Diamantina – Deixe um pouquinho de lado os monumentos históricos e culturais pelos quais Diamantina é conhecida. Esqueça um pouco os atrativos turísticos como a casa onde JK morou, a casa da Chica da Silva, serestas, tropeiros, escravos, Vesperata e outros tantos que a cidade oferece. Deixe Diamantina apenas ser Diamantina, a terra do artesanato e de gente simples e hospitaleira, e curta o outro lado não menos interessante. Pelo contrário, um lado que desperta paixão e até perplexidade, como uma visita ao mercado num sábado de manhã. Ali, você sentirá um pouco da energia que paira sobre a cidade.
A começar pela mistura de ofertas, que vão desde o artesanato, passando por comidas, quitandas e bebidas, a produtos da roça, como hortaliças, legumes, doces, cachaças e galinhas vivas e abatidas. Isso, fora as manifestações culturais, que ocorrem tanto dentro da edificação – linda, por sinal – quanto no largo do lado de fora. É comum passear entre as bancas e, de repente, se deparar com uma apresentação de coral ou um sambinha que embala a cervejada, que ali começa é cedo mesmo.
Num desses momentos de sorte, um grupo de crianças do Coral Ribeirão de Areia começou a entoar várias canções, destacando a poesia, que parece ser uma coisa nata na cidade. E não é que eles prenderam a atenção das centenas de pessoas que se espremiam no mercado para vê-las mais de perto? Cantando desde músicas de seresta, como Peixe vivo – de Milton Nascimento e uma das preferidas do ex-presidente Juscelino Kubitschek, e que virou quase um hino da cidade – a rock e clássicos da MPB.
Mais adiante, um grupo desfilava seu sambinha ao som de tamborins, pandeiros e outros instrumentos pertinentes, provocando os pezinhos mais afoitos, que arriscaram passos no meio do mercado.
Fernanda contou que sai da zona rural onde mora, que pertence a Várzea da Palma, a cerca de 20 quilômetros de Diamantina, todos os sábados, para levar verduras e frutas. Quando um freguês elogia a beleza de seus produtos e fala que gosta muito de tal alimento, ela ainda o convida a degustar, se quiser, em sua casa. “Faço para você, já que gosta tanto”, diz, em sua simplicidade. Aliás, é assim com o povo da região. Todos abertos para receber bem o visitante.
Do lado de fora do mercado, o burburinho continua, com todo tipo de manifestação. Artesãos, fabricantes de cervejas artesanais, sorveteiros, pipoqueiros, músicos, poetas. Um 'retratista', que usa aquelas máquinas antigas e que explodem quando disparadas, fazia sucesso em meio à meninada. Enfim, pessoas de todas as idades, vindas de todos os cantos, para simplesmente passar uma manhã agradável e diferente em um dos cartões-postais mais cobiçados de Diamantina.
MÚSICA Grupo de pessoas simples, de uma pequena comunidade rural do município de Jenipapo de Minas, a cerca de 600 quilômetros da capital, que espalha canto e encantamento por onde passa, o Coral Ribeirão de Areia foi fundado em março de 2011. É fruto de um trabalho desenvolvido pela Associação Jenipapense de Assistência à Infância (Ajenai). Mantém média de 25 participantes, com idades entre 8 e 35 anos, que cantam músicas de MPB, mas principalmente regionais, em que ressaltam a riqueza, mas também as dificuldades da terra. São crianças, adolescentes, jovens e algumas mães que acabaram se integrando ao coro.
Segundo a coordenadora geral da Ajenai e responsável pelo trabalho com o coral, Elisângela Pedroso Lopes, um dos principais resultados que se percebe é o resgate da autoestima dos meninos.
Em Diamantina pela primeira vez no último dia 8, o coral estava lançando oficialmente um CD gravado com recursos da Secretaria de Cultura do estado, entre outras instituições. A apresentação foi à noite, no Teatro Santa Isabel. O convite foi feito à população que se encontrava no Mercado Municipal no mesmo dia de manhã, razão da apresentação-relâmpago no local e que emocionou os presentes. “A apresentação no teatro foi linda e emocionante. Foi um presente para eles, que se dedicam há um bom tempo ao grupo”, disse, depois, por telefone, Elisângela. O grupo vem participando também de festivais, como o Internacional de Corais, realizado em BH, e, pela terceira vez, do Festivale, ocorrido no dia 15. Além do coral, a Ajenai desenvolve diversos trabalhos de cunho artístico, todos com o objetivo de promover a integração e o desenvolvimento da comunidade..