Apesar de ter sido escrito no século 19, o texto tem impressionante atualidade. “Ele surge de uma forma bem avassaladora em pleno 2017. O conto sintetiza um pouco esse momento macabro e de trevas que estamos vivendo. Embora se passe na Espanha, na Inquisição, o que estamos vivendo hoje não deixa de ser algo inquisitorial”, comenta o ator Zécarlos Machado, que lê o texto de Poe hoje à noite, no CCBB-BH.
A dramatização faz parte do projeto Histórias Extraordinárias, ciclo de leituras dramatizadas de clássicos da literatura fantástica e de terror. A iniciativa segue até janeiro de 2018, sempre uma vez por mês e com entrada franca.
Além de O poço e o pêndulo, serão levados à cena os clássicos Drácula, de Bram Stoker, adaptado por Pedro Kosovski; A guerra dos mundos, de H.G. Wells, por Daniela Pereira de Carvalho; Frankenstein, de Mary Shelley, por Sérgio Roveri; O duplo/O horla, de Guy de Maupassant, por Eduardo Tolentino de Araujo; A cor que caiu do espaço, de H.P.
AMBIÇÕES O ator, que já participou do mesmo projeto no CCBB carioca, diz que ficou fascinado com a temática e, sobretudo, com a força e potência de O poço e o pêndulo. “Ele mexe com questões ancestrais, lá do fundo. É uma maneira de tentar entender o ser humano nas suas inseguranças, nas suas ambições. Esse texto tem camadas de discussões muito interessantes, questões bem contemporâneas”, afirma.
Zécarlos ficou tão impactado com o conto que tem a intenção de levá-lo aos palcos, aproveitando a adaptação teatral feita pela escritora Heloísa Seixas para o Histórias Extraordinárias. Para isso, o artista pretende se aprofundar na obra de Edgar Allan Poe. “O que a gente vem fazendo no CCBB já é uma encenação, com efeitos cênicos, iluminação. Expressar no corpo essa literatura é um exercício fascinante. Como é um texto que aborda questões políticas, humanas, sociais, filosóficas, acho que é possível fazer uma temporada no teatro bem interessante.”
Na TV, Zécarlos Machado está interpretando um papel, no mínimo, aterrorizante. O sacerdote Fassur, de O rico e Lázaro, na Record, é uma figura perversa ao extremo, que finge ser o que não é. “É um personagem que existiu. E citado na Bíblia, mas tem coisas ficcionais. A manipulação, a hipocrisia, a dubiedade e a maldade – tudo a ver com os nossos atuais governantes, infelizmente”, lamenta.
HISTÓRIAS EXTRAORDINÁRIAS
Quarta (26), das 19h30 às 21h, no CCBB (Praça da Liberdade, 450, Funcionários).