Na Ilha de Boipeba, onde todo mundo quer negociar uma embarcação para chegar às piscinas de Moreré, os barqueiros são enfáticos em dizer: “As de Castelhanos e as de Bainema são ainda mais bonitas”. Quem vai discutir com quem tem o privilégio de aproveitar esses maravilhosos fenômenos da maré baixa com frequência? E a gente, que já está achando tudo lindo, logo começa a planejar como chegar ao “paraíso”. Nem sempre é fácil. Ainda bem.
Castelhanos só pode ser acessada de barco ou por trilha, com guias locais. Nada nesses lugares é 100% “por terra”: é preciso contar com uma canoa para atravessar o mangue.
Da foz do Rio Jaguaripe à Baía de Camamu, a Costa do Dendê é um mosaico de praias, baías, manguezais, costões rochosos, restingas, nascentes, lagoas, rios, cachoeiras e estuários. Seus 115 quilômetros de litoral abrangem as localidades de Valença, Morro de São Paulo, Boipeba, Igrapiúna, Cairu, Camamu, Taperoá, Nilo Peçanha, Ituberá e Maraú. A primeira é um dos pontos de chegada e partida mais inteligentes, principalmente para os mineiros, pois desfrutam de um voo direto desde BH.
Morro é a mais badalada, e talvez por isso mesmo uma das menos interessantes. Pelo menos para quem busca a verdadeira essência deste paraíso: tranquilidade. Vá se estiver à procura de agito, lojinhas, restaurantes e muitos, muitos garçons disputando você. E se não se importar com multidões de turistas. Também é a forma mais fácil de conhecer Garapuá, uma enseada em forma de ferradura que pode ser reconhecida do avião e tem piscinas lindíssimas. Caso contrário, fique logo na Ilha de Boipeba: é lá que estão alguns dos principais “passeios” oferecidos em Morro. Se tiver mobilidade reduzida, nenhuma delas é um bom destino. Nem em Morro, nem em Boipeba circulam carros. Mas as duas ilhas, a meia hora de Valença de lancha rápida, são o oposto uma da outra. Se Morro é agito, Boipeba é pura paz.
Conhecer toda a ilha só é possível combinando passeios de barco e muita caminhada. A praia da vila, Boca da Barra, concentra a maioria de barracas e restaurantes. E é por onde todo mundo chega e sai. Em uma caminhada de meia hora, por uma trilha em meio à mata virgem, é possível acessar a praia de Tassimirim, onde há piscinas e muitos corais. Mais 20 minutinhos e chega-se a Cueira, que só não é uma praia deserta com um coqueiral contíguo porque abriga um dos restaurantes mais prestigiados da região: o Guido. Lá, o dono, de mesmo nome, prepara lagostas em um fogão a lenha fincado na areia, no meio dos clientes, que o rodeiam para ver a facilidade com que abre e limpa o valorizado crustáceo. Ele sugere a lagosta na manteiga, fora da casca.
MORERÉ Mas é depois de Cueira que está a melhor parte de Boipeba: as praias, a vila e as piscinas de Moreré. O fim de tarde é marcado pela “pelada” na areia. A maré seca tanto que os barcos ficam encalhados. Vai por mim: se você não liga de comer mais de uma vez no mesmo lugar, hospede-se logo por lá. A estrutura é quase nenhuma, e talvez seja isso que faça de Moreré tão especial. Você estará no dia a dia de uma vila de pescadores onde não pega celular e às 9h da noite não há alma viva na praia (a não ser no verão, quando um forró mistura gringos, turistas e locais). Para chegar ali, só caminhando pela praia na maré baixa (porque é preciso atravessar um rio) ou pelo trator que faz a linha Moreré/Vila de Boipeba. Os passeios de barco, geralmente, vão apenas às piscinas.
As piscinas naturais de Moreré e a Ponta de Castelhanos fazem parte de um passeio de barco vendido em Boipeba como Volta à Ilha, quando se passa ainda na Cova da Onça, uma outra vilazinha da ilha que concentra restaurantes especializados em lagostas. Não é difícil contratar uma lancha rápida para fazer um passeio privado a esses pontos principais. Se tiver com mais pessoas, a exclusividade pode compensar o preço. No final da manhã as piscinas estarão lotadas pelos turistas que chegam de Morro para passar o dia. Nem sempre eles pegam a piscina em suas melhores condições para banho. É que por lá as agências não estão muito preocupados se a maré vai estar seca ou não. Na maré alta, essas praias são apenas praias, belíssimas, claro.
VAI DAR PISCINA? Quer “pegar” piscina natural nas férias? Então, a primeira coisa que você precisa olhar é a tábua das mares. Caso contrário, você corre o risco de nem sequer ver as piscinas, ou de cair na lábia dos vendedores de passeios. Uma piscina natural só é uma piscina natural quando a maré está baixa, ou seca. É esse fenômeno que permite formar, mesmo em alto-mar, uma piscina cheia de peixinhos e água transparente. A intensidade do sol também será determinante para isso. Então, piscina boa, que vale a pena pagar pelo passeio, exige maré baixa e sol. Essa é a primeira lição. A segunda é: a melhor época para curtir as piscinas é nas luas nova, principalmente, e depois cheia. É nessa época que é possível pegar a maré mais baixa no início da manhã, garantindo a melhor incidência dos raios solares. No site Viaje na Viagem, Ricardo Freire dá uma verdadeira aula de como consultar a tábua das marés. Depois disso, você nunca mais irá para a praia sem conferir a ferramenta. Faz “toooooda” a diferença..