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Estado de Minas

'Lama', peça sobre rompimento da barragem de Mariana, volta ao cartaz após tragédia em Brumadinho

Espetáculo do Teatro Andante será exibido a partir de quinta (14), na Funarte, dentro da programação da 45ª Campanha de Popularização do Teatro e da Dança


13/02/2019 08:50 - atualizado 13/02/2019 17:29

Integrantes do Teatro Andante foram até as áreas atingidas pelo rompimento da Barragem de Fundão para construir seu espetáculo(foto: Clau Silva/Divulgação)
Integrantes do Teatro Andante foram até as áreas atingidas pelo rompimento da Barragem de Fundão para construir seu espetáculo (foto: Clau Silva/Divulgação)
Em junho do ano passado, o coletivo Teatro Andante estreou o espetáculo Lama, em que retrata o rompimento da Barragem de Fundão, da Samarco, em Mariana, e as consequências para a população local do desastre, ocorrido em novembro de 2015. A montagem, que volta ao cartaz a partir de amanhã (14) como parte da 45ª Campanha de Popularização do Teatro e da Dança, ganhou novas dimensões com a tragédia de Brumadinho, no último dia 25.

O foco do espetáculo continua sendo o desastre de Mariana, mas o texto foi atualizado após o rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, episódio que colocou em evidência as falhas na prevenção de acidentes como esse e a lentidão na apuração e punição dos culpados. Lama incorpora à sua narrativa fotografias, vídeos e leitura de textos jornalísticos para abordar aspectos como negligência envolvendo a aplicação das leis ambientais e o insuficiente ressarcimento dos atingidos.

“Dizíamos sempre, durante a montagem, que o ocorrido em Mariana era a maior tragédia ambiental ocasionada pela mineração no Brasil. Já não é mais”, afirma Marcelo Bones, cocriador do Teatro Andante e diretor de Lama. “Para nós, que tivemos uma proximidade com os atingidos pela primeira tragédia, esse novo desastre toma uma dimensão ainda maior.”

Após a temporada de estreia, o coletivo levou a peça para as cidades de Mariana e Barra Longa, em dezembro de 2018. “Queríamos que eles vissem o resultado artístico feito a partir do drama que viveram. O que mais escutamos por lá é que esse é um espetáculo necessário. Se não falarmos a respeito, a mineração irresponsável continuará a produzir tragédias”, diz Bones.

ESQUECIMENTO A narrativa é dividida em três atos. No primeiro, é retratado o dia a dia dos moradores de Mariana antes do rompimento da Barragem do Fundão. Na sequência, vem a onda de lama e a reação dos moradores de Bento Rodrigues e de Barra Longa, ambos devastados pela tragédia. Por fim, o texto investe em um futuro distópico, em que nada foi feito para reparar as vítimas e o meio ambiente.

Lama nasceu do desejo do Andante de não deixar que aquele crime ambiental, de proporções tão grandes, caísse no esquecimento. “Fizemos o espetáculo justamente com a intenção de contribuir para que a história não se repetisse”, conta a atriz Ângela Mourão, também fundadora do grupo.

“São duas situações que dizem respeito a todos, principalmente aos cidadãos de Minas Gerais. Estamos muito próximos do local das tragédias. É possível que muitos à nossa volta tenham vínculos com moradores das cidades atingidas ou daquelas que ainda correm grande risco”, observa.

Em Lama, ela divide o palco com os atores Bruna Sobreira e Thiago Amador. A dramaturgia é assinada pelos próprios atores e por Guiomar de Grammont.

PESQUISAS O primeiro passo para a concepção do espetáculo foi a ida dos artistas às localidades afetadas, Mariana e Barra Longa. “Logo que começamos as pesquisas, vimos que era preciso juntar a nossa voz à dos atingidos, que até hoje sofrem situações injustas de não reparação. As empresas responsáveis fazem atos de morosidade, atrasos e economia em relação a eles”, afirma Ângela.

Por lá, os atores estreitaram a relação com os atingidos, ouviram relatos íntimos e tiveram uma noção mais concreta da dimensão da catástrofe humana e social. Depararam-se com um passado destruído, não apenas nas esferas individuais, mas também o de uma cidade histórica, com construções do período colonial. Em meio às pesquisas, o coletivo manteve em mente a preocupação de não explorar as mazelas humanas com a nova montagem.

“Nosso desafio foi transformar todo o material coletado em arte. Não queríamos um espetáculo meramente informativo. Nossa busca é passar a informação por meio de uma mensagem poética, sensível e simbólica”, conta Ângela. “Em geral, acontecimentos acabam virando dados, números e distâncias. Quisemos contribuir para que a tragédia não fosse esquecida, partindo da humanização dessa história, mostrando a dor de pessoas que tiveram vidas e relações interrompidas.”

Para a atriz, Lama é mais um ato político na trajetória do Teatro Andante, na estrada desde 1990. “O engajamento não está presente apenas nas nossas cenas. Desde nosso primeiro ano, temos como lema ‘tentar ir aonde o teatro não consegue chegar’”, diz ela.

Após cada sessão, os atores abrem espaço para convidados, que debatem com o público sobre ações de intervenção e agregam às reflexões levantadas pela dramaturgia. Na reestreia, o espetáculo recebe políticos e artistas. Para os próximos dias estão previstas performances, videoinstalação, a participação de órgãos de apoio às vítimas de Mariana e um de coletivo de psicólogos – que notaram o impacto da tragédia mais recente junto a seus pacientes.

LAMA
Espetáculo do Grupo Teatro Andante. De 14 a 24 de fevereiro. De quinta a domingo, às 20h. Funarte – Rua Januária, 68, Centro. (31) 3213-3084. Ingressos a R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada, nos postos Sinparc ou pelo site www.vaaoteatromg.com.br).

Espelho tem sessão única

“Primeira-dama do teatro mineiro”, Wilma Henriques volta ao palco em sessão única da comédia Espelho, em cartaz nesta quarta (13), no Cine Theatro Brasil. A peça leva o nome da atração apresentada pela veterana na extinta TV Itacolomi, a partir de 1959. Wilma interpreta Vida, apresentadora de um programa feminino. Com a montagem, Wilma comemora 60 anos de carreira e 88 de vida – que se completam na próxima sexta-feira (15).

 

Com Carluty Ferreira no elenco e direção de Magdalena Rodrigues para texto de Jair Raso, a peça tem sessão às 21h, com ingressos a R$ 40 (inteira), R$ 20 (meia-entrada) e R$ 18 (nos postos Sinparc e pelo site www.vaaoteatromg.com.br). O Cine Theatro Brasil fica na Praça Sete, Centro. (31) 3201-5211.


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