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Jamaica para todos: da casa de Bob Marley a Montego Bay

Kingston, a capital, tem pouco apelo turístico, mas guarda a casa do lendário Bob Marley. Em Montego Bay, visitantes podem sentir cheiros, cores e a realidade do país

Museu do Bob Marley, em Kingston. Suas músicas falavam sobre o amor, a alegria, os problemas e a desigualdade da ilha - Foto: Daniel Camargos/EM/D.A Press

Em uma feira de rua, um jamaicano vende bananas e outro bate com força a faca em um peixe para tirar as escamas. Perto dali, um carro rebaixado e com um som altíssimo fundindo o dub com uma letra semelhante ao rap está estacionado em uma esquina do Centro de Mobay, como todos se referem a Montego Bay. A porta do carro está aberta e um rapaz de boné e lenço amarrado no pescoço anuncia a festa Hawaiian Dreams 5. As cenas são bem distintas da realidade ordeira dos resorts próximos e podem sugerir o caos aos turistas mais receosos. Mas é dessa confusão de som, cheiros, cores e guetos que brota o substrato da cultura jamaicana, responsável por um dos ritmos musicais mais admirados no planeta: o reggae.

 

Em Mobay, a maior parte das praias está restrita aos hóspedes dos resorts. Existem ainda praias privadas, como a Doctor Cave, cuja entrada custa US$ 6. Já no final da costa, próximo ao limite do aeroporto, há uma faixa de areia sem dono e preço. Um dos poucos espaços em que é possível observar famílias de jamaicanos se divertindo na natureza que lhes pertence.


Se Mobay, com 100 mil habitantes, é a capital turística do país, a capital de fato, Kingston, com um terço dos quase três milhões de habitantes não tem apelo turístico. Um dos poucos pontos é a casa e estúdio em que Bob Marley viveu e gravou vários discos, que fica na Hope Road Kingston, 6. A entrada custa US$ 20 e é possível ver as dependências da casa, o jardim onde o rasta gostava de jogar futebol, a árvore em que ele sentava ao pé para fumar maconha e até o quarto onde ele dormia, com a decoração simples e com motivos que remetem à cultura rastafári.

O REI DO REGGAE
Kingston foi tomada por uma onda de violência há quatro anos. Há ainda marcas de tiros nas paredes do Centro. À época, o aeroporto da cidade chegou a ser fechado e 30 pessoas morreram nos confrontos entre polícia e gangues criminosas. Quem deseja conhecer a favela de Trenchtown, onde Bob Marley cresceu e que é citada em várias canções, como No woman no cry e Trenchtown rock, deve procurar por um táxi e evitar o transporte público.


Bob Marley morreu aos 36 anos, em 1981. Se estivesse vivo teria completado 70 anos em fevereiro. A memória e, principalmente, a música da lenda do reggae seguem vivas em todo o mundo. Em Nine Mile, no condado de Saint Ann, onde ele nasceu, está o mausoléu do músico. Lá, estão enterrados o corpo de alguns familiares e o dele.


Aliás, prestar atenção às canções de Bob Marley é uma boa maneira de compreender o país. Bob cantou sobre o amor, a alegria, os problemas e a desigualdade da ilha. Uma das músicas que explicam bem a diferença entre a Jamaica de poucos e o país de todos é Them belly full (A barriga deles está cheia). O principal verso da canção diz: “A barriga deles está cheia, mas nós temos fome (them belly full, but we hungry)”.


Pra quem segue de Montego Bay, o acesso até o mausoléu inclui uma estrada estreita e sinuosa. É totalmente desaconselhável alugar um carro e encarar a via – com mão de direção inglesa – por conta própria. O mais indicado é contratar um passeio saindo do hotel, com motoristas habituados ao frenesi das estradas locais. Pela operadora AM Star DMC, o passeio de um dia custa US$ 99 por pessoa e inclui também a ida, com as entradas, ao Dunns Rivers Fall.
No mausoléu, o destaque é o quarto onde está a sepultura de Bob Marley. Em volta do túmulo, estão objetos pessoais do cantor e símbolos que remetem a suas canções e à religião rastafári. O espaço é um ambiente liberado para fumar maconha, ou ganja, como os locais chamam a erva. À porta do mausoléu, vários jamaicanos vendem cigarros prontos de maconha, e os guias do local deixam claro que fotos e vídeos são proibidos, assim como fumar cigarro convencional. Quando questionam sobre a possibilidade de fumar maconha os guias respondem com uma gargalhada dizendo que Bob adorava ganja.


Desde o início de abril, a maconha está descriminalizada na ilha. Cada jamaicano pode portar 57 gramas da erva e plantar até cinco pés. Vale destacar que descriminalização é diferente de legalização (como ocorre apenas no Uruguai). O uso da erva é permitido com finalidade pessoal, medicinal e religiosa – é sagrada para os rastas –, mas o comércio é proibido.

 

História

Cristóvão Colombo aportou na ilha em 1494 e a reivindicou para a Espanha. A Jamaica era habitada pelos indígenas taínos, que a chamavam de Xaymaca, que significa terra dos mananciais. Em 1665, os ingleses venceram várias batalhas ante os espanhóis e assumiram o controle da ilha. Com o extermínio da população nativa, eles usaram a mão de obra escrava, proveniente da África, para tornar a Jamaica um dos principais exportadores de açúcar do mundo. A escravidão foi abolida em 1838 e, atualmente, o país é uma democracia parlamentarista, tendo como monarca a rainha Elizabeth II, mas quem comanda o país é o governador-geral, Patrick Allen. A primeira-ministra é Portia Simpson-Miller. A economia depende das exportações de bauxita e do turismo.

 

DICAS

 

A maneira mais rápida de viajar para Montego Bay é via Panamá, com a companhia Copa Airlines. Montego Bay tem o maior aeroporto da Jamaica, o Sangster International Airport, com conexões diárias com o Aeroporto Internacional de Tocumen (PTY), na Cidade do Panamá. A Delta Airlines voa para Montego Bay partindo de Atlanta e Nova York; já a United Airlines voa para Montego Bay saindo de Houston e Nova York. Em ambos os casos, o turista deve ter o visto norte-americano.

Em Montego Bay, existem resorts das principais bandeiras hoteleiras. Para quem procura algo mais barato, o mais indicado é buscar por hospedagem na Hip Strip, a rua badalada da cidade, com várias opções de hotéis.