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Descubra um outro lado da histórica Diamantina

Diamantina pode ser muito interessante quando se decide lançar um olhar mais atento para captar sons, cheiros e emoções que só se sentem com o coração

Pedro Antunes/Estadão Conteúdo
Mercado Municipal se tornou o point nas manhãs de sábado, atraindo gente de todos os lugares - Foto: Elizabeth Colares/EM/D.A Press

Diamantina – Deixe um pouquinho de lado os monumentos históricos e culturais pelos quais Diamantina é conhecida. Esqueça um pouco os atrativos turísticos como a casa onde JK morou, a casa da Chica da Silva, serestas, tropeiros, escravos, Vesperata e outros tantos que a cidade oferece. Deixe Diamantina apenas ser Diamantina, a terra do artesanato e de gente simples e hospitaleira, e curta o outro lado não menos interessante. Pelo contrário, um lado que desperta paixão e até perplexidade, como uma visita ao mercado num sábado de manhã. Ali, você sentirá um pouco da energia que paira sobre a cidade.

A começar pela mistura de ofertas, que vão desde o artesanato, passando por comidas, quitandas e bebidas, a produtos da roça, como hortaliças, legumes, doces, cachaças e galinhas vivas e abatidas. Isso, fora as manifestações culturais, que ocorrem tanto dentro da edificação – linda, por sinal – quanto no largo do lado de fora. É comum passear entre as bancas e, de repente, se deparar com uma apresentação de coral ou um sambinha que embala a cervejada, que ali começa é cedo mesmo.

Num desses momentos de sorte, um grupo de crianças do Coral Ribeirão de Areia começou a entoar várias canções, destacando a poesia, que parece ser uma coisa nata na cidade. E não é que eles prenderam a atenção das centenas de pessoas que se espremiam no mercado para vê-las mais de perto? Cantando desde músicas de seresta, como Peixe vivo – de Milton Nascimento e uma das preferidas do ex-presidente Juscelino Kubitschek, e que virou quase um hino da cidade – a rock e clássicos da MPB.

Mais adiante, um grupo desfilava seu sambinha ao som de tamborins, pandeiros e outros instrumentos pertinentes, provocando os pezinhos mais afoitos, que arriscaram passos no meio do mercado.
Em uma banca, um vendedor exibia suas galinhas caipiras abatidas, garantindo serem as melhores do pedaço. Ao fundo, bancas ofereciam pastéis, bolos, biscoitos, queijos e outras guloseimas para acompanhar o café de quem preferiu fazer o desjejum ao ar livre. Tudo isso misturado ao artesanato tradicional e a bancas de frutas e verduras.

Fernanda contou que sai da zona rural onde mora, que pertence a Várzea da Palma, a cerca de 20 quilômetros de Diamantina, todos os sábados, para levar verduras e frutas. Quando um freguês elogia a beleza de seus produtos e fala que gosta muito de tal alimento, ela ainda o convida a degustar, se quiser, em sua casa. “Faço para você, já que gosta tanto”, diz, em sua simplicidade. Aliás, é assim com o povo da região. Todos abertos para receber bem o visitante.

Do lado de fora do mercado, o burburinho continua, com todo tipo de manifestação. Artesãos, fabricantes de cervejas artesanais, sorveteiros, pipoqueiros, músicos, poetas. Um 'retratista', que usa aquelas máquinas antigas e que explodem quando disparadas, fazia sucesso em meio à meninada. Enfim, pessoas de todas as idades, vindas de todos os cantos, para simplesmente passar uma manhã agradável e diferente em um dos cartões-postais mais cobiçados de Diamantina.

MÚSICA Grupo de pessoas simples, de uma pequena comunidade rural do município de Jenipapo de Minas, a cerca de 600 quilômetros da capital, que espalha canto e encantamento por onde passa, o Coral Ribeirão de Areia foi fundado em março de 2011. É fruto de um trabalho desenvolvido pela Associação Jenipapense de Assistência à Infância (Ajenai). Mantém média de 25 participantes, com idades entre 8 e 35 anos, que cantam músicas de MPB, mas principalmente regionais, em que ressaltam a riqueza, mas também as dificuldades da terra. São crianças, adolescentes, jovens e algumas mães que acabaram se integrando ao coro.

Segundo a coordenadora geral da Ajenai e responsável pelo trabalho com o coral, Elisângela Pedroso Lopes, um dos principais resultados que se percebe é o resgate da autoestima dos meninos.
“Eles ficam mais confiantes e orgulhosos por saber cantar e tocar instrumentos”, diz a coordenadora, acrescentando que eles têm aulas de canto e de instrumentos, separadamente, uma vez por semana, além de expressão corporal. E costumam se apresentar nas comunidades ao redor de Jenipapo.

Em Diamantina pela primeira vez no último dia 8, o coral estava lançando oficialmente um CD gravado com recursos da Secretaria de Cultura do estado, entre outras instituições. A apresentação foi à noite, no Teatro Santa Isabel. O convite foi feito à população que se encontrava no Mercado Municipal no mesmo dia de manhã, razão da apresentação-relâmpago no local e que emocionou os presentes. “A apresentação no teatro foi linda e emocionante. Foi um presente para eles, que se dedicam há um bom tempo ao grupo”, disse, depois, por telefone, Elisângela. O grupo vem participando também de festivais, como o Internacional de Corais, realizado em BH, e, pela terceira vez, do Festivale, ocorrido no dia 15. Além do coral, a Ajenai desenvolve diversos trabalhos de cunho artístico, todos com o objetivo de promover a integração e o desenvolvimento da comunidade..