rei, os visitantes vão encontrar muitas cerimônias que remontam igualmente aos tempos coloniais e têm como ponto de partida ou chegada a Matriz de Santo Antônio, no Centro Histórico. A charmosa localidade mineira ostenta uma semana santa com tradições de três séculos. As celebrações duram 19 dias. Tudo começa com a viasacra, amanhã, e termina no Domingo de Páscoa (1º de abril), com a procissão do Santíssimo Sacramento pelas ruas do Centro Histórico. Os passos, pequenos altares construídos no século 18, ficam fechados durante a maior parte do ano, mas abrem suas portas durante as procissões de Ramos e das Dores. Um dos eventos mais movimentados é a missa solene na igreja matriz, na quinta-feira, quando ocorre a cerimônia do lava-pés. No domingo de Páscoa, os moradores decoram suas janelas com toalhas bordadas, que mudam a paisagem da cidade. 


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