Entre os quilombos, uma maneira de contar a história e até mesmo de brincar com ela é por meio da música. Versos divertidos e reveladores transitam de um lado para o outro, numa resposta a alguma provocação. E, assim, numa festa, no desenvolvimento de um trabalho, na lavação de roupa, tudo é envolvido pela cantiga. “Vilão santim/vilão santim/toma conta do meu jardim/vilão santim. Eu também tô procurando/quem toma conta de mim/vilão santim”, cantou a garotada da Escola Municipal Padre Sacramento, da comunidade de Santiago, na Região do Alagadiço, a uma hora e 20 minutos de Minas Novas ao recepcionar um grupo de visitantes, com a apresentação Vilão.
Por sua vez, as fiandeiras e artesãs de Córrego do Rocha, em Chapada do Norte, entoam animados versos enquanto preparam o algodão para tecer inúmeras peças artesanais: “Chora bananeira/bananeira chora/chora bananeira/adeus, eu vou embora. Eu joguei água pra cima/aparei com a caneca/menininha bonitinha/cinturinha de boneca”. Mais adiante, na comunidade de Quilombo, a marujada reúne desde os mais antigos aos mais novinhos em torno da dança e da música. Flauta, violão e tambor não podem faltar.
Quem é mais religioso, certamente, vai se emocionar com a oração cantada, que reúne homens, mulheres e crianças em uma só fé.
HOSPEDAGEM Integrantes de 10 comunidades quilombolas pertencentes a Berilo, Chapada do Norte e Minas Novas vêm sendo preparados há dois anos pela ONG Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva (Cedefes) para receber o turista interessado em conhecer o modo de vida, as manifestações culturais, a comida e o artesanato. As cidades-sede têm boa estrutura de hospedagem e alimentação e servem como ponto de apoio para interessados em visitar cada um dos quilombos. Mas, quem quiser dormir em algum deles, é bom se informar sobre em quais se pode fazer isso. Vários já têm capacidade para acolher, dentro das suas possibilidades.
Zeca dos Santos Soares é um dos que tiveram treinamento para receber visitantes. E ele dá um show quando fala sobre as riquezas do lugar e seu trabalho. Morador de Santiago, ele se dedica à agricultura e à horta, plantando banana, marmelo, coco e batata, entre outros. “A terra aqui dá de tudo. Agora a água está um pouco difícil, mas daqui a pouco começa a chover e melhora.” Sua mulher, Maria dos Anjos, coordena a escola local e é cozinheira de mão cheia, além de artesã e de ter uma infinidade de outros dons. Sua casa está pronta para receber turistas para o café da tarde.
Em Berilo, prontas para hospedar estão as casas de Selma e de Eni, na Comunidade Roça Grande. Em Chapada do Norte, tem a casa da Cida, em Córrego do Rocha, e casa de Dona Saninina, em Moça Santa (povoado de Caetés). Em Minas Novas, há as casas de Nete e de Lica, em Macuco; do senhor Marciano e dona Beota, em Quilombo; de Maria de Olímpio, em Santiago; e de Maria de Lourdes, em São Pedro do Alagadiço. E tantos outros que estão se preparando, que, como estes acima, acreditam e apostam no turismo como geração de renda e melhoria da qualidade de vida.
SERVIÇO
• Como ir:
De carro – Belo Horizonte/Berilo (560 quilômetros) – Use as BRs 135 e 367
De ônibus – Há dois carros que saem todas as noites da Rodoviária de Belo Horizonte: um vai até Minas Novas, passando por Diamantina (empresa Pássaro Verde); e outro vai até Araçuaí, passando por Guanhães (empresa Gontijo)
• Onde ficar:
Em Berilo: Hotel Pousada Vale de Minas – (33) 3737-1622
Em Minas Novas: Palace Hotel JK – (33) 3764-1107
Nessas cidades, haverá receptivo familiar para almoço e café da tarde em todas as comunidades.
• Central de Reservas e Informações da rota dos Quilombos:
e-mail: turismoquilombolamg@gmail.com
*A jornalista viajou a convite da ONG Cedefes e do Oi Futuro.