Ele teria motivos de sobra para, no mínimo, ostentar: é o país do Prêmio Nobel da Paz, tem o melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo, uma economia estruturada e um programa social de causar inveja em muitos governantes por aí. Mas, mesmo com tudo isso, a ostentação passa longe da Noruega, que ensina que a simplicidade das coisas é o segredo que a torna tão charmosa e surpreendente ao olhar de qualquer um. Aventurar-se por ali é desconstruir a imagem de que o principal atrativo desse país seria o bacalhau ou o passado viking. A Noruega vai muito além disso. Por isso, amigo viajante, nesta viagem, abandone velhos hábitos, permita-se encantar com os lindos ares de um fiorde, ou de se despedir do Sol só às 22h, e prepare-se para conhecer cidades ideais para nascer, crescer e envelhecer.
Apesar de ser um país rico, onde a produção de petróleo e o pescado são os pilares da economia, a paz é a principal riqueza norueguesa. E é possível encontrá-la na pacata capital Oslo, nas cidades menores e, principalmente, nos fiordes – ápice do turismo no país escandinavo. Um fiorde é um vale de formação glacial, muito estreito, longo e profundo, rodeado de paredões retos e altos. Em resumo: uma paisagem para nunca se esquecer. Por isso, entre o início de maio e o fim de setembro, meses de alta temporada na região por serem as estações da primavera e verão da noruega, turistas do mundo inteiro querem vivenciar esse passeio e trazer de volta na bagagem essa paz das águas e das montanhas.
É nesta época do ano que a Noruega recebe 2 milhões de turistas, e os dias são mais longos. Às 21h30, depois de um bom jantar, é possível ver o Sol se pondo e não há quem se emocione com essa despedida do dia tão tarde. Já a experiência com o Sol da meia-noite, a famosa aurora bureau, só encontra quem viaja para a porção Norte do país, acima do Círculo Polar Ártico.
Pelos fiordes
O comandante da embarcação avisa: “Olhem a cachoeira do lado direito”. Todos vão para a proa do barco, levantam a cabeça até conseguir ver o começo da queda das águas. “Uau, é muito alta!”, admira a turista. Poucos metros dali, outra queda d'água, e os mesmos comentários. E a viagem vai brincando de surpreender. Ora suspiros pelas montanhas rochosas que emolduram o caminho do mar, ora a paisagem que vai ficando para trás deixando saudades. E não há fotografias, vídeos ou relatos que consiga descrever a sensação de navegar por um fiorde noruguês.
A reportagem do Estado de Minas navegou pelo mais longo fiorde da Noruega, o Sognefjord, que tem 204 quilômetros de extensão e uma profundidade de 1.308 metros, e está localizado no Oeste do país. A saída é pelo porto de Bergen, e o passeio é conhecido como Sognefjord in a Nutshell, uma espécie de pacote turístico mais popular do país, que facilita a vida dos turistas, uma vez que com ele os vários bilhetes individuais, de barco, trem ou ônibus, são vendidos em conjunto. A viagem de barco é deliciosa, e o interessante são as paradas nas vilas para buscar passageiros. Nelas, a paisagem mistura o mar, as montanhas rochosas e as casinhas vermelhas. Um charme!
A navegação dura, em média, cinco horas. Mas há lanchonete, internet de graça e, claro, belissímas paisagens como companheiras. O destino é Flam, vilarejo com 350 habitantes e onde o turista tem a sensação de estar em uma cidadezinha de contos de fadas, tamanha a graciosidade do lugar. Por ali, desembarcam 6 mil turistas por dia. Há quem chegue de trem ou de barco, ou de luxuosos cruzeiros – comuns por ali. E é desse vilarejo que sai o ônibus turístico que leva aos mirantes, onde se pode observar os fiordes do alto. Aliás, as melhores imagens dessas paisagens são de cima. Durante a viagem de ônibus, que dura em média uma hora, há fones de ouvidos com a história local narrada em diversos idiomas. Quando se chega aos mirantes, a vontade é de ficar por muito tempo só para receber mais um pouco a paz que a paisagem vista de cima traz.
Um passeio por Flam dura um dia, mas, para quem pode, a dica é passar, pelo menos, uma noite por lá. Dá para conhecer a cervejaria local e ainda aproveitar o pôr do sol em meio ao fiorde. Para voltar a Bergen, o melhor é ir de trem e se surpreender com as paisagens do caminho.
Melhor IDH do mundo
Há cinco anos, a Noruega lidera o ranking do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (de melhor IDH do mundo). A expectativa de vida do país é de 81,5 anos, média de escolaridade de 12,6 anos e renda nacional bruta per capita de US$ 63.909 por ano. No país, com cerca de 5 milhões de habitantes, o serviço de saneamento ambiental atende a todas as residências e a taxa de mortalidade infantil é baixíssima: três óbitos para cada mil nascidos vivos. Todas as pessoas acima de 15 anos são alfabetizadas.
No país do bacalhau
Mas, onde está o tão famoso bacalhau da Noruega? Por toda a parte. Mas é na cidade de Alesund, onde 95% do bacalhau que chega ao Brasil é de lá, que a presença do peixe é mais forte. A cidade, marcada por um grande incêndio e erguida dos escombros, é a que mais reflete o modo de vida estreitamente ligado ao mar da Noruega. Foi da pesca que Alesund surgiu e se consolidou como o maior centro exportador de pescados e derivados de todo o país escandinavo. E, disso, a cidade, com os seus 45 mil habitantes, se orgulha.
Foi em 1904, que um grande incêndio destruiu a cidade em um período de 12 horas. A tragédia transformou em cinzas mais de 900 construções que eram feitas de madeira, e deixou cerca de 10 mil pessoas desabrigadas. Poderia ser o fim, mas ela foi erguida dos escombros por um grupo de arquiteto e teve seu estilo arquitetônico influenciado pelo art nouveau. Foi reconstruída em três anos e hoje é patrimônio da Unesco com seus prédios pequenos e coloridos. O passado é contado no Museu Alesund, que mostra como era a vida por lá, antes e depois do grande incêndio.
A cidade fica a 45 minutos de avião de Oslo. E, além de oferecer deliciosos pratos de bacalhau, é uma caixinha de surpresas para atrações incomuns. Uma delas é a Academia do Bacalhau que, a um grupo fechado de turista, ensina o visitante a fazer o próprio bacalhau, em diferentes receitas. Geralmente, eles fazem uma apresentação sobre os diferentes tipo do peixe , e, depois, desafiam os turistas. A noite é divertida e o visual da academia, de frente para o mar, deixa a atividade ainda mais especial. Além disso, é possível pescar no mar da Noruega o seu próprio bacalhau, com passeios oferecidos por barcos que ficam no porto de Alesund. Outro passeio que vale a pena é no aquário da cidade, o Atlanterhavsparken, que está localizado em meio a trilhas, monumentos e pontos de pesca. Foi inaugurado em 1998 pelos reis da Noruega e se tornou símbolo de orgulho para a nação.
Para se ter uma ideia de como é toda a cidade, o ideal é chegar até o observatório de Aksla. Partindo do Centro, dá para subir os 418 degraus até o mirante, que permite uma vista privilegiada do alto. Há também estrada para carros. Lá de cima, é possível ver o fiorde Borgund. Vá até o restaurante Fjellstua, que fica dentro do prédio do mirante, e peça smorrebrod, o sanduíche aberto supertípico da Escandinávia, que pode ser com carne ou salmão. O importante é admirar a vista arrebatadora de lá de cima.
Uma cidade para relaxar
Quando se pensa em uma capital, vem logo à mente o trânsito pesado, a correria do dia a dia... Mas se você está na Noruega, esqueça tudo aquilo que te remete a uma cidade grande. Oslo desconstrói tudo isso, sem pressa. Capital do país e com cerca de 600 mil habitantes, ela pode ser considerada o alimento para a mente do turista. Com uma vida pacata em que não se vê, inclusive, bares ou restaurantes varando madrugadas, estão ali os grandes museus, a boa comida e tudo aquilo que se espera de um país com o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IHD) do mundo.
Chegando em Oslo de avião, o turista tem a opção de seguir para a cidade de trem, pagando em torno de 180 NOK, ou cerca de R$ 80. Dessa forma, gasta-se cerca de 25 minutos. De carro ou ônibus, o trajeto durará cerca de 50 minutos, em uma distância de 50 quilômetros, pouco mais que o percurso do 40 quilômetros do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, ao Centro de Belo Horizonte. A cidade não é colorida como Bergen, mas tem o verde forte que marca todas as cidades norueguesas. O charme de Oslo está no convite que ela faz ao turista que, ao aceitar, é transportado do passado viking até a modernidade. Para quem quer curtir cada atração, a dica é adquirir o Oslo Pass, cartão que dá direito a entrada gratuita em mais de 30 museus e outras atrações, além de passe livre no transporte público e desconto em restaurantes.
O valor vai de 320 NOK (R$ 160) para quem optar pelo ticket de 24 horas, até 590 NOK (R$ 295) para quem vai ficar até 72 horas. Entre as muitas atrações, não deixe de visitar o Museu do Navio Viking e o ideal é chegar cedo, porque é um lugar lotado de turistas. Ali estão três embarcações do século 9, que foram desenterradas de um lodaçal no fiorde de Oslo. Esses barcos eram usados como parte de cerimônias fúnebres, e neles foram depositados ricos tesouros que acompanharam seus poderosos mestres para o outro mundo.
Para um contato com a produção artística norueguesa a partir do século 19, a pedida ideal são a Galeria Nacional e o Museu de Arte Contemporânea, que pertencem ao Museu Nacional. São centenas de pinturas e esculturas, com obras de artistas como Christian Krohg e J. C. Dahl. Os maiores destaques, no entanto, são mesmo as obras do norueguês Edvard Munch, com o célebre quadro O Grito.
Outra visita obrigatória é o Centro Nobel da Paz, que, além de funcionar como a sede do comitê que decide os vencedores do prêmio no mundo, serve como museu interativo. Há uma exposição permanente, que conta a história da premiação, dos vencedores desde a primeira edição, de 1901. A atração mais popular, e de graça, é o Parque Vigeland (Vigelandsanlegget), constituído por 212 esculturas em bronze e granito da autoria do escultor norueguês Gustav Vigeland (1869-1943).
A escultura mais famosa é a Sinataggen – um menino mau-humorado. É tradição tocar na mão esquerda da estátua porque traz sorte. Mas é o monumento com 14 metros de altura e 121 figuras humanas em uma pedra única que chama mais atenção.
Quando ir
A dica é visitar o país entre março e setembro, aproveitando a primavera e o verão norueguês. Mas lembre-se: o que é calor para eles, pode ser frio para nós. Então, é sempre bom carregar roupas de frio na mala e capas de chuva já que, um dia ensolarado pode acabar em chuva na Noruega. E vice-versa. O verão começa no final de junho a início de agosto, e é quando são registradas as temperaturas mais altas, chegando a 30 graus, e os dias são longos e ensolarados. Ao Norte do país, o clima não é tão quente, muitas vezes, atinge uma máxima de 25 graus.
Wi-Fi
Em pontos turísticos, nos trens e nos hotéis há internet de graça.
Frozen
Arandelle, o reino congelado da animação Frozen, da Disney, foi inspirado na Noruega. Apesar de o filme ter sido baseado no conto A rainha de gelo, do dinamarquês Hans Christian Andersen – o mesmo criador de A pequena sereia, foi na Noruega que os animadores se inspiraram para criar o universo em que vivem as irmãs Elsa e Anna. A jornada para buscar o mundo mágico do filme começa por Bergen, a segunda maior cidade da Noruega, no Sudoeste do país. As coloridas fachadas de madeira das casas foi a área que inspirou os animadores da Disney a criarem boa parte da arquitetura que aparece nas ruas do vilarejo de Arendelle.
Trolls
Os trolls marcam uma presença importante no folclore norueguês. Por causa de sua aparência assustadora, o que nos faz lembrar os duendes, gerações e gerações de crianças norueguesas cresceram temendo essas estranhas criaturas. Mas não quer dizer que todos eles sejam maldosos. Os trolls são seres sobrenaturais, que vivem nas florestas, montanhas e cavernas, e em pequenas comunidades familiares. Eles têm uma boa habilidade para construir instrumentos de pedra e metal. No filme Frozen, eles são bonzinhos. Como há bonecos deles em todas as lojas de suvenir, é uma boa lembrança para levar. Os valores variam entre R$ 40 e R$ 200.
Prepare-se
A moeda usada é a coroa noruguesa (NOK) que está valendo mais do que o dobro do real. E é melhor preparar o bolso: uma garrafa de água mineral custa em torno de 36 NOK, algo em torno de R$ 18. Mas, assim como em outros países europeus, a água da torneira é potável. A dica é levar uma garrafinha para encher na própria torneira do hotel. Em geral, as coisas têm um preço mais alto para nós brasileiros. E não adianta reclamar e nem tentar negociar. Um maço de cigarros ou uma cerveja, por exemplo, custam em torno de 70/80 NOK. O melhor é trocar dólar ou euro ainda no aeroporto, já que em muitos lugares não são aceitas outras moedas.
Entrada no país
Todos os que viajam para a Noruega precisam de passaporte válido. Os brasileiros não precisam de visto, porém, a Noruega exige o seguro de saúde com validade para todo o período da viagem. O seguro vai garantir ao visitante a cobertura de tratamento médico se algo ocorrer durante a sua estadia por lá.
Idioma
O norueguês é o idioma da Noruega. Porém, a maioria dos habitantes fala inglês.