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Grã-Bretanha

Pouco explorado pelos brasileiros, Sudeste da Inglaterra guarda segredos e tesouros

Uma viagem no tempo: locais que remetem às narrativas de grandes escritores. Não deixe de visitar o Parque Nacional de Dartmoor

Dartmoor é perfeito para quem gosta de esportes ao ar livre: são mais de 730 quilômetros de trilhas - Foto: Visit Britain/Divulgação - 24/7/09

Esfregando as mãos em um gesto animado, o condutor da van decreta, com um sorriso quase vingativo: “A BBC errou!”. No dia anterior, o serviço de meteorologia da emissora pública anunciava chuva. Mas o céu de Bath – cidade termal fundada pelos romanos no Sudeste da Inglaterra – está completamente claro. O frio deu uma trégua e os 10 graus deixam a manhã extremamente agradável, o que parece satisfazer o motorista ainda mais que os turistas. “Fazer previsão do tempo assim é fácil”, diz, triunfal, antes de tomar o volante.

Falar do clima é um esporte britânico. Não é que eles recorram ao assunto só para preencher o silêncio do elevador. Nem para quebrar o gelo – eis um trocadilho completamente inevitável. Os britânicos gostam de decorrer sobre as variações meteorológicas, a ponto de considerar essa característica como o principal traço da nação. Em 2008, uma pesquisa com 5 mil adultos perguntou aos habitantes do Reino Unido quais atributos mais identificavam o povo da Inglaterra, da Escócia, da Irlanda do Norte e do País de Gales. Conversar sobre o tempo ficou em primeiro lugar (respeito às filas, sarcasmo, ver novela e ficar bêbado vieram em seguida).

Vista aérea do Bovey Castle, no Parque de Dartmoor: cenário de histórias - Foto: Visit Britain/Divulgação 

Faça chuva ou sol, os cenários da Inglaterra merecem a esticada além de Londres. As estradas, margeadas por paisagens sempre verdinhas, onde ovelhas e cavalos vestidos de casaco (culpa do frio) pastam despreocupadamente, já são uma atração turística. Longe da efervescência da capital, o país se revela bucólico, repleto de cidadezinhas de pedra, com casas e chalés que parecem abrigar personagens de conto de fadas.

Um bom lugar para começar a conhecer esse lado britânico ainda pouco explorado pelos brasileiros é o condado de Davon, no Sudeste da Inglaterra. Uma região de vilarejos rurais, mas também de praias badaladas; onde o passado ora tem 5 mil anos, caso dos resquícios de um assentamento da era do bronze; ora ultrapassa os 41 mil, idade da mais antiga mandíbula humana já encontrada na Grã-Bretanha. Mas pode ser ainda mais longínquo: na Costa Jurássica, vez ou outra, cientistas encontram fósseis de criaturas já extintas de 185 milhões de anos.

Escritora Um cenário que inspirou nada menos que os dois maiores escritores policiais da literatura britânica: Arthur Conan Doyle e Agatha Christie. Essa última, por sinal, era de Torquay, cidade da riviera inglesa localizada em Davon. Os 125 anos de nascimento da rainha do crime serão amplamente comemorados nesse balneário, eleito pelo TripAdvisor como o melhor destino litorâneo da Inglaterra e o quarto do Reino Unido, em geral.

O roteiro em Davon pode começar no Parque Nacional de Dartmoor, que ocupa uma área de 954km². Para quem gosta de esporte ao ar livre, são 730km de trilhas e espaços abertos para explorar a pé, de bicicleta ou a cavalo. Com um pouco mais de fôlego, é possível escalar as interessantíssimas formações geológicas do parque. E os fãs de aventura podem ter um dia de detetives, se empenhando nas atividades de geocaching – procurar, com a ajuda de um GPS, “tesouros” escondidos por outros participantes.

Não é preciso ter espírito de explorador para aproveitar Dartmoor, contudo. Nenhum outro lugar da Grã-Bretanha tem tantos registros da pré-história quanto o parque, o que faz dele um destino imperdível para quem gosta de viajar no tempo. Os povos da idade do bronze que habitaram aquela região há milênios construíram suas casas com granito e, graças à resistência dessa pedra, parte das edificações ainda pode ser visitada.

Hoje, um refúgio solitário e silencioso, Dartmoor já foi um agitado centro urbano, com pelo menos 5 mil residências organizadas em assentamentos. Eram casas pequenas, com base de pedra, dispostas em círculos e com uma tenda para espantar o frio, o vento e os animais selvagens. Atualmente, o que restam são os blocos de granito – ossos, objetos de cerâmica e peças de metal jamais foram encontrados, devido à acidez do solo.

Visitar o mais famoso desses complexos, Grimspound, é uma experiência única. Escavado no século 18, o assentamento composto por 24 construções circulares foi considerado “demoníaco” no período vitoriano, quando se acreditava abrigar um templo druida. Os trabalhos arqueológicos, porém, revelaram que o local era simplesmente um complexo habitacional, construído por volta de 1,3 mil a.C. Para acessá-lo, é preciso subir um monte que demanda esforço físico. Lá do alto, lado a lado com o passado, a imensidão do parque parece sem fim. Uma visão estonteante.

* A jornalista viajou a convite do Visit Britain