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Estado de Minas ARTES CÊNICAS

Pandemia cancela pela segunda vez temporada de peça em BH

'A valsa de Lili' estrearia no CCBB em março de 2020. Devido à pandemia, foi transferida para sexta passada (15/1) e esbarrou de novo no fechamento da cidade


17/01/2021 06:00 - atualizado 17/01/2021 10:45

No monólogo, atriz Débora Duboc interpreta a história de uma mulher com o corpo paralisado pela poliomielite, mas que mantém a cabeça cheia de planos e vivacidade(foto: João Caldas/Divulgação)
No monólogo, atriz Débora Duboc interpreta a história de uma mulher com o corpo paralisado pela poliomielite, mas que mantém a cabeça cheia de planos e vivacidade (foto: João Caldas/Divulgação)

Quando a Prefeitura de Belo Horizonte anunciou que haveria nova restrição das atividades de comércio e serviços na cidade, a partir do dia 11 de janeiro, com o intuito de deter a disseminação do novo coronavírus, a estreia do espetáculo A valsa de Lili, que estava prevista para quatro dia depois dessa data (a última sexta-feira, 15/1), foi automaticamente cancelada. 

Essa é uma cena repetida na trajetória do monólogo estrelado pela atriz paulista Débora Duboc. A valsa de Lili estava programada para abrir sua temporada no CCBB-BH em março de 2020. A primeira quarentena na capital mineira imposta pela pandemia da COVID-19 tornou a estreia impossível. A nova data, agora, coincidiu com o segundo fechamento da cidade. 

Para a atriz, essa é uma realidade dolorosa, mas necessária. ''É lógico que, no primeiro momento, há uma angústia por não poder estar no lugar que eu mais amo: o palco. Mas a vida é a coisa mais importante que a gente tem. Medidas que a celebram são sempre bem-vindas. Quando elas são tomadas no sentido de preservar esse bem inestimável, eu me acalmo. As pessoas ligadas à arte estão sendo muito prejudicadas neste momento da história, mas, ao mesmo tempo, é necessário que a gente tenha um olhar mais atento e generoso para esse verdadeiro milagre que é a vida'', diz ela.

Inspirada no livro Pulmão de aço - Uma vida no maior hospital do Brasil (Editora Bella, 2013), de Eliana Zagui - a Lili da vida real -, a peça é centrada na figura de uma mulher que, apesar de estar paralisada do pescoço para baixo, se mostra intelectual e emocionalmente dinâmica. 

A personagem-título lida com questões como o amor, a perspectiva do envelhecimento e da morte, os limites sociais e físicos e a luta pela sobrevivência. O texto é assinado por Aimar Labaki e a direção é de Débora Dubois.

Epidemia

''A peça fala de uma epidemia. Mostra a história de vida de uma pessoa que teve poliomielite porque não foi devidamente vacinada. Isso determinou uma falha trágica e, a partir desse lugar, a Lili escolheu viver uma jornada excepcional. Então o texto é fincado num cotidiano comum ao que estamos vivendo no Brasil hoje. Quando vejo esses negacionistas dizendo que não vão tomar a vacina contra o coronavírus, fico muito preocupada. É assustador'', afirma Débora.

Quando A valsa de Lili sofreu o segundo adiamento, a atriz e a equipe da peça já estavam mais do que preparados para entrar em cena. Passagens compradas, hotel reservado e ensaios feitos. A única coisa que faltava era imprimir o programa, o que,  de fato, não chegou a acontecer.

“Não vejo a hora de poder voltar a encená-la'', diz Débora. “A peça fala muito com as pessoas e, principalmente, fala sobre o país em que estamos vivendo. As questões que a personagem traz são, ao mesmo tempo, fortes e humanas, e tocam a todos. O texto reflete sobre o seguinte questionamento: 'Qual é a liberdade que queremos?'. Hoje, eu quero a liberdade de poder abraçar meus amigos, por exemplo.''

Na opinião da atriz, a pandemia traz uma oportunidade de reflexão. ''Como a gente tem cuidado desse lugar extraordinário que é o viver? Nunca foi tão potente pensar sobre isso. E eu espero, o mais rapidamente possível, poder partilhar as questões que a Lili traz sobre isso com os queridos mineiros. Sou apaixonada por Belo Horizonte, tenho aí amigos muito queridos e esta é a cidade onde nasceu o grupo que foi a maior inspiração para mim como atriz, o Galpão. Não vejo a hora de desembarcar por aí de novo'', diz.

Sobre o desafio de dar vida a uma personagem que fica completamente parada durante todo o espetáculo, Débora Duboc admite que não é simples. O papel já lhe rendeu o Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor atriz.  

''O não movimento é muito importante para o texto. Como o espaço cênico é poeticamente livre, até pensamos em romper isso, mas então percebemos que não faria sentido. É dessa forma que a gente revela uma pessoa isolada, sem a possibilidade de ir e vir ou poder mexer os braços. Ela é movida pela ação e isso é uma coisa que toca de uma forma avassaladora. Senti isso em cada sessão dessa peça. É muito forte essa constatação de como ela está no mundo, a maneira como ela celebra a vida'', explica.

Débora conta que a diretora Débora Dubois foi essencial para que ela aceitasse o desafio de encarnar Lili. ''Eu tinha que me lançar em um abismo. E ela foi muito importante para que eu tivesse a coragem de encarar essa jornada. Hoje é muito prazeroso. A peça me alimenta e a personagem mexeu demais com meus desejos e com minha vida. Geralmente, nós atores nos aproximamos dos universos e eles acabam modificando a gente'', conta.

Apesar de serem fãs dos formatos que as peças de teatro ganharam durante a pandemia, como as lives, a atriz e a equipe de A valsa de Lili não aceitaram os convites para encenar o espetáculo virtualmente. Ela explica que a decisão partiu da ideia de que a montagem é uma espécie de instalação que depende muito da presença do público.

''A Lili se relaciona muito com quem está na plateia. Eles vêm visitá-la e isso é importantíssimo para que o espetáculo aconteça. Então a gente quis aguardar o momento certo para o presencial. Infelizmente,esse momento ainda não chegou'', afirma. Mas ressalva: “Sou muito a favor dessas experiências virtuais. Foi o caminho possível neste momento tenebroso'.

Cinema

Nesse meio tempo, Débora Duboc aproveitou para se dedicar a outros projetos, principalmente no cinema. Um deles é a adaptação da peça Cordialmente teus, também de Aimar Labaki.

''Nas cenas que gravamos, tomamos todos os cuidados possíveis para que tudo fosse feito em segurança. Por isso, o Aimar decidiu incorporar na dramaturgia marcas como as máscaras, álcool em gel e o distanciamento social. O que acaba sendo até um marcador temporal do momento que estamos vivendo'', analisa.

Diante da incerteza que paira sobre uma nova reabertura dos equipamentos culturais de Belo Horizonte, ela não sabe dizer quando a peça irá, finalmente, estrear. ''Esse é um dos aprendizados que a pandemia deixa. Não é possível ficar prevendo, se programando. Vamos esperar e perceber qual será o tempo adequado para a gente ocupar o CCBB e receber o público em segurança. Temos que confiar que uma vacinação coletiva vai nos tirar desse buraco.''


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