“Sempre foi vontade nossa trabalhar com esse texto, mas o momento ainda não tinha chegado. O contexto do nosso país, com os escândalos, foi bem decisivo para que pudéssemos montá-lo. Macunaíma é uma crítica de outra época, dos anos 1920, mas ainda muito atual”, diz Eduardo Félix, diretor do Pigmalião.
Se o texto original, marco do Modernismo, é emblemático ao propor a antropofagia cultural, Macunaíma gourmet defende a antropofagia social. “Vivemos num país de contrastes muito grandes. Vínhamos de avanços sociais que foram barrados. Agora, está escancarada a estrutura do poder”, explica Félix.
O termo gourmet, além de demarcar a crítica ao modismo que sofistica os produtos na área de gastronomia, permite trazer questões do texto de Mário de Andrade para os dias atuais. A antropofagia social pode ser exemplificada com a política de expulsão e extermínio dos índios nas terras que lhes são de direito.
“Em nosso país, quem come quem?”, pergunta Félix, ao falar do processo de preparação da carne de Macunaíma.
PARCEIROS O espetáculo, ressalta Eduardo Félix, nasceu de parcerias do Pigmalião na dramaturgia, trilha sonora e direção. Félix criou o roteiro das ações, enquanto a atriz e dramaturga Mariana Viana cuidou dos diálogos. Barulhista compôs a trilha.
Félix divide a direção com Eid Ribeiro, com quem trabalha há uma década. “Tivemos a primeira conversa em 2014. Ele é diretor de atores e eu, de marionetes. Fizemos algo que não é só bonecos, não é só atores. Acima de tudo, é um espetáculo visual”, define.
Nessa montagem, o Pigmalião encarou desafios de diferentes ordens. Trata-se do espetáculo de maior dimensão da companhia (7m de altura e 8m de profundidade), que só pode ser encenado em teatros de grande porte. Pela primeira vez, o grupo experimenta o fundo branco, oposto ao preto usado para a manipulação de bonecos. Também há um número grande deles: marionetes de fio, máscaras, bonecos habitáveis e bonecos gigantes. A montagem requer intenso trabalho físico dos manipuladores.
A estreia de Macunaíma gourmet ocorre em um momento de muitas atividades do Pigmalião, que está excursionando pelo país com O quadro de todos juntos em todo o Brasil.
A companhia nasceu no Festival de Cenas Curtas, em 2007, com a proposta de ampliar a compreensão sobre o teatro de bonecos. “As pessoas associam bonecos à infância. É muito difícil conseguir espaço no meio teatral para essa linguagem, que costuma ficar à parte na arte contemporânea. Porém, mostramos que o teatro de esculturas que mexem é ótimo suporte para ela”, diz Eduardo Félix, explicando que o termo “esculturas que mexem” expande a linguagem para outras fronteiras das artes.
MACUNAÍMA GOURMET
Comemoração dos 10 anos do grupo mineiro Pigmalião Escultura Que Mexe. Em cartaz de
quinta-feira (14/9) a domingo (24/9) e de 27/9 a 30/9, às 20h. Teatro Francisco Nunes. Parque Municipal, Avenida Afonso Pena, 1.377, Centro. Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada). Informações: (31) 3277-6325.