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Verdadeiro patrimônio

Riqueza da arquitetura colonial e legado deixado pela poetisa Cora Coralina fazem da Cidade de Goiás, primeira capital do estado, atrativo imperdível. Deixe o carro e curta o passeio a pé

Pedro Antunes/Estadão Conteúdo
Igreja de Nossa Senhora do Carmo guarda história de poder, riqueza e maldição - Foto: Marta Vieira/EM/D.A PRESS
A próxima parada em Pirenópolis não poderia deixar de ser a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, que abriga o Museu de Arte Sacra. O templo guarda história de poder, riqueza e maldição em torno da família dos responsáveis pela construção, em 1750, o minerador Luciano Nunes Teixeira e seu genro Antônio Rodrigues Frota.


Protegido da Coroa portuguesa, Frota fez fortuna explorando ouro em terras cortadas pelo Rio das Almas, e suas duas filhas decidiram esbanjar o poder que a mineração deu à família. Diz a lenda que, além de se vestir com o requinte que as rendas do pai permitiam, untavam os cabelos com ouro em pó para se exibir nas festas e missas. A ganância de Frota o levou a esconder ouro em garrafas enterradas pelos morros que cercavam suas propriedades. Para evitar que a riqueza fosse descoberta, costumava furar os olhos e cortar a língua dos escravos que retiravam e carregavam o ouro. A própria loucura sentenciou, no entanto, vida curta ao coronel.

Transformada em museu em 2009, a Igreja do Carmo exibe altares, as imagens de Nossa Senhora do Carmo e Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e da Boa Morte da Lapa, objetos de culto, sinos e altares. Demolida em 1944, a Igreja do Rosário dos Pretos deu lugar a um coreto bem próximo da Rua do Rosário, que foi transformada em recanto de restaurantes e bistrôs, entregue ao prazer da caminhada entre seu belo casario. O roteiro não pode desperdiçar as oportunidades de conhecer as construções coloniais da Igreja Nosso Senhor do Bonfim e da Fazenda Babilônia.

Casarão onde Cora Coralina viveu foi restaurado e adaptado para mostrar o valioso acervo da escritora - Foto: Marta Vieira/EM/D.A PRESSBERÇO DA POETISA Na Cidade de Goiás, antiga Goiás Velho, conheça as construções do município colonial tombado pela Unesco como patrimônio da humanidade.

Primeira capital do estado, batizada Vila Boa de Goiás, é como se ela conspirasse para que você deixe o carro e curta o passeio pelas ruas de pedra.

Como alguns municípios mineradores de Minas Gerais, com o fim do ciclo da exploração do ouro, Goiás Velho viveu o abandono e a população foi obrigada a buscar sustento na agropecuária. Novo desafio abalou o município na transferência da capital para Goiânia, nas décadas de 1930 e 1940. A riqueza da arquitetura colonial, para o bem da história, não se perdeu, assim como a herança deixada pela poetisa Cora Coralina.

Quer melhor definição do que as palavras de Carlos Drummond de Andrade sobre Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas? “...Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida! Aninha hoje não nos pertence. É patrimônio de nós todos, que nascemos no Brasil e amamos a poesia (...)", disse o poeta em carta endereçada a Cora Coralina, entre 1980 e 1983.

O cotidiano era a inspiração de Cora, que nasceu em agosto de 1889 e, já em 1903, escrevia poemas que a levaram a criar, com duas amigas, cinco anos mais tarde, o jornal A Rosa, de poemas escritos só por mulheres. Seu primeiro conto publicado foi Tragédia na roça, em 1910, no Anuário Histórico e Geográfico do Estado de Goiás. A liberdade não veio depois da fuga com o advogado divorciado Cantídio Tolentino Bretâs, com quem foi morar em Jaboticabal (interior de São Paulo) e teve seis filhos. O marido teria impedido que a mulher participasse, a convite de Monteiro Lobato, da Semana de Arte Moderna de 1922.

Cora se manteve firme à pena, mas só publicou o primeiro livro, O poema dos becos de Goiás e estórias mais, em 1965, e passou a ser conhecida nacionalmente quando Carlos Drummond de Andrade reconheceu o valor do trabalho dela. Principal atração da Cidade de Goiás, o Museu Casa de Cora Coralina é mantido pela Associação Casa de Cora Coralina. O casarão onde ela viveu foi restaurado e adaptado para mostrar o valioso acervo da poetisa. Livros, roupas, a caderneta de anotações e a máquina de escrever revelam grandes emoções de Cora e emocionam por meio de seus versos. Ela convida os visitantes a mergulharem no seu universo: “Sou o chão que se prende à tua casa”/”Sou a telha da coberta de teu lar”/”A mina constante de teu poço”. 

 

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