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Estado de Minas

Saiba como companhias teatrais do interior de MG enfrentam a crise

Garra, trabalho e criatividade são a marca registrada do Grupontapé, de Uberlândia, do Teatro da Pedra, de São João del-Rei, e do Ponto de Partida, de Barbacena


01/12/2019 04:00 - atualizado 02/12/2019 14:21

Grupontapé, de Uberlândia, acaba de estrear #Preciosas, adaptação de Molière(foto: Ninguém dos Campos/Divulgação)
Grupontapé, de Uberlândia, acaba de estrear #Preciosas, adaptação de Molière (foto: Ninguém dos Campos/Divulgação)

Dramaturgo, ator e um dos fundadores do Grupo Galpão, Eduardo Moreira assina #Preciosas, adaptação de duas obras de Molière: As preciosas ridículas e O improviso de Versalhes. Criada em parceria com Cacá Brandão, a peça foi montada pelo Grupontapé, de Uberlândia. A estreia, há 15 dias, na cidade do Triângulo, foi cercada de importante simbolismo. A companhia acaba de completar 25 anos, comprovando que o teatro segue pulsante no interior de Minas, apesar da crise enfrentada pelo setor artístico.

Sediado em Belo Horizonte, o Galpão, Eduardo Moreira e sua premiada trajetória são referências nos palcos. Porém, a potência do teatro mineiro não se limita à capital. Tem raízes mais profundas, espalhadas por várias regiões do estado. Exemplo disso são as trupes do Grupontapé, do Ponto de Partida, em Barbacena, e do Teatro da Ponte, em São João del-Rei. Todos resistem à crise com muito trabalho.

Um dos fundadores do Grupontapé, Rubem dos Reis conta que tudo começou “por geração espontânea”, em 1994. Surgida da união de amigos e amigas que compartilhavam a vontade de fazer teatro, a companhia percorreu dezenas de cidades brasileiras com cerca de 10 espetáculos. “Já fomos 45 pessoas, hoje somos apenas 13”, diz. No entanto, não falta inspiração para prosseguir. “Por algum motivo, a crise nos instiga. Não queremos nos render e, para isso, temos de produzir de qualquer maneira, na unha”, afirma Rubem.

Odisseia, do grupo Teatro da Ponte, de São João del-Rei, tem sessões lotadas(foto: Mar de Paula/Divulgação)
Odisseia, do grupo Teatro da Ponte, de São João del-Rei, tem sessões lotadas (foto: Mar de Paula/Divulgação)

Missão

O caminho é claro para ele, Kátia Bizinotto e Kátia Lou, também fundadoras do Grupontapé. “Atiramos para tudo que é lado. Temos a missão de estimular o desenvolvimento humano por meio de teatro”, garante. Rubem e as parceiras aplicam a expertise dos palcos em outras áreas profissionais, como o direito e o coaching, por meio de oficinas e cursos ministrados em empresas.

“Queremos levar o teatro para além do palco. Se a gente quiser se legitimar na sociedade, precisamos mostrar que somos necessários”, diz o produtor cultural, preocupado com a imagem pejorativa que, recentemente, vem sendo associada à classe artística.

O mesmo receio é compartilhado por Regina Bertola, fundadora e diretora do Grupo Ponto de Partida, de Barbacena, em completará 40 anos em 2020. “Atravessamos a pior crise desde o governo Collor, que desmantelou tudo. Atualmente, há um grande ataque à classe artística, fazendo com que muitos empresários recuem e enfraquecendo os mecanismos de incentivo”, lamenta.

Porém, Regina não desanima. “O que nos determina é a nossa capacidade de criar. Tivemos um processo de independência financeira, portanto nos especializamos em vender ingressos, vender nossos espetáculos, fazer frentes de trabalho. Construímos a nossa independência artística. Sempre tivemos de ser não apenas bons, mas excelentes. Caso contrário, jamais conseguiríamos espaço”, afirma ela.

“Jamais aspiramos ser o grupo de uma cidade ou região. Nossa inspiração sempre foi o coração do homem, não importa de onde. Para isso, é preciso estabelecer uma relação cordial com o público, estar sempre de olhos e ouvidos abertos. Esta é a chave do sucesso do Ponto de Partida”, resume Regina.

O grupo faz turnês no exterior, é parceiro de Milton Nascimento e se apresentou em quase todos os estados brasileiros. “Falta apenas o Piauí”, contabiliza a diretora do Ponto de Partida. Com 40 espetáculos montados em quase 40 anos – oito no repertório atual –, a companhia mantém seu corpo de teatro com 20 artistas.

O Ponto de Partida diversificou suas atividades. Por meio de parcerias com outros institutos, como Inhotim, transformou uma fábrica desativada de Barbacena em espaço cultural. Lá funcionam um núcleo fixo de pesquisa teatral e a Bituca: Universidade de Música Popular, criada em 2004, que conta com 160 alunos. O “Ponto”, como é chamado carinhosamente por sua diretora, ainda mantém o projeto Meninos de Araçuaí. “Voltamos à nossa origem, somos mais do que um grupo de teatro. Somos um movimento cultural e não ficamos restritos a Barbacena”, reforça.

A peça Vou voltar é um dos sucessos do Ponto de Partida, de Barbacena(foto: Guto Muniz/Divulgação)
A peça Vou voltar é um dos sucessos do Ponto de Partida, de Barbacena (foto: Guto Muniz/Divulgação)


Subversão 


Há 14 anos, o Teatro da Pedra chegou a São João del-Rei, vindo de São Paulo. Na época, o grupo se chamava Manicômicos. Logo fincou raízes no interior mineiro, mas de olho no mundo. “Diferentemente de alguns paradigmas, subvertemos a ordem. Aqui é um centro de recepção de ideias. Temos algumas facilidades em relação às capitais, como o custo de vida mais baixo. Mantemos um espaço de 10 mil metros quadrados e temos tempo para treinar e ensaiar”, afirma Juliano Pereira, fundador e diretor artístico da companhia.

Formado por 13 artistas e com oito espetáculos em repertório voltados para públicos de todas as idades, o grupo procura se conectar com a capital mineira e também com outras cidades. Em 2019, foram 70 apresentações. “Quando a peça Odisseia estreou, fizemos três semanas, de quinta a domingo, sempre lotados, mesmo nos apresentando fora do centro de São João del-Rei”, conta Juliano. Lamentando a falta de incentivos, ele destaca a determinação da trupe de seguir em frente.

“O Teatro da Pedra vem circulando bastante, com apresentações em BH e fora de Minas. Queríamos circular mais, claro. Este é um tempo estranho, com o país em crise, mas damos nossos pulos. Vamos atrás de mil alternativas para conseguir recursos e manter o projeto, principalmente com a venda de nosso trabalho”, informa Juliano.

Um dos desafios é convencer as pessoas de que o teatro deve ser bem remunerado. “Municípios pagam caríssimo por shows, mas negam dinheiro a espetáculos teatrais. Esquecem-se de que nossas peças têm 15 artistas em cena, não é apenas um cantor no palco. Mas temos conseguido formar o nosso público, tijolinho por tijolinho, cidade por cidade.”

Neste fim de semana, o Teatro da Pedra celebrou os 15 anos de seu projeto sociocultural Arte Por Toda Parte (APTP), que já contemplou 30 mil pessoas. Além dele, a companhia oferece curso de formação de novos artistas.

Em BH, Eduardo Moreira orgulha-se dos colegas do interior. “Eles têm profunda conexão com as comunidades. Há comunicação muito forte com o público e com os espectadores em geral, tanto em espetáculos populares quanto por meio de cursos e ações junto a empresas. É uma característica forte desses grupos”, elogia o fundador do Galpão.


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