Grupo Ponto de Partida apresenta a peça 'Vou voltar' no Teatro Bradesco

Montagem toma como pano de fundo a experiência do grupo uruguaio El Galpón para falar sobre sobre o drama dos refugiados

Redação EM Cultura

Grupo de teatro se baseia em história latino-americana para falar do drama dos refugiados. - Foto: Julia Marcier/Divulgação

Um novo olhar, ou melhor, um novo Ponto de Partida. Em seus 37 anos, a trajetória do grupo de teatro criado no interior de Minas Gerais tem sido desenhada a partir de elementos da cultura brasileira. A sabedoria popular, Fernanda Montenegro, Milton Nascimento e Sérgio Britto foram algumas das referências para a trupe, apelidada de ''A Voz de Barbacena''. Em seu novo espetáculo, a companhia propõe um tema político. Vou voltar se debruça sobre a questão dos refugiados, da ditadura e das diversas fronteiras que impedem o ir e vir.

Nesta sexta-feira, 18, e sábado, 19, a peça estará em cartaz no Teatro Bradesco, em Belo Horizonte. ''Muito delicada, a situação dos refugiados nunca deixou de ser latente. Ela sempre existiu, mas tem ganho força com os inúmeros casos que estão vindo à tona, como os da Síria. Falar desse problema é tratar das diversas barreiras presentes em nosso cotidiano'', explica Regina Bertolla, diretora e uma das fundadoras do grupo.

''É uma característica do Ponto de Partida dialogar com a alma humana, seus claros e escuros. Esse é um ponto escuro que grita cada vez mais'', ressalta.

A trama de Vou voltar é inspirada na experiência do grupo uruguaio El Galpón, prestes a completar 70 anos e considerado o mais antigo da América Latina. No período da ditadura militar (1973-1985), a trupe passou 10 anos exilada. O governo considerou a companhia ilegal, confiscando-lhe os bens e a própria sede. Atores se viram proibidos de atuar no Uruguai e diretores foram torturados.

Apesar disso, a trupe não se dobrou. Fez temporadas no México, trabalhou em 17 países. Depois de cada apresentação, os artistas denunciavam a situação política uruguaia com o objetivo de sensibilizar os latino-americanos.

RESISTÊNCIA ''Vou voltar é uma homenagem à resistência deles, que foram perseguidos, perderam a identidade. O espetáculo não é sobre a história do El Galpón, mas a partir daquele relato humano construímos o nosso enredo para abordar o tema dos refugiados'', conta Regina Bertolla.

Os estudos para a peça começaram em 2016. Foram necessários vários encontros das equipes brasileira e uruguaia. ''Para eles, falar daquele período é difícil, mexe com o emocional. Há muitas memórias tristes, feridas na alma. Não é fácil ser vetado, impedido de expor o seu pensamento e a sua arte. Fico me perguntando: de quem é essa autoridade?.
Tudo isso é uma crueldade'', afirma Regina. ''O nosso elenco, que tem experiência e história, ficou muito emotivo durante os ensaios. A peça é totalmente expressiva'', revela.

Para Regina, o drama dos refugiados exige ação imediata. ''É hora de os artistas tomarem posição. As decisões que vêm sendo adotadas (por governos) têm influência sobre a gente, sobre o nosso trabalho, o nosso cotidiano. Vou voltar não deixa de ser uma homenagem a todos os artistas, mas é também um chamariz para o questionamento da situação dos refugiados. É nossa obrigação. Acredito que é melhor estar diante de uma situação e fazer pouco a não fazer nada'', conclui.

Canções latino-americanas e brasileiras fazem parte da trilha sonora. Algumas delas foram compostas especialmente para a peça por Pitágoras Silveira (piano) e Pablo Bertola (violão), integrantes do Ponto de Partida.

VOU VOLTAR
Com Grupo Ponto de Partida. Texto: Mário Benedetti, Eduardo Galeano, El Galpón e Ponto de Partida.
Direção-geral e dramaturgia: Regina Bertola. Sexta (18/8) e sábado (19/8), às 20h. Teatro Bradesco, Rua da Bahia, 2.244, Lourdes, (31) 3516-1360. Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada).

.