Preto, espetáculo da Companhia Brasileira de Teatro, estreia nesta quinta (12) no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB BH), propondo discussão sobre a coexistência das diferenças. “Preto fala da tentativa desesperada de diálogo entre pessoas tão diferentes, negras e não negras, a partir de questões relacionadas à negritude”, afirma a atriz e dramaturga Grace Passô, que, além de atuar, assina a dramaturgia com Márcio Abreu e Nadja Naira. Com direção de Marcio Abreu, o espetáculo traz no elenco a atriz Renata Sorrah e os jovens atores mineiros Felipe Soares e Rafael Lucas Bacelar. Preto é desdobramento de Projeto Brasil, desenvolvido pela Companhia Brasileira de Teatro e apresentado em 2015. O espetáculo cumpriu temporada no Rio de Janeiro e em São Paulo e foi encenado em Frankfurt e Dresden, na Alemanha, e em Paris, na França.
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Grace lembra que faz parte da dramaturgia da Companhia Brasileira de Teatro não usar “referências diretas” na construção do espetáculo, que não se constitui como uma narrativa. Nas palavras de Grace, a peça traz inventário, coleção de imagens, frases e referências e questionamentos sobre negritude. “A voz dos atores vaza entre o público, mas não é interatividade. É um procedimento que dissolve a fronteira entre o público que escuta e o ator que fala”, adianta a dramaturga.
Márcio explica que a pequisa para Projeto Brasil ocorreu entre o final de 2012 e o início de 2013. “Naquele momento, era evidente que Projeto Brasil teria desdobramento. Todas as questões levantadas não caberiam numa peça só. “Como pensar o Brasil sem passar pela questão mais fundamental da formação do país, a história não contada a partir da diáspora negra, a dimensão do racismo?”, questiona Márcio.
A companhia se viu diante do desafio de tratar de assunto tão vasto quanto importante para construção de uma sociedade mais igualitária no país. “Decidimos que não iríamos falar sobre racismo, negritude, mas a partir disso”, afirma Márcio.
O elenco é formado por artistas com distintas trajetórias profissionais, brancos e negros, cujas diferenças suscitaram reflexões durante a montagem. “O processo de criação foi explosivo, por tudo”, lembra Grace, dizendo o quanto esse aspecto é positivo.
“O diálogo sobre a questão da negritude parece algo tão possível e, ao mesmo tempo, tão impossível”, afirma Grace. A atriz ressalta o quanto o texto dialoga com o momento atual do Brasil. Para Márcio, não haveria como ser diferente: “É um espetáculo muito importante nesse momento de dificuldade, perplexidade e muita violência social que o Brasil vive a partir do golpe”.
A Cia. Brasileira não mantém um grupo fixo de atores. Cada trabalho promove encontros artísticos. Em Preto, as parcerias ocorrem com Grace, Felipe e Rafael. “Não é um convite para fazer um trabalho e mais nada. É algo dinâmico. Há atravessamentos, diálogos com os artistas”, afirma Márcio. A parceria com Grace vem deste o início dos anos 2000. Coletivo de artistas de várias regiões do Brasil, a companhia foi fundada por Márcio Abreu em 2000, em Curitiba, no Paraná.
PRETO
Direção de Marcio Abreu, com Cássia Damasceno, Felipe Soares, Grace Passô, Nadja Naira, Renata Sorrah e Rafael Lucas Bacelar. De quinta a segunda, às 20h, até 30 de abril. Teatro 1 do CCBB-BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários, (31) 3431-9400). Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).