Quando uma porta se fecha, outra se abre, diz o senso comum. Pois é com algumas portas abertas e outras fechadas que o Giramundo dá início a 2019. Inaugurado há 18 anos na Floresta, o Museu Giramundo ficará inacessível à visitação durante todo o novo ano. O teatro que funciona no mesmo espaço, na Rua Varginha, também não será utilizado.
Algumas razões motivaram o fechamento. Uma é a dificuldade de sua manutenção e a necessidade de se fazer melhorias no local. “Temos o apoio da Prefeitura, que é constante e valioso. Mas o que sustenta um museu é um programa de atividades, e como o teatro é pequeno, ele não consegue ter uma grande bilheteria. A conta não estava fechando”, afirma Marcos Malafaia, um dos diretores do Giramundo.
O encerramento temporário dessas atividades também foi uma forma de o grupo olhar para a frente, pensando no futuro próximo. Em 2020, o Giramundo dá início às comemorações de seus 50 anos – para tal, seus integrantes preveem melhorias no espaço físico e a realização de alguns projetos.
Mesmo com esta parada, a sede do grupo está em pleno vapor. Em meio à ressaca do réveillon, a oficina e o ateliê estão em atividade. O Giramundo tem apenas seis semanas para construir 27 bonecos que estarão em seu novo espetáculo.
TEMPORADA
Em 14 de março, estreia no Centro Cultural Banco do Brasil O pirotécnico Zacarias. A montagem, inspirada no conto de Murilo Rubião (1916-1991), com direção de Marcos Malafaia, cumprirá temporada, até outubro, nas quatro unidades do CCBB (BH, São Paulo, Rio e Brasília).
Antes disso, já em fevereiro, Beatriz Apocalypse dirige outra peça do grupo. Os orixás (2001), último espetáculo de Álvaro Apocalypse (1937-2003), um dos fundadores do Giramundo, vai voltar ao cartaz com uma remontagem. Reestreia, agora com nova trilha sonora (dirigida por Sérgio Pererê e com a participação de músicos como Maurício Tizumba), em 7 de fevereiro, no Teatro Municipal de Nova Lima.
E há ainda um terceiro espetáculo, este em início de preparação. Depois de quatro anos de namoro, saiu do papel o projeto Água, que vai unir o Giramundo ao duo paulistano Palavra Cantada, de Sandra Peres e Paulo Tatit.
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Ela contabiliza um acervo de 1,5 mil bonecos. Mas este número pode ser maior. No último andar da casa onde funciona o museu e o teatro – nas outras funcionam ateliê, oficina, estúdio de animação e a parte administração – está a maioria deles.
MONSTRINHOS
A conversa com a reportagem se dá à vista de Groco e Ziglo, os monstrinhos que acompanham o Pato Fu na turnê Música de brinquedo. Ao seu lado estão princesas, dragões, cobras, palhaços. Um Pinóquio não acabado também faz parte do grupo. Foi ele o último boneco que Apocalypse fez – o artista morreu antes de concretizar a montagem de Pinocchio, que o Giramundo só estreou, com um novo conceito, em 2005.
“Somos um grupo sui generis. Nenhum outro tem 20 espetáculos ativos”, aponta Malafaia. Um dos planos para celebrar a efeméride do cinquentenário é fazer um festival retrospectivo que reúna montagens de diferentes fases. “Isso permitiria ao espectador ver (os espetáculos) como um grande filme”, acrescenta. Além desse festival, o Giramundo quer repassar sua trajetória com a produção de um documentário e de um livro.
“Este fechamento provisório é necessário para fazer o ‘para casa’. Precisamos fotografar, identificar, organizar e limpar todos os bonecos, e não dá para fazer isso com o museu aberto”, afirma Malafaia. “O museu precisa de manutenção, além de um plano de acessibilidade”, acrescenta Beatriz, lembrando que o grupo está procurando apoio para que melhorias sejam feitas.
“Temos problemas grandes com insetos aqui, pois os bonecos são deliciosos para os cupins, então o museu é uma espécie de delicatessen para eles. Álvaro falava que o melhor jeito de conservar um boneco é mantendo-o em cena. Com um boneco em movimento, o marionetista está sempre cuidando dele”, conta Malafaia.
Pelo andar da carruagem, uma parte relevante do acervo do grupo estará em movimento neste ano. Além das três montagens programadas, o Giramundo conta com seu vasto repertório. Já neste mês, o grupo leva um de seus espetáculos mais conhecidos – Pedro e o lobo, de 1993 – para a Campanha de Popularização do Teatro e da Dança. O musical será apresentado no ItaúPower Shopping, em Contagem, a partir do próximo dia 12.