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Estado de Minas

Em cartaz em Belo Horizonte, Renata Sorrah fala sobre os quase 50 anos de carreira

Atriz, que apresenta na capital a peça Preto, da Companhia Brasileira de Teatro, diz que nunca escolheu seus personagens levada por uma ego trip, mas sim pela importância do texto e seu diálogo com a sociedade


28/04/2018 08:17 - atualizado 28/04/2018 08:39

"Tenho orgulho da minha carreira e das minhas escolhas feitas a partir da importância e da necessidade de falar sobre aquilo. Nunca fiz escolha numa ego trip. A importância do assunto naquele texto é determinante" - Renata Sorrah, atriz (foto: Marcos Vieira/EM/D.A PRESS )

Dona de uma galeria de personagens que marcaram o teatro e a televisão, Renata Sorrah está em cartaz em Belo Horizonte até a próxima segunda (30) com a peça Preto, da Companhia Brasileira de Teatro. Em conversa com o Estado de Minas sobre o novo trabalho e as quase cinco décadas de carreira, esbanjou bom humor até com o fato de hoje ser reconhecida nas ruas pelos memes gerados a partir de uma cena sua na novela Senhora do destino (2004), de Aguinaldo Silva, na qual interpretou a vilã Nazareh Tedesco.

“Outro dia, em um restaurante aqui em Belo Horizonte, duas meninas que não tinham idade para ter visto a novela disseram: ‘A moça dos memes’”, contou, bem-humorada. Ela diz não se importar com as brincadeiras. Só perde o humor quando relembra ter sido vítima de fake news. Recentemente, a atriz soube por sua irmã, Suzana, que estavam circulando na internet inverdades sobre ela. “É uma atitude tão covarde dizer que uma pessoa está falando alguma coisa, que, na verdade, ela não está”, afirma Renata, que completou 71 anos em fevereiro.

Às vésperas de comemorar 50 anos de carreira, a atriz também sai do sério quando o tema são as políticas públicas para a cultura, ou melhor, a falta delas. “Nossa profissão é uma luta. É quase uma guerrilha. Agora temos problemas sérios com nosso registro. Todos nós somos trabalhadores, artistas, e temos de ter direito aos benefícios trabalhistas. Espero que não passe”, disse. Ela se referia à votação prevista no Supremo Tribunal Federal que pode desregulamentar as profissões de ator e músico, extinguindo a necessidade de registro profissional para essas categorias.

Em relação ao país, Renata não está otimista. “Não está nada bom. Não sabemos o que vai acontecer.” Ela pisou no palco pela primeira vez em Coronel de Macambira, espetáculo amador dirigido por Amir Haddad. Era o auge da ditadura e, como relembra a atriz, a tensão em cena era grande, com a ameaça de invasão da polícia a qualquer momento. De lá para cá, Renata Sorrah construiu uma carreira repleta de personagens inesquecíveis, que fizeram o público ficar com os olhos grudados no palco e na telinha.

Além de imortalizar Nazaré Tedesco, ela brilhou como Leonor Newman (Brilhante, 1981), Blanche Paes Leme (Guerra dos sexos, 1983), Heleninha Roitman (Vale tudo, 1988) e Pilar Batista (Pedra sobre pedra, 1992). A próxima novela de Aguinaldo Silva, com título provisório de O sétimo selo, deve acrescentar mais um personagem de primeira linha na carreira de Renata. As informações extra oficiais dão conta de que o autor quer a atriz interpretando uma transexual. “Não vou entrar nesse assunto, por que não tem nada resolvido. Só posso falar uma coisa: as trans têm toda a razão”.

No teatro, ela coleciona outra série de grandes personagens em montagens relevantes. Ela mesma lembra os dois Tchecov – As três irmãs (1988) e A gaivota (1973) –, Shakeaspeare – Noite de reis (1977) – e Eurípides – Medéia (2014) que encenou. “Tenho orgulho da minha carreira e das minhas escolhas feitas a partir da importância e da necessidade de falar sobre aquilo. Nunca fiz escolha numa ego trip. A importância do assunto naquele texto é determinante”.

APRENDIZADO 

Renata abre um sorriso quando comenta sua participação na Companhia Brasileira de Teatro. “São cinco anos de muito aprendizado, de troca entre a gente. É muito interessante o método como fazem a pesquisa, a dramaturgia e como trabalham”. O encontro com o grupo surgiu por acaso, em uma sessão de Vida, no Teatro Tom Jobim, no Rio de Janeiro. “Fiquei louca com o que vi”, afirma.

O curioso é que Márcio Abreu, fundador e diretor do grupo, queria conhecer a atriz. Foi sopa no mel e, pouco tempo depois, estavam trabalhando juntos, frequentando cinema. Houve até uma viagem a Paris para conhecer o dramaturgo Joël Pommerat, autor do texto Esta criança, montada pelo companhia em 2012. “Renata Sorrah é uma das artistas fundamentais para o país. Sobretudo nesse momento de golpe, com a arte cerceada e com a tentativa de se calarem vozes que não se calaram”, afirma Márcio Abreu. Para o diretor, a atriz é uma grande artista de teatro que empresta seu carisma e talento para a cultura de massa de jeito sensível e inteligente. Ela é devotada ao ofício”.


Os elogios às suas qualidades dramáticas vêm de todos os lados. O radialista Tutti Maravilha conheceu Renata por meio de Fernanda Montenegro, no início dos anos 1980. Ficaram quase duas décadas sem se encontrar, até a semana passada. “Ela tem uma coisa muito forte. Ao interpretar seus personagens, toma conta deles e se transforma em dona deles”, observa.

Para marcar suas cinco décadas de carreira, Renata Sorrah tem um projeto para um livro de memórias com fotos e registros de seus trabalhos. Ainda faltam, no entanto, editora e patrocinador.

DEBATE COM O PÚBLICO
Hoje, às 16h, a Companhia Brasileira de Teatro promove bate-papo com o elenco da peça Preto, o diretor Márcio Abreu, a professora Leda Maria Martins, o professor e escritor Marcos Alexandre e a professora Soraya Martins. Com o tema “Artes Presenciais no Teatro”, o encontro pretende expandir a discussão sobre os métodos e possibilidades do teatro e das demais artes, a partir da experiência de montagem de Preto. Com entrada franca, o bate-papo ocorre no Teatro 1 do CCBB.

PRETO
Dramaturgia: Marcio Abreu, Grace Passô e Nadja Naira. Direção: Márcio Abreu. Com Cássia Damasceno, Felipe Soares, Grace Passô, Nadja Naira, Renata Sorrah e Rafael Lucas Bacelar. No CCBB (Praça da Liberdade, 450, Funcionários, (31) 3431-9400). Às 20h. Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). Até 30/4 (segunda-feira).

ATRIZ VERSÁTIL
Renata Sorrah tem personagens marcantes também na teledramaturgia

Leonor Newman em Brilhante (1981) / Heleninha Roitman em Vale tudo (1988) / Nazareth Tedesco em Senhora do destino (2004)(foto: Acervo TV Globo/Divulgação )
Leonor Newman em Brilhante (1981) / Heleninha Roitman em Vale tudo (1988) / Nazareth Tedesco em Senhora do destino (2004) (foto: Acervo TV Globo/Divulgação )


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