Uai Entretenimento

Os reais donos da floresta

Conhecer comunidades indígenas são opções nos arredores de Manaus

Oportunidade de estar em aldeia indígena é ímpar, mesmo eles já tendo sido acostumados à cultura dos brancos. No meio do caminho, visitantes contatam comunidades ribeirinhas, conhecendo um pouco mais da vida local

Francelle Marzano
Criança Kembaba: na aldeia há duas escolas com ensino regular e também com aulas sobre a cultura deste povo que chegou ao local há 25 anos - Foto: Francelle Marzano

As boas vindas são dadas com um pote de tinta vermelha, feita da semente de urucum, das mãos de um nativo, que pinta o rosto do turista para que ele sinta parte da aldeia. Depois do ritual, os visitantes se reúnem no galpão da igreja, onde escutam um pouco sobre a cultura dos Kambeba. A comunidade fica há 60 quilômetros de Manaus, às margens do Rio Cuieiras, afluente do Rio Negro, e o passeio até o local a partir do navio Iberostar Grand Amazon é feito de lancha. O objetivo é interagir com os índios, conhecer sua cultura, a casa de saúde, as escolas, as moradias, o artesanato e as plantas cultivadas no local.

Museu do Seringal vale a visita, onde o turista conhece a história do ciclo da borracha e os tempos áureos de Manaus - Foto: Francelle Marzano“Catuxis, xitumani. Bom dia, obrigada por estarem aqui, por nos visitarem e pela curiosidade em conhecer nossas tradições e nossa aldeia”, diz o professor indígena Tomé Cruz, que fala em nome da comunidade. Essas são as primeiras palavras que você vai ouvir ao chegar na aldeia dos índios Kambeba. Tomé conta que a tribo chegou ao local há 25 anos com quatro índios que começaram a formar suas famílias. Hoje, o número de residentes ali saltou para quase 80.
Ele e outros integrantes da aldeia têm orgulho em mostrar aos turistas as tradições Kambeba, como os cantos e as danças. No local, há duas escolas, uma de ensino infantil, de responsabilidade do governo do Amazonas, e outra mantida pela iniciativa privada, com ensino fundamental e médio. Duas empresas apoiam o projeto: Samsung e Bradesco. O estudante só precisa sair dali para ir à universidade.

“Seguimos todo o cronograma proposto pelo Ministério da Educação, com os mesmos livros e conteúdos, acrescido do ensinamento de nossas tradições. Ninguém da comunidade precisa sair daqui para estudar”, fala com orgulho o professor. A escola tem infraestrutura completa, com sala de informática, biblioteca, internet, toda tecnologia disponibilizada pela Samsung e recebe alunos de outras comunidades ribeirinhas. O transporte escolar é feito por barcos. A visita à comunidade termina em uma feira de artesanato, onde produtos feitos por um grupo de mulheres Kambeba são comercializados. Cada família é responsável por sua banca, onde encontramos arco e flecha, miniaturas do boto-rosa feitas em madeira, bonecas e outros artigos. Os preços variam entre R$ 5 e R$ 20 e o dinheiro é empregado no sustento das famílias.

Artesanato feito pelos índios Kembaba: muita cor e madeira em instrumento e utensílios domésticos - Foto: Francelle MarzanoMuseu do Seringal e encontro das águas

Para fechar o passeio com chave de ouro, não deixe de comer a melhor tapioca que você vai provar na vida, na comunidade de caboclos, às margens do Rio Negro. A farinha de mandioca é produzida ali mesmo e cozida em fogão a lenha, na panela de ferro, preparada pela dona Neide. Manteiga e castanha do Amazonas são os únicos ingredientes que se misturam à farinha bem branca e o resultado é de deixar qualquer um de queixo caído. Se puder e gostar, traga um pacote da iguaria.

Logo depois, o grupo segue para o Museu do Seringal, uma das tomadas da gravação do filme A selva, uma adaptação do romance de Ferreira Castro, e depois transformado em atrativo turístico.
O museu transporta o turista para uma verdadeira imersão na história do ciclo da borracha, a era da riqueza de Manaus, nos anos de 1910 a 1920. No local é possível observar as famosas seringueiras, a casa do barão e a vista que se tinha do rio a partir dali. E também o armazém e o barracão dos seringueiros, onde eles eram mantidos como escravos, sem nunca conseguir pagar a dívida que contraíam com o barão.

O espetáculo final da viagem fica por conta do encontro das águas dos rios Negro e Solimões e ocorre bem cedinho, na sexta-feira, antes mesmo que você possa tomar o café da manhã. O relógio marca entre 5h45 e 6h, quando as águas escuras do Negro correm ao lado das barrentas do Solimões, que só se misturam cerca de sete quilômetros depois, formando o Rio Amazonas. De acordo com o guia Edson Piro, o fenômeno acontece porque os rios têm velocidades, acidez, temperaturas e densidades diferentes, o que dificulta que eles se misturem de imediato. A visão a partir do deque do navio é brindada com o nascer do sol.

Nas paradas, é possível conhecer de perto o modo de vida das comunidades ribeirinhas, como a dos caboclos. Não deixe de provar a tapioca - Foto: Francelle Marzano

* A repórter viajou a convite da rede Iberostar.