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Estado de Minas 1001 lugares para se viver

Patrimônio da humanidade, a Capadócia é lugar único no planeta

Da obra natural na Turquia emergem formações geológicas que, em tons cambiantes entre o bege, o rosa-pálido e o amarelo-palha, o capricho da luminosidade desenha 'chaminés de fadas'


03/04/2017 14:00 - atualizado 03/04/2017 17:03

(foto: Tatiana Popova/Divulgação)
(foto: Tatiana Popova/Divulgação)
Os dois gigantes extintos sob os montes Argeu e Hassan, assentados sobre placas tectônicas convergentes, acolhem a impressionante paisagem forjada há 30 milhões de anos, na região turca da Anatólia Central. São cenários exuberantes, esculpidos por extensos 300 quilômetros quadrados a partir das cinzas vulcânicas solidificadas nas chamadas tufas e do derramamento de rochas basálticas mais resistentes. De fácil erosão, as primeiras foram moldadas pelo incessante trabalho do vento, da chuva e da variação de temperaturas extremas. Deram origem a desfiladeiros e vales escarpados.


Da obra natural também emergem formações geológicas que, em tons cambiantes entre o bege, o rosa-pálido e o amarelo-palha, o capricho da luminosidade desenha “chaminés de fadas”. Aliás, florestas delas, algumas alcançando até 40 metros, aglomeradas em vales de horizontes perdidos. Teriam ali, sob a terra, vivido essas criaturas mágicas, como parecem ter acreditado os primeiros habitantes da Capadócia? De diferentes perspectivas, do alto dos imprevisíveis e intrépidos balões de gás, que dançam ao som das ventanias, ou da terra firme, novos e insólitos desenhos se desvendam na paisagem: “cogumelos”, “pedestais”, formações alongadas espalhadas pelo “Vale do Amor”. O cenário está em constante transformação: a erosão é mais notável na superfície dos cones de tufa calcária, em contraposição à parte superior dessas elevações – as tampas – de rocha basáltica, mais resistente ao efeito abrasivo. Com a continuação do efeito da erosão, os pedestais dos blocos basálticos acabam por se colapsar e novos cones se formam.

A céu aberto no Museu Nacional de Göreme e pelo sítios rochosos da Capadócia há muito mais do que paisagens magníficas. Guardam histórias já conhecidas, segredos ainda não revelados e, seguramente, inúmeros dramas de povos que se fixaram nessa terra, que tombou sob sucessivos domínios: dos assírios no 3º milênio a.C.; dos hititas (1750-700 a.C.); do reino da Lídia, satrápia do Império Persa no século 4 a.C.; até ser conquistada por Alexandre, o Grande e, na sequência, a partir do ano 17 d.C. ao ano de 395, ter integrado o Império Romano. A partir da divisão deste, a Capadócia foi mantida sob o domínio do Império Romano do Oriente, período Bizantino que se estendeu de 397 a 1071. Houve ainda a dominação do Império Seljúcida, que se estendia das estepes czares da Ásia Central ao território da atual Turquia e Palestina – povo nômade, de religião islâmica sunita. A esses seguiu a dominação turco-otomana, império que se esfacelou na Primeira Guerra Mundial.

A Capadócia, patrimônio da humanidade, é o caldeirão dessa herança de dominações. O vasto legado é, sobretudo, marcado pela migração lenta, das cidades para a região, de cristãos perseguidos já a partir do século 1. Encontraram nesse território próximo Antióquia – atual Antakya, onde São Pedro fundou a primeira comunidade cristã –, terreno fértil para a expansão da própria fé. Referência para a vida monástica cristã, na Capadócia nasceram, entre os séculos 2 e 5, vários teólogos e santos, entre eles São Mamede, São Basílio Magno e Gregório de Níssa.

Escavando as próprias moradias e complexos de santuários, os cristãos buscaram abrigo na maciez das tufas, moldando nas rochas considerável legado de igrejas paleocristãs, com variedade de formas: basilicais, de planta octogonal e de cruz livre ou inscrita. Os cristãos também buscaram proteção em cidades subterrâneas. Estima-se que existam dezenas ainda por explorar. Entre as 36 já conhecidas, Derinkuyu, que significa Poço Fundo, onde possivelmente viveram em momentos de perseguições e ameaças de invasores 20 mil pessoas. Enterrada em vida, essa comunidade cristã se distribuía em oito andares, que baixavam a 65 metros de profundidade. Na escuridão dos túneis estocavam os seus alimentos, mantinham estábulos, produziam vinho, reservavam os espaços à privacidade de seus quartos e sala de refeição, até baixar ao último nível. Ali uma igreja foi esculpida na rocha em formato de cruz, testemunha não só dos mártires que perderam a vida e entraram para a história, mas igualmente de tantos outros que entregaram-na anonimamente, assim permanecendo na eternidade.

 

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