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Estado de Minas TEATRO

Com entrada franca, Arandu se despede de BH

Espetáculo que fala sobre lendas amazônicas e é dirigido pelo ex-menino de rua Adilson Dias faz última apresentação nesta segunda (11), no CCBB-BH


11/11/2019 06:00 - atualizado 11/11/2019 07:21

Com direção do ex-menino de rua Adilson Dias, Arandu %u2013 Lendas amazônicas é encenada pela atriz macapaense Lúcia Morais(foto: Jackeline Nigri/Divulgação)
Com direção do ex-menino de rua Adilson Dias, Arandu %u2013 Lendas amazônicas é encenada pela atriz macapaense Lúcia Morais (foto: Jackeline Nigri/Divulgação)

A opção pela cultura mudou os rumos da vida do garoto Adilson Dias, um menino que viveu em situação de rua na década de 1990 e foi amparado pela arte, antes que fosse morto, como os colegas, no episódio da Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro. Ele conta que ia beber água todos os dias no CCBB carioca, até que ganhou ingresso para assistir a um espetáculo, fato que mudou sua vida. Hoje, ele se tornou pintor e dramaturgo e seu primeiro trabalho no teatro ganhou o nome de Arandu – Lendas amazônicas, que faz hoje, às 15h, sua última apresentação no CCBB-BH.

No palco, uma índia conta histórias da floresta em uma viagem imaginária pela nossa ancestralidade indígena. De acordo com Adilson, o espetáculo é uma contação de histórias adaptadas para a dramaturgia. “Penso em trazer a plateia para viajar no mundo mágico das lendas amazônicas. Espero que o público se sinta como se estivesse à beira de um rio, ouvindo histórias, do jeito que Lúcia me conta, ou seja, como sua avó fazia com ela quando era criança”.
O espetáculo é baseado em quatro atos: a Lenda do dia e da noite, que fala de uma tribo que vivia em agonia, uma vez que não havia noite; Lenda da vitória-régia, a história da guerreira Naiá; A lenda da fruta amarela, que conta a história de um novo fruto que aparece na floresta; e A lenda do açaí, sobre a crise de alimentos que assolava uma tribo indígena. “A ideia principal é transpor o público, por meio de um passeio poético, para as lendas amazônicas, a um Brasil ancestral, que traz na narrativa oral o veículo de perpetuação da cultura”, ressalta.

Adilson conta que, quando era criança, vivia abaixo da linha da pobreza e, por uma situação de sobrevivência, ia diariamente engraxar sapatos na Central do Brasil, no Rio de Janeiro. “Certa vez, me perdi e fiquei uns três anos sem voltar para casa. E, no Centro, com 11 anos, cheirava cola, assaltava pessoas e vivia na marginalidade. Convivi com aqueles garotos que foram assassinados na tragédia da Candelária, mas, graças a Deus, consegui sair antes do ocorrido.”

O autor lembra que no período em que vivia com as crianças entrava no CCBB carioca para beber água e, um certo dia, a recepcionista lhe deu um ingresso para assistir a uma peça de teatro. “Mesmo vivendo como menor infrator, comecei a frequentar aquele espaço por conta do incentivo desta senhora de nome Tânia Vidal. Saí do Centro e fui morar em Ipanema. Foi também nessa época que um senhor, que era corretor de imóveis, resolveu me ajudar, ligando para a minha mãe. Voltei para casa e escola e um tempo depois dei uma entrevista ao próprio CCBB, contando a minha história.”

Adilson conta que a entrevista ficou guardada por um bom tempo nos arquivos do CCBB. “Há cerca de três anos, um gerente daquela instituição me ligou convidando para fazer uma campanha publicitária, contando a minha história de superação e de como consegui dar a volta por cima. Antes disso, já convivia com Lúcia Morais, uma atriz macapaense, descendente de indígenas e contadora de histórias. Ela sempre me contava histórias de sua terra e lembrava quando sua vó relatava as lendas da região, à beira do rio.”

O autor foi recolhendo as informações de Lúcia e começou a fazer uma pesquisa a respeito. “Reescrevi aquelas lendas, porém colocando mais poesias. Não que não tivessem, mas a narrativa delas era muito linear, só a contação mesmo, faltava teatralidade. Íamos fazer uma apresentação na escola da sobrinha de Lúcia, quando um gerente do CCBB me ligou perguntando se estava montando algum espetáculo. Falei que sim e eles olharam o meu projeto com muito carinho. Assim nasceu Arandu – Lendas amazônicas.”

CULTURA MINEIRA

Adilson esclarece que Arandu é um espetáculo que ressalta a importância da beleza da cultura indígena. Cheio de planos, ele adianta que lançará uma biografia no ano que vem e que pretende voltar a pintar. Com orgulho,  garante que o espetáculo está com a agenda cheia, com convites até para apresentações até na Europa. “Acredito que desde criança há tinha um dom artístico, caso contrário, minha vida não teria tomado esse rumo. Sou um felizardo, pois saí de uma miséria intelectual e financeira.”

O dramaturgo elogia ainda a cultura mineira. “Aqui tem uma das maiores companhias de teatro do mundo, que é o Grupo Galpão, além de grandes poetas. Considero Minas a capital da melodia brasileira. Gosto também da arte sacra, de Aleijadinho, do barroco mineiro. Piso em Minas com muito respeito e com uma vontade muito grande de aprender.” (AP)

SERVIÇO
Arandu – Lendas amazônicas. Nesta segunda (11), às 15h, no Centro Cultural Banco do Brasil ( Praça da Liberdade, 450, Funcionários).Entrada franca.  Informações: (31) 3431-9400. 


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