Luísa Bahia apresenta polifonia sobre o mar

A atriz e dramaturga volta a apresentar Risco, espetáculo solo em que mistura canções e poesia para investigar as possibilidades de encontro do feminino com a imensidão do oceano

Márcia Maria Cruz
Uma mulher sentada sobre uma tartaruga a olhar para o mar.
Como um quadro, a imagem convida para a odisseia na vastidão do oceano e foi proposta pela atriz e dramaturga Luísa Bahia no espetáculo Risco. Em temporada de amanhã a domingo, no Espaço Aberto Pierrot Lunar, a peça é baseada em texto homônimo escrito por Luísa e codirigido por Ricardo Alves Jr.. Luísa relaciona elementos imagéticos, músicais e poéticos para construção do solo. Mineira, Luísa admite que a ausência do mar alimenta a paixão poética pelas águas. “O mar é uma atmosfera. No espetáculo, surge e desaparece rápido como se fosse um risco na água, que faz e se desfaz”, define a dramaturga.

Fora de caixinhas, o espetáculo flerta com o teatro contemporâneo pelo hibridismo da linguagem e a relação estabelecida entre arte e vida. “A arte contemporânea se caracteriza pela dissolução das fronteiras”, avalia.
Luísa escolheu repertório com músicas e canções que remetem à atmosfera marítima ou que tratam do mar. Luísa faz a opção por encenação minimalista em que, como uma pintura, apresenta diferentes seres, paisagens, atmosferas e estados. No centro da odisseia está a personagem Dora.

A atriz destaca o processo colaborativo com Ricardo e toda a equipe, no qual busca explorar as dramaturgias da voz e do corpo. Na base do trabalho vocal está a pesquisa de Francesca Della Mônica. “O espetáculo tem esse caráter polifônico. O teatro é essencialmente polifônico. Trago essas várias vozes discursivas.” Luísa incorporou aspectos mais performáticos. “Assumo o caráter de show, com uso de figurino, maquiagem pesada, cabelo azul e o corpo mais potente.”

O repertório diverso vai desde Paulinho da Viola ao compositor estadunidense Moondog (1916-1999), passando por Jorge Mautner e compositores de blues. A música se mistura ao texto. Cada canção pontua o estado de ânimo de Dora. Com a mesma efemeridade das canções, os personagens aparecem e desaparecem, como se fossem “silhuetas”. “A atmosfera marítima está o tempo todo em cena. As canções entram como ondas marítimas na dramaturgia.”

No texto Odisseia, de Homero, um dos mais importantes poemas épicos da Grécia, Penélope espera por 20 anos o retorno do marido, Ulisses, da Guerra de Troia.
Evocando as figuras de Penélope e Ulisses, ela fala de aspectos caros ao universo feminino: desejo, paixão e amor. Com referência com as poetas Ana Martins Marques (Vidas submarinas) e Júlia Hansen (Poemas do destino do mar), Luísa constrói a dramaturgia tendo como referência o olhar feminino sobre o mar. “É o mar feminino. É querer ser Ulisses, mas ser Penélope”, diz em referência ao desejo de descoberta de outros mundos possibilitados pelo oceano.

Apresentado na terceira edição do Projeto Janela de Dramaturgia (2014), o texto foi publicado na Coletânea Janela de Dramaturgia, pela Editora Perspectiva, através do Rumos Itaú Cultural (2016). Antes da montagem do espetáculo, Luísa fez leituras dramáticas em São Paulo, Belo Horizonte e Bolonha, na Itália.

RISCO

Texto de Luísa Bahia, direção de Ricardo Alves Jr. e Luísa Bahia, com Luísa Bahia. De amanhã a 5 de fevereiro, às 20h, no Espaço Aberto Pierrot Lunar (Rua Ipiranga, 137, Floresta). Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). Venda antecipada: www.sympla.com.br.
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