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Estado de Minas

1001 LUGARES PRA SE VIVER: ilha de Kizhi, em Petrozavodsk, na Rússia

O sítio histórico de Kizhi, do século 18, patrimônio cultural da Rússia, também é listado pela Unesco


01/03/2018 18:15 - atualizado 02/04/2018 14:39

Ilha de Kizhi, Igreja da Transfiguração, Torre do Sino e Igreja da Intercessão(foto: Visit Saint-Petersburg/Divulgação)
Ilha de Kizhi, Igreja da Transfiguração, Torre do Sino e Igreja da Intercessão (foto: Visit Saint-Petersburg/Divulgação)
 

 

Suspenso sobre o Lago Onega, quase evitando tocar a superfície, o barco ataca os 68 quilômetros que separam a ilha de Kizhi de Petrozavodsk, capital da República da Karelia, que, em tradução livre, significa “a fábrica de Pedro, o Grande”. Esta poderia ser uma entre outras 1.650 ilhotas que brotam do Lago Onega, formado por glaciares e alimentado por mais de meia centena de rios, cuja superfície se esparrama por 9.700 quilômetros quadrados (km²), rompendo os territórios das Repúblicas da Karelia, Leningrado Oblast e Vologda Oblast, na porção Noroeste da Rússia.

Mas, com 5km² , Kizhi não é apenas mais uma entre milhares que emergem desse gigante , na bacia do Báltico. Em que pese suas margens orientais esconderem cerca de 1.200 petróglifos, registros esculpidos nas rochas entre o 4º e o 2º milênios a.C.; 83 monumentos em madeira – entre os quais igrejas, capelas, moinhos de vento, casas com os seus celeiros e espaços conjugados para a secagem de grãos – erigidos entre os séculos 15 e 20, expõem a céu aberto a Reserva do Museu Kizhi.

À medida que o hidrofólio flutua sobre o mar de água doce e aproxima-se de Kizhi, uma escalada de 30 delicadas cúpulas se anuncia no horizonte. Reluzem. Lentamente, a ilha se revela, sobre ela pairando, em primeiro plano, a magnífica Igreja da Transfiguração (1714), separada, pela torre do sino (1784), da Igreja da Intercessão (1764). Uma cerca em pedra aparta simbolicamente esse espaço “sagrado” do exterior mundano, neste que constitui o sítio histórico de Kizhi Pogost, do século 18, patrimônio cultural da Rússia, também listado pela Unesco. A obra funde-se em harmonia com a paisagem natural do Lago Onega e a vegetação da ilha, protegida por estreito cinto de florestas, mas, em seu interior, tomada pela pradaria permeada por arbustos e pântanos.

A ousadia do trabalho de carpintaria Kizhi Pogost – de longe o mais espetacular do gênero na Rússia de tradicionais edificações em madeira – torna o conjunto arquitetônico único. Enquanto a igreja menor, da Intercessão, com oito cúpulas, foi desenhada para conter o calor e, por isso, destinada ao inverno rigoroso que impõe aos termômetros sem dificuldade a marca negativa de 30 graus, sobre um antigo cemitério, a Igreja da Transfiguração, maior, era utilizada no verão. Esta eleva-se a 37 metros de altura, pelo encaixe de três mil toras , que, sem o uso de pregos, resistem aos séculos. Numa explosão de cúpulas, os seus 22 domos, que ascendem em ordem crescente em altura e dimensão, carregam mais de três dezenas de milhares de telhas de madeira, que refletem a luz à semelhança de metal. Esculpida com o uso de uma única ferramenta, conta a lenda que o autor da obra, um carpinteiro chamado Nestor, ao encaixar a última peça lançou o machado ao lago, declarando nunca ter jamais existido nem jamais existiria um trabalho do gênero.

Há quem diga que Kizhi Pogost, mais especificamente a Igreja da Transfiguração, um dos sítios mais emblemáticos da Rússia, constitua a oitava maravilha do mundo. Ela foi construída para celebrar a vitória de Pedro, o Grande, na Grande Guerra do Norte (1682-1725), sobre a Suécia, quando a Karelia e a Íngria foram reincorporadas ao território russo, além de Reval (hoje Tallin) e Livônia (atuais Letônia e Estônia), abrindo o acesso ao Báltico e ao comércio marítimo. Nascia um Império.

Foi uma época em que a população rural era empurrada pelo governo para os projetos e plantas de mineração e fundição de metais destinados às fábricas de arma. A eventual desobediência ao trabalho forçado, que envolvia inclusive corte de florestas para carvoaria, era punida com espancamentos públicos e pesadas multas, que geraram revoltas. A maior delas estendeu-se entre 1769 e 1771 e ficou conhecida como o Levante de Kizhi. Comandada de Kizhi Pogost – o centro eclesiástico do povoado –, rapidamente a adesão alcançou 40 mil. Mas os camponeses foram massacrados pela artilharia imperial e líderes exilados na Sibéria. Nesta ilha única, o impressionante complexo arquitetônico, atualmente em restauração, anuncia ao mundo a origem de seu nome e a sua história, ao mesmo tempo em que celebra a genialidade da arte na madeira.

 

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