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Travessia da Serra Fina é desafio para poucos em cenário deslumbrante

Conhecida como a mais difícil do Brasil, trilha fica situada na tríplice divisa de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo

Da Pedra da Mina (2.798m), quinto pico mais alto do Brasil, a visão do belíssimo e desafiador Vale do Ruah, passagem obrigatória no terceiro dia de caminhada - Foto:
A temporada preferida por mochileiros de todo o Brasil para percorrer as trilhas da Serra da Mantiqueira começou e o sobe e desce incessante da Serra Fina, um dos trechos mais duros e maravilhosos da região, certamente está nos planos de 10 em cada 10 deles. Se você nunca ouviu falar dessa que é considerada uma das rotas de trekking mais belas do planeta, vamos a um resumão: mochila pesada no lombo, escassez de água no trajeto, desníveis incessantes de 2 mil metros, frio perto ou abaixo de zero e, quatro dias depois, você completou o trajeto de pouco mais de 30 quilômetros por estreitas cristas de montanhas que dão nome ao lugar. Mesmo para aqueles acostumados a trilhas de longa duração, a travessia da Serra Fina é um desafio físico e mental que requer planejamento. Portanto, confira nosso relato por esse paraíso dos montanhistas.
A Serra Fina não faz parte de um parque e, por isso, nem pense que terá qualquer infraestrutura à disposição. Mesmo se não conseguir completar o trajeto, saiba que terá de andar muito para conseguir ser resgatado. Outro fator que deu a essa travessia a fama de mais difícil do Brasil é a distribuição dos pontos para coleta de água. Se você seguir o roteiro tradicional, de percorrer tudo em quatro dias, rio só na manhã do primeiro dia, no fim do segundo e na manhã do terceiro. Isso vai obrigá-lo a carregar na mochila, no mínimo, quatro litros de água por dia para beber ao longo do exaustivo caminho e preparar suas refeições. Banho? Só se quiser encarar os gélidos pontos de água citados.

Feito o alerta, vamos em frente. A travessia mais tradicional é feita em quatro dias, mas ultramaratonistas costumam fazê-la em inacreditáveis e sobre-humanas 13 horas. No primeiro trecho você parte de um sítio na área rural de Passa Quatro, no Sul de Minas, em direção ao Capim Amarelo, pico com 2.570 metros de altitude. O trajeto de aproximadamente oito quilômetros é o mais fácil de toda a travessia. Afinal, com o corpo descansado ou menos dolorido, como queira, é mais fácil apreciar o paradisíaco trecho apelidado de Passo do Anjo, uma contínua e fina crista de morros entre dois vales, tudo geralmente cercado de nuvens. Cenário arrebatador para qualquer selfie. No topo do Capim Amarelo, além de apreciar a bela vista – com os picos Marins e Itaguaré ao fundo, outra travessia clássica da Mantiqueira –, a preocupação deve ser garantir um dos poucos e disputados lugares para montar a barraca.
No Passo do Anjo, o montanhista percorre longo caminho por cristas de menos de 1 metro de largura - Foto:
NAS ALTURAS
Se no primeiro dia a trilha foi mais de adaptação, no segundo será de superação. Terrenos escorregadios e com mudanças fortes e seguidas de elevação exigem muita atenção do montanhista. Torções e quedas são ameaças constantes e podem encerrar a aventura pela Serra Fina. A recompensa é que, ao fim do dia, é possível tomar um banho congelante no único ponto de água que vai encontrar desde o riacho da manhã do primeiro dia. A quase 3 mil metros de altitude, no alto da Pedra da Mina, quinto maior pico do Brasil, a sensação de paz e a grandiosidade da Serra da Mantiqueira trarão energia extra para encarar os dois dias pela frente.

Depois de arrebatadores e incontáveis tons de laranja de um nascer do sol inesquecível no alto da Pedra da Mina, é hora de levantar acampamento e descer para encarar o desafiante Vale do Ruah. Com moitas de capim que facilmente superam os dois metros de altura e um terreno com vários trechos alagados, a região exige a companhia de um bom guia ou um GPS apurado para não se perder. Se não bastasse esses obstáculos, no inverno há relatos de montanhistas que chegaram a enfrentar temperatura de até 10 graus negativos. No fim do terceiro dia, o ataque ao Pico Três Estados exige atenção, pernas e braços para uma quase escalada.

O longo trecho final até encontrar o resgate num sítio de Itanhandu – contrate esse serviço, ou terá de tentar pegar carona na beira da estrada – traz um desafio extra. Os últimos quilômetros são percorridos por trilhas claustrofóbicas em matas de bambus que formam uma barreira natural para mochilas exageradas ou repletas de itens pendurados, erros comuns de iniciantes do trekking. Depois de ficar grudado nesse emaranhado de galhos na volta para casa, é hora de relaxar e recordar a incrível paisagem desse pedaço do paraíso que é a Serra da Mantiqueira, carinhosamente chamada de Himalaia brasileiro pelos montanhistas. Certamente, uma aventura inesquecível.

Serviço

Mantiqueira Expedições
www.mantiex.com.br
(12) 98109-3292

Andar
www.facebook.com/andaroutdoor
(35) 9169-5706

A TRAVESSIA

Primeiro dia
• Passa Quatro ao Capim Amarelo (2.570m)
•  8 quilômetros
• Trecho de baixa dificuldade no início e passagem pelo belíssimo Passo dos Anjos, estreita crista geralmente cercada de nuvens entre dois vales. Perto do Capim Amarelo, a subida mais íngreme pode ser vencida com a ajuda de cordas instaladas em pontos estratégicos.

Segundo dia
• Capim Amarelo ao Pedra da Mina (2.798m)
• 7 quilômetros
• Trecho que exige muita atenção e resistência devido ao constante sobe e desce entre matas fechadas de bambus e encostas escorregadias. Alguns consideram o dia mais difícil da travessia.

Terceiro dia
• Pedra da Mina ao Pico Três Estados (2.665m)
• 8 quilômetros
• A passagem pelo temível Vale do Ruah, com seu terreno alagado, touceiras de capim que ultrapassam os dois metros de altura e temperaturas que facilmente ficam abaixo de zero no inverno, são o ponto         forte deste trecho.

Quarto dia
• Pico Três Estados a Itanhandu
• 12 quilômetros
• O retorno é empolgante, mas a distância pode desanimar os mochileiros que sofreram na travessia nos primeiros três dias. Um longo trecho entre floresta de bambus torna cada passo um desafio.

NA MOCHILA

Confira itens essenciais para encarar este desafio:

» Água
Leve recipientes para armazenar ao menos cinco litros. Você vai precisar de cada gota

» Alimentos
Monte o café da manhã, o lanche de trilha e o jantar de cada dia de forma a poupar água no preparo

» Fogareiro
Nunca faça fogueiras! Vou repetir: nunca faça fogueiras. Leve um fogareiro a gás e um caneco ou panela para esquentar o rango

» Botas
Seus pés serão torturados pelo sobe e desce interminável. Portanto, use botas confortáveis e já amaciadas em outras trilhas

» Primeiros socorros
Um kit básico para fazer pequenos curativos não pode ficar de fora da mochila

» Calças e blusas
Modelos de secagem rápida e feitos para trilhas. Dê preferência para blusas de manga comprida

» Luvas
Use-as para evitar cortes durante os longos trechos de capins e bambus cortantes

» Bastão de caminhada
Leve ao menos um para aliviar o peso sobre os joelhos e servir de terceiro ponto de apoio em subidas e descidas escorregadias

» Saco de dormir
Use modelo indicado para temperaturas entre cinco graus negativos e zero grau, dependendo da época do ano em que você for

» Segunda pele
Calça e blusa térmicas como primeiras camadas de roupas para uma boa noite de sono

» Agasalho
Blusa do tipo fleece como segunda camada de roupa é complemento indispensável

» Jaqueta
Dê preferência a um modelo impermeável e leve para poupar espaço na mochila

» Meias
Três mudas bastam. Afinal, banho congelante só no fim do segundo dia ou início do terceiro, se tiver coragem

» Lanterna
Um modelo de cabeça é bastante útil, mas é bom ter outra lanterna de mão de reserva. Não se esqueça de pilhas reserva

» Óculos de sol
Bons para proteger do sol e de ferimentos nos olhos provocados por capins cortantes e bambus

» Protetor solar
Tudo que você não precisa é mais uma coisa incomodando, como uma queimadura de sol no rosto. Complemente com boné ou chapéu

» Telefone
Em vários pontos é possível sinal para ligar e até conectar na internet 3G. É um item de emergência essencial

» GPS
O recomendável é contratar guias locais com experiência na Serra Fina. Sem eles, use arquivos bem atuais no GPS para não se perder