Cúpulas arredondadas e cônicas, douradas e verdes brotam no topo de brancas paredes. Anunciam-se a distância, plainando às margens do Rio Kostroma, na esquina do encontro de suas águas com o majestoso Volga. Coroam a Catedral da Santíssima Trindade, a Catedral da Natividade da Virgem, a Torre dos Sinos, o Claustro dos Arcebispos e o Portal da Igreja de São Crisanto e Daria, que integram o complexo do Mosteiro Ipatiev. Encerrado entre muralhas, é guardado por nove torres, entre as quais dois grandes portais, que um dia defenderam o território de invasões tártaras e polacas.
Badalam os sinos dessa fortaleza, que tão bem expressa a dimensão da igreja militar em comunhão para a fundação do estado. Silêncio e reverência habitam o oásis interno, que se desenha em jardins de flores e árvores que separam as edificações desse conjunto arquitetônico, que acalenta séculos de história. É o espaço do sagrado, em russo, “Svyatynya”.
No Mosteiro Ipatiev, o historiador Nikolái Karamzín, que, em 1803, lançou a monumental obra História do estado russo, descobriu o Códice de Ipátiev – ou Primeira crônica – pormenorizada interpretação da formação política do povo eslavo oriental, entre os séculos 9 e 12, em Kiev, que se manteve desconhecida por cerca de 700 anos. Atribuída em princípio a Nestor, um monge do Monastério de Kiev-Petchersk, morto por volta de 1115, a crônica relata a história da Rússia desde o dilúvio bíblico até o ano de 1111. Entre diversas passagens polêmicas está a descrição e o papel do viking Rurik e de seus guerreiros para a consolidação da ordem na região.
Segundo uma das versões mais difundidas, o Monastério Ipatiev teria sido fundado em 1330 pelo tártaro Murza Chet.
Foi graças à família Godunov, que era descendente do tártaro Chet, fundador do Mosteiro de Ipatiev, que a partir do século 16 este adquiriu importância singular na vida espiritual e política da Rússia. Boris Godunov ascendeu ao trono após a morte, em 1598, de Fyodor Rurikids, filho de Ivan, o Terrível. Godunov era membro da corte de Ivan e já estava à frente de muitos dos negócios do Estado. Tornou-se regente (1585-1598) e depois czar, até a sua morte, em 1605, período em que perseguiu a família Romanov, que ameaçava a sua posição porque esta tinha parentesco com Ivan, o Terrível. A família de Godunov fez grandes investimentos no Mosteiro de Ipatiev, tendo erigido a Catedral da Santíssima Trindade entre 1558 e 1559 e a Igreja da Natividade da Virgem entre 1559 e 1564.
Em diferentes períodos dos séculos seguintes foram erigidas as edificações do complexo, que abriga impressionante acervo artístico, como os mais de 80 afrescos dos pintores da escola de Kostroma, do século 17, que integram a Catedral da Santíssima Trindade. São únicos pela sua composição e diversidade dos temas, considerados uma das mais importantes obras da pintura antiga russa. Outro de seus tesouros é a coleção de ícones pintados entre 1654 e 1656 por Vasily Zapokrovsky, Semen Pavlov e Serguei Rojkov.
Com a morte de Godunov, iniciou-se o período de muitos problemas para a Rússia. Atacada pelos poloneses, dilacerada internamente pela disputa interna pelo trono, em 21 de fevereiro de 1613, Mikhail Romanov, que estavam refugiado com sua mãe no Monastério Ipatiev, foi eleito czar pela Assembleia Nacional em Moscou, por unanimidade. Nascia ali, no Monastério de Ipatiev, o fundador da dinastia Romanov. Por ironia da história, 300 anos depois, seria justamente na casa, a 1.500 quilômetros dali, em Ecaterimburgo, na porção Oriental dos Montes Urais, que também chamava-se Casa “Ipatiev”, que seria encerrado esse período histórico e, com ele, o Império Russo, alcançado em 1917 pela Grande Revolução Socialista.
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