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Estado de Minas

Em cartaz em BH, Talvez eu me despeça, ensina a lidar com a perda

De hoje a domingo, peça teatral de Beatriz França, tem sessões na Casa do Beco com entrada gratuita


14/06/2018 08:30 - atualizado 14/06/2018 09:19

(foto: Vinícius de Carvalho/Divulgação)
(foto: Vinícius de Carvalho/Divulgação)

A morte de uma pessoa próxima pode ser um evento traumático. Para Beatriz França, entretanto, o assassinato da melhor amiga, a atriz Cecília Bizzotto, foi um gatilho para criar a peça Talvez eu me despeça (foto). Com algumas alterações para manter o trabalho atual, Beatriz faz uma pequena turnê, a partir dessa quinta (14), em centros culturais de Belo Horizonte, começando pela Casa do Beco, na Barragem Santa Lúcia.

“Quando a Ciça morreu, que era como eu a chamava, foi uma comoção geral, por ter sido uma coisa estranha, brutal”, conta Bião, como foi apelidada carinhosamente pela amiga. A amizade surgiu em ensaios de um grupo de teatro. “Fui convidada para fazer parte de uma companhia que estudava Shakespeare. Ela já fazia parte desse grupo, e nos conhecemos lá. Descobrimos que éramos vizinhas, e essa proximidade nos uniu cada vez mais, a ponto de trocarmos confidências, estar presentes todos os dias na vida uma da outra”, relembra. Foram 10 anos de convivência encerrada abruptamente em um latrocínio.

A peça pode ser considerada teatro-documentário, gênero que explora características autobiográficas. “Não conhecia essa terminologia, fui ter contato apenas por causa do meu desejo de fazer esse trabalho homenageando a Cecília e falar da minha dor na perda dela. O vestido que eu uso em cena era dela, o batom é na cor que ela sempre usava, tudo com aprovação da família, que inclusive me concedeu fotos para compor a apresentação”, conta.

Depois de uma apresentação em 2015, a dramaturgia tomou um rumo diferente. “Recebi um grupo de adolescentes em regime de semiliberdade, eles não sabiam direito do que se tratava a peça”, lembra. Beatriz explica que, por ser um texto autobiográfico, mudanças precisam ser feitas porque sentimentos que faziam parte de um contexto específico deixam de fazer sentido em outros momentos. A partir daí, o espetáculo ganhou aspectos sociais, que dão voz a pessoas, muitas vezes silenciadas, com a realidade da perda de maneira mais constante, segundo ela. “Esses jovens perdem pessoas próximas com muito mais frequência nas guerras urbanas que vivemos hoje. O meu sofrimento apaziguou pelos sofrimentos maiores vividos por eles e pessoas próximas a eles. Comecei a querer falar, principalmente com mulheres, dos assassinatos que elas vivem todos os dias, seja um assassinato real, seja um simbólico com o silenciamento, a não garantia dos direitos.”

Beatriz resume o espetáculo como “uma carta de despedida”. “Ao longo da peça, meu adeus para a Ciça vai se tornando uma despedida do público, depois uma do público com ele mesmo”, explica. A atriz relata que o público se posiciona em um círculo, com a cena no centro e, por isso, as pessoas ficam de frente umas para as outras. “Ficam o tempo todo me vendo, mas se encarando também. E a proposta é a despedida, então, eles têm a chance de se despedir de pessoas que possivelmente não verão nunca mais.”

Ao final, a atriz não volta para se encontrar com o público, mas se diverte com o relato que as pessoas passam para a diretora, responsável por esse contato. “A Ludmilla já recebeu muita gente impressionada por ser ‘muito real’, de gente que se questiona se é só uma peça. Acho isso até engraçado, mas penso que é trabalho benfeito”, conta Beatriz. Apesar da densidade do tema, a atriz define o espetáculo como “uma festa inusitada”. “São vários rituais de despedida, mas é uma forma de encarar a dor da perda de uma maneira mais leve e transformá-la em arte. Hoje, depois de quatro anos, não me dói mais encenar a peça. Pelo contrário, me vem uma lembrança boa da minha amiga, e é isso que vou levar dela para o resto da minha vida.”

TALVEZ EU ME DESPEÇA
Direção: Ludmilla Ramalho. Solo de Beatriz França. De hoje a domingo, às 20h, na Casa do Beco (Av. Arthur Bernardes, 3.876, Barragem Santa Lúcia, (31) 3297-1455). Entrada franca. Classificação: 12 anos.



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