(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Hoje e amanhã, o diabo vai dar as caras em 'A história do soldado'

Montagem da obra de Stravinsky reúne músicos da Sinfônica de Minas Gerais, bailarinos do Palácio das Artes e o humorista Saulo Laranjeira


06/08/2019 08:00 - atualizado 06/08/2019 09:52

(foto: Paulo Lacerda/Divulgação)
(foto: Paulo Lacerda/Divulgação)

Em meio à destruição e aos horrores da Primeira Guerra Mundial, o compositor russo Igor Stravinsky imaginou a história do soldado regresso do combate que cruzou com o diabo e recebeu uma oferta por sua alma, metaforicamente representada pelo violino. A peça musical estreou em 1918. Porém, o questionamento sobre a condição humana e seus dilemas deu fôlego inesgotável à obra. Na terça (6) e quarta-feira (7), nova montagem de A história do soldado estará em cartaz no Palácio das Artes, unindo Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, Cia. de Dança Palácio das Artes e o ator Saulo Laranjeira.

“O ser humano é único. Independentemente do tempo, alguns arquétipos nunca deixarão de existir, são verdades que fazem parte do ser humano. O amor impossível de Romeu e Julieta, o ciúme e a inveja em Otelo sempre estarão em nossas vidas. É a mesma coisa com essa questão de vender a alma ao diabo, buscar alcançar algo por meio de atitudes ilícitas. São verdades eternas que nos fazem voltar ao teatro. Contamos de outra forma, com outros personagens e outro colorido, mas a verdade é sempre a mesma”, afirma o maestro Silvio Viegas, regente titular da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais.

A montagem manteve a reduzida formação musical proposta por Stravinsky. Sete músicos se encarregam dos naipes de corda (violino e contrabaixo), sopro (clarineta, fagote, trompete e trombone) e percussão. Oito bailarinos executam coreografias de dança contemporânea, interpretando os três personagens principais: soldado, diabo e princesa, além da representação personificada da mente humana. Em alguns momentos, eles surgem duplicados, com movimentos e interações pensados para quebrar a linearidade da história.

“Trabalhamos a partir do texto original, obedecendo à lógica da história, mas desconstruindo a narração com ações que podem vir um pouco à frente ou antes dela. A trama se mantém com começo, meio e fim, mas, por meio da dança contemporânea, desconstruímos esse olhar”, explica Cristiano Reis, coordenador da Cia. de Dança Palácio das Artes, ressaltando a força do gestual dos artistas em cena.

TECIDO Por sua vez, o violino é substituído por um tecido vermelho, que ganha essa e outras representações na cenografia. A duplicação de personagens, diz o coreógrafo, deixa a peça “mais dinâmica e menos enfadonha”, ao provocar o estranhamento no público, “rompendo o maniqueísmo entre bem e mal, sobretudo na figura do diabo”.

Entre a música clássica e a dança contemporânea surge o conhecido traquejo popular do ator e humorista Saulo Laranjeira. Ao narrar o texto, ele oferece maior entendimento sobre a trajetória dos personagens e acaba virando parte do espetáculo, explica Cristiano Reis.

“Saulo interage bastante com a dança. A narração manipula o público a ver determinada coisa. Então, trabalhamos esse contraponto. Além de o movimento contradizer a narração em alguns momentos, em outros o narrador vai para a cena. Numa delas, até o maestro deixa a regência e participa, sentando-se à mesa com o narrador e o diabo para um jogo de cartas. Temos essa possibilidade de misturar linguagens e quebrar as regras”, diz.

ELO Saulo Laranjeira define sua participação como “o elo entre a coreografia e a orquestra”. De acordo com ele, que fez o papel em 2018, a narração é densa e com muitos detalhes. “É necessária uma entonação de voz para criar a atmosfera do contador de histórias. Prender a atenção das pessoas, com texto muito longo, é o maior desafio. Além disso, faço citações musicais, e a coisa fica mais complexa, pois a fala fica meio cantada. É preciso estar muito atento às marcações para dar conta de tudo isso sem perder o ritmo”, aponta o ator.

Responsável pelo convite a Laranjeira, o maestro Silvio Viegas destaca que a obra original foi concebida com a ideia intertextual entre dança e música. Ao estabelecer a narração, as possibilidades são ampliadas, observa. “A nossa versão condensa a atuação do narrador. Ele interpreta o diabo e o soldado como uma pessoa só, enquanto os bailarinos encenam isso fisicamente por meio da coreografia. Nossa ideia é manter a conexão entre os personagens. Isso é possível principalmente quando há um artista tão competente como o Saulo, com bagagem tão grande, muito conhecimento e sabedoria. Ele é um dos maiores atores brasileiros vivos, a pessoa capaz de amarrar bem essa história. Com a narração, ele emoldura o espetáculo”, diz Viegas. Lançada em setembro do ano passado, a montagem é reapresentada com novidades na coreografia.

A HISTÓRIA DO SOLDADO
Palácio das Artes. Av. Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. De Igor Stravinsky. Com Orquestra Sinfônica de MG, Cia. de Dança Palácio das Artes e Saulo Laranjeira. Nesta terça (6), às 20h30. R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). Quarta (7), às 12h, com entrada franca. 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)