Macunaíma Gourmet: versão moderna do clássico de Mário de Andrade estreia em BH

Obra emblemática ganha releitura atualizada em peça do grupo mineiro Pigmalião Escultura Que Mexe no Teatro Francisco Nunes

Márcia Maria Cruz
Eduardo Félix/Divulgação - Foto: Eduardo Félix/Divulgação
O grupo Pigmalião Escultura Que Mexe comemora 10 anos apresentando Macunaíma gourmet, que estreia na quinta-feira (14/9), no Teatro Francisco Nunes. Livre adaptação do clássico de Mário de Andrade, o espetáculo mostra “o herói sem caráter” no Brasil contemporâneo.


“Sempre foi vontade nossa trabalhar com esse texto, mas o momento ainda não tinha chegado. O contexto do nosso país, com os escândalos, foi bem decisivo para que pudéssemos montá-lo. Macunaíma é uma crítica de outra época, dos anos 1920, mas ainda muito atual”, diz Eduardo Félix, diretor do Pigmalião.


Se o texto original, marco do Modernismo, é emblemático ao propor a antropofagia cultural, Macunaíma gourmet defende a antropofagia social. “Vivemos num país de contrastes muito grandes. Vínhamos de avanços sociais que foram barrados. Agora, está escancarada a estrutura do poder”, explica Félix.


O termo gourmet, além de demarcar a crítica ao modismo que sofistica os produtos na área de gastronomia, permite trazer questões do texto de Mário de Andrade para os dias atuais. A antropofagia social pode ser exemplificada com a política de expulsão e extermínio dos índios nas terras que lhes são de direito.


“Em nosso país, quem come quem?”, pergunta Félix, ao falar do processo de preparação da carne de Macunaíma.

“Tudo é transformado em produto de luxo, sofisticado para os bons paladares”, observa. O texto fala do frigorífico da Continental. Na obra original, é lá que Venceslau Pietro Pietra compra a carne de paulistas.

PARCEIROS O espetáculo, ressalta Eduardo Félix, nasceu de parcerias do Pigmalião na dramaturgia, trilha sonora e direção. Félix criou o roteiro das ações, enquanto a atriz e dramaturga Mariana Viana cuidou dos diálogos. Barulhista compôs a trilha.
Félix divide a direção com Eid Ribeiro, com quem trabalha há uma década. “Tivemos a primeira conversa em 2014. Ele é diretor de atores e eu, de marionetes. Fizemos algo que não é só bonecos, não é só atores. Acima de tudo, é um espetáculo visual”, define.


Nessa montagem, o Pigmalião encarou desafios de diferentes ordens. Trata-se do espetáculo de maior dimensão da companhia (7m de altura e 8m de profundidade), que só pode ser encenado em teatros de grande porte. Pela primeira vez, o grupo experimenta o fundo branco, oposto ao preto usado para a manipulação de bonecos. Também há um número grande deles: marionetes de fio, máscaras, bonecos habitáveis e bonecos gigantes. A montagem requer intenso trabalho físico dos manipuladores.


A estreia de Macunaíma gourmet ocorre em um momento de muitas atividades do Pigmalião, que está excursionando pelo país com O quadro de todos juntos em todo o Brasil.

“Ainda não tivemos tempo de celebrar. É muito trabalho”, diz Eduardo.


A companhia nasceu no Festival de Cenas Curtas, em 2007, com a proposta de ampliar a compreensão sobre o teatro de bonecos. “As pessoas associam bonecos à infância. É muito difícil conseguir espaço no meio teatral para essa linguagem, que costuma ficar à parte na arte contemporânea. Porém, mostramos que o teatro de esculturas que mexem é ótimo suporte para ela”, diz Eduardo Félix, explicando que o termo “esculturas que mexem” expande a linguagem para outras fronteiras das artes.

 

 

MACUNAÍMA GOURMET
Comemoração dos 10 anos do grupo mineiro Pigmalião Escultura Que Mexe. Em cartaz de
quinta-feira (14/9) a domingo (24/9) e de 27/9 a 30/9, às 20h. Teatro Francisco Nunes. Parque Municipal, Avenida Afonso Pena, 1.377, Centro. Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada). Informações: (31) 3277-6325.

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