“A cidade é cercada por um fosso que se cruza por pontes, algumas de ouro, e dentro dos portões há palácios e templos com torres douradas e ricamente decorados.” Esse é um dos poucos relatos escritos, retirado dos diários do diplomata chinês Zhou Daguan, que, em 1296, visitou Angkor Thom. Ficou impressionado com o que viu. Angkor Thom foi a nova capital, construída após a retomada de Angkor de invasores Cham, em 1181, durante o reinado de Jayavarman VII (1181-1219/20). Foi projetada na figura perfeita de um quadrado, ampliando edificações como o Phimeanakas, o palácio-templo real erguido no século 10 e Baphuon, templo hindu do século 11. Circundada por um fosso e por uma muralha de 12 quilômetros de extensão, cinco são os portões de acesso.
Prepare-se, porque você também irá se impressionar. Antes de cruzar o portal Sul, que se abre sobre a muralha defensiva de 12 quilômetros no entorno da cidade, você percorrerá uma monumental ponte por onde se perfilam, em cada um de seus lados, 54 devas – deusas guardiãs – e 54 asuras – deuses demoníacos. Enquanto as primeiras puxam a cabeça da gigantesca serpente, na direção oposta os asuras fazem força com o rabo da serpente. Bem à frente dessa representação do conto da mitologia hindu sobre o batimento do oceano de leite está o mais bem preservado dos cinco portões de acesso. Ele se eleva exibindo os três enigmáticos e primeiros rostos gigantes que você verá pela cidade. O maior, na torre central, mira a entrada e a saída (Norte e Sul). Os outros dois olham para o nascente e o poente. Esse portão monumental é “suportado” pela representação de elefantes e guardado por figuras em posição de prece.
Há controvérsias sobre o que esses rostos gigantes, que se tornaram a principal marca de Angkor Thom, representam. Alguns estudiosos acreditam serem os rostos do templo Bayon a personificação do bodisatva Avalokitesvara – que em sânscrito significa “aquele que enxerga os clamores do mundo”. Nesse sentido, representa a compaixão suprema de todos os budas. Mas sob a forma de governo teocrática em vigor no Império Khmer, contudo, em que o sagrado e o poder político se fundiam na figura do governante, o santuário central do templo traz a imagem de Jayavarman VII – o “rei-deus” que geria o estado em nome de Buda.
ÁREA SAGRADA Bayon foi o primeiro templo dedicado ao budismo. O acesso à área sagrada interna se dá por oito torres, em cruz, interligadas por galerias que narram, em alto- relevo, cenas da vida diária de Angkor do século 12: rinhas de galo, comerciantes no mercado, festas e preparo de alimentos. Há também registros de batalhas principalmente contra o povo Cham, do Vietnã do Sul – um dos principais adversários do Império Khmer; além de imagens de dançarinas devadas, guardiães do templo.
Embora Jayavarman VII tenha sido o primeiro governante a introduzir o budismo Mahayana como religião oficial do Império Khmer, em substituição ao hinduísmo, o templo homenageia várias divindades da mitologia hindu, como Vishnu, responsável pela manutenção do universo e que, ao lado de Shiva e Brama, forma a trindade sagrada. O crescimento do budismo no seio do Império Khmer e as clivagens que se acentuaram nos séculos seguintes entre adeptos do hinduísmo e budistas minaram as bases de sustentação dessa civilização, por muito tempo considerada “perdida” pelo Ocidente. O auge do Khmer alcançado sob Jayavarman VII foi, em sucessivas invasões nos séculos seguintes, legando esse tempo de glória Khmer para a história, contado, sobretudo por seus inúmeros templos, não apenas no Camboja, mas também em antigos territórios do império como o do reino Sião, hoje Tailândia.
Batimento do oceano de leite
Na mitologia do batimento do oceano de leite a grande serpente é enrolada na montanha central – o Monte Meru. Enquanto as deusas devas e os deuses do mal fazem do corpo do animal um cabo de guerra – para frente e para atrás – o oceano se agitou numa espécie de ordenha que levou à formação da terra e do cosmos.
Bodisatva
Para o budismo, um bodisatva é a criatura que está pronta para alcançar o estágio de evolução espiritual de Buda, mas faz voto de só alcançá-lo plenamente quando nenhum outro ser ainda estiver no ciclo das encarnações neste mundo.
NÃO PERCA TAMBÉM...
Phimeanakas (século 10)
Palácio-templo consagrado ao hinduísmo e também conhecido como Palácio Celestial. Está associado à lenda de uma grande torre dourada que seria ocupada por uma serpente mágica de nove cabeças. Disfarçada de mulher, a cobra teria mantido relações com o rei. Como ele sobreviveu, a linhagem real não foi interrompida. O palácio é uma pirâmide de base retangular, com cinco entradas e as escadarias centrais, ladeadas por leões. Em cada canto da pirâmide há figuras de elefantes.
Baphuon (século 11)
É um dos templos hindus mais importantes. Mantém o tradicional formato de montanha piramidal em referência ao Monte Meru, morada mítica dos deuses. Uma calçada elevada dá acesso ao templo, que tem quatro portões decorados com baixos-relevos de cenas de épicos hindus. Em seu interior há um Buda Deitado, que provavelmente foi acrescentado ao templo mais tarde, no século 15.
Confira uma matéria exclusiva sobre o "Templo das Árvores" no blog. 1001lugarespraseviver.com é um espaço de construção coletiva voltado para a cultura, o lazer e o prazer em compartilhar imagens e experiências de diferentes lugares do planeta que, juntos, elegeremos como os mais espetaculares.