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Estado de Minas

Cia. Fusion de Danças Urbanas completa 15 anos com nova montagem

Grupo, que já fez do Viaduto Santa Tereza seu local de ensaios, tem hoje sede própria, já se apresentou na França e planeja uma categoria de base para formar novos talentos


19/06/2018 08:57 - atualizado 19/06/2018 08:59

'Pai contra mãe' é um das montagens do grupo(foto: Pablo Bernardo/Divulgação)
'Pai contra mãe' é um das montagens do grupo (foto: Pablo Bernardo/Divulgação)
Hoje com 34 anos, Leandro Belilo se recorda com nitidez da infância de brincadeiras pelas ruas do bairro Pompeia, Região Leste de Belo Horizonte, onde vive até hoje. O garoto, no entanto, não era da turma do futebol. Leandro sempre foi da dança – breaking, dancehall, street jazz, entre outras da cultura hip-hop que, mais tarde, o levariam longe. Especificamente, ao lugar de diretor da Cia. Fusion de Danças Urbanas, que ele considera ser a primeira companhia profissional de dança de rua da capital mineira. Com seis espetáculos no repertório, o grupo completa 15 anos neste 2018.


No ano passado a Fusion realizou sua primeira turnê europeia, com apresentações e oficinas realizadas entre outubro e novembro do ano passado em três cidades francesas – Lillie, Brest e Ergué-Gaberic. “Quando olhávamos para os teatros tão grandes, rolava uma pontinha de dúvida: ‘Será mesmo que a plateia vem nos ver?’. Mas o público compareceu em peso em todas as sessões. Os franceses gostam muito de dança de rua, essa cultura por lá é muito forte, então fomos muito bem recebidos. Essa turnê foi uma experiência muito bacana e enriquecedora para nós, sem dúvida”, afirma Belilo.

O Brasil é razoavelmente conhecido pelo bailarino e sua trupe, que já percorreram 26 cidades do país, apresentando espetáculos como Pai contra mãe (2016), cujos movimentos desenham as cicatrizes de um Brasil escravocrata, que desafia sobretudo as mulheres negras; Meraki (2013), expressão grega que significa “fazer algo com alma”, e que traduz o próprio espírito dos dançarinos; e Quando efé (2014), que incorpora elementos da mineiridade. Os três têm trilhas originais, compostas por Isadora Rodrigues, que é também produtora da companhia, e o músico Matheus Rodrigues, entre outros colaboradores.

“O que buscamos é uma linguagem própria de dança cênica, que traz reflexões sobre questões do nosso presente, que mostre as nossas raízes e as do mundo em que estamos inseridos. E isso implica, às vezes, deixar o espectador desconfortável. Pai contra mãe, por exemplo, vai direto nas feridas abertas pelo machismo, pelo racismo. Então, quem vai ao teatro nos assistir pensando que verá um conjunto de passos e acrobacias se surpreende”, diz Leandro. Em BH, a Fusion produz ainda o Festival Orbe de Danças Urbanas, realizado no CCBB e pelos centros culturais da capital, com programação composta de shows, oficinas e batalhas de improviso.

FARMÁCIA A história de Leandro Belilo com a dança de rua começou no mesmo ponto que a de muitos profissionais das artes: numa brincadeira. A Cia. Fusion de Danças Urbanas nasceu em 2002 na periferia da capital como um grupo amador, fruto de uma reunião de amigos que gostavam de dançar. A sobrevivência do artista, àquela altura, vinha de outras fontes. Leandro era empregado de uma farmácia, mas já sabia que aquela não era sua tribo.

Inicialmente contratado como office boy, até chegou a progredir na empresa. “Mas o salário ia todo para a dança! Inclusive porque eu pagava os colegas para trabalhar no meu lugar nos plantões de fim de semana. Como os festivais geralmente ocorrem aos sábados e domingos, não dava para perder. Então, boa parte da grana que eu ganhava ia para pagar outras pessoas para ficar no meu lugar enquanto eu saía para dançar”, conta.

O mergulho total na vocação veio bem antes de qualquer estabilidade como bailarino. “Larguei tudo para viver como professor de street dance. Para economizar, ia trabalhar de bicicleta. Era um suor e tanto, porque eu gastava energia durante as aulas. Depois, ainda tinha mais uns quilômetros para enfrentar pedalando de bike.”

O árduo percurso do dançarino inclui também ensaios de vários dos espetáculos do repertório da trupe embaixo do viaduto Santa Tereza. “Havia tempos em que rolava uma permuta com as academias da cidade. A gente dava aulas em troca de poder usar o espaço deles. Só que nem sempre isso era possível, então o jeito era dançar sob o viaduto mesmo”, relata Belilo.

Em 2011, veio, finalmente, a Cafuá, a sede da Fusion. Situado no bairro Carlos Prates, o local também funciona como escola especializada em dança de rua e espaço para eventos artísticos. Entre as modalidades oferecidas na academia estão o dancehall (ritmo jamaicano que mistura reggae, hip- hop e outras influências), street jazz (mistura de hip-hop e jazz dance), house (vertente que mescla danças urbanas com salsa, sapateado e capoeira), danças africanas e vogue.

Belo Horizonte tem sido considerada a capital brasileira deste último estilo, que nasceu em Nova York e é inspirado nas poses e passadas performadas por modelos nas passarelas e ensaios fotográficos. Mas a cidade não acolhe bem apenas os adeptos dessa modalidade. Segundo Belilo, para quem gosta de dança de rua, BH e região metropolitana constituem um dos melhores lugares para se viver no Brasil. “Somos muito bons nisso, e esse reconhecimento vem inclusive de fora. Basta lembrar que o vice-campeão de um dos maiores festivais de danças urbanas do mundo, o Just Debout, é um menino aqui de Santa Luzia, o Black A. Precisamos valorizar isso”, argumenta.

MEXERICA O sétimo espetáculo da companhia já está pronto. Destinada a crianças, a montagem intitulada Mexerica tem estreia prevista para 12 de julho, no CCBB, com temporada até 19 do mesmo mês. Com trilha original assinada pelos irmãos Isadora e Matheus Rodrigues, a apresentação narra as aventuras de Mexerica, uma gata dançante e curiosa, ao lado de sua amiga Sardinha. Juntas, elas exploram um universo habitado por vários outros bichos do hip-hop, entre cães, coelhos e um pássaro b.boy.

A coreografia conta com tradução em libras executada de um jeito inédito. “A gente estudou essa linguagem e a incorporou na própria dança. Então não vai ter um tradutor de libras. Os próprios bailarinos é que farão isso naturalmente, com seus movimentos”, explica o dançarino.

Outros planos para o futuro pipocam na mente do garoto do bairro Pompeia que escolheu passar a vida dançando. Um deles é Recado do morro, novo espetáculo que integrará o repertório da Fusion. “O outro é a Fusion Base, uma categoria de base da Companhia. A ideia é atuar na formação de novos talentos”, diz Belilo.


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