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Quem conta a história são Felipe Torres e o irmão de Fausto, Franco Fanti. Neste sábado (1), eles estreiam em BH a primeira peça de teatro do grupo, Hermes e Renato: uma tentativa de show. O espetáculo ocorre às 21h no Cine Theatro Brasil Vallourec – ou, como prefere Felipe, “Esse nome chiquérrimo”.
Ao lado de Marco Antônio Alves e Adriano Pereira, e sob direção do estreante Mario Mathias, Felipe e Franco recuperam esquetes famosas do grupo, combinadas a material inédito e muitas sátiras sobre teatro.
Segundo Felipe, a peça “é sobre Hermes e Renato tentando se achar no teatro”. Com vontade de expandir as plataformas de atuação, há cerca de uma década o grupo já tinha trabalhado em um roteiro, que foi descartado por ser “megalomaníaco”, diz o ator. O roteiro atual surgiu este ano, incentivado por Mario, o diretor da peça.
Felipe garante que só a nostalgia não é capaz de sustentar um espetáculo. Já Mario não tem dúvidas de que ela é um grande atrativo quando se fala em Hermes e Renato, que possibilitam “rever as décadas de 90 e 2000”.
O grupo estrelou o show homônimo na MTV entre 1999 e 2009, época em que a emissora fazia parte da grade de TV aberta. O que literalmente começou como brincadeira de criança, com cenas gravadas entre os pré-adolescentes dentro de casa com uma câmera para VHS, hoje se desdobra em uma série no canal Fox e uma banda de metal satírica que já abriu show para o Sepultura, a Massacration.
Em Hermes e Renato: uma tentativa de show, o público saudoso de esquetes clássicas da trupe vai conferi-la reencenar algumas ao vivo. É o caso de Padre Quemedo e o filho do Capeta, que mostra o debate entre um padre e um homem que alega ser descendente do Diabo, mas é incapaz de provar.
Quem também reaparece no palco é o garoto Charlinho, um garoto que vive no “Brasil mulambo” e já começa o dia andando “200 km a pé, em uma estrada cheia de cacos de vidro, farpas e pedras pontudas. Detalhe: ele faz todo o percurso descalço”. A aposta do grupo, em esquetes como essa, é refletir sobre situações problemáticas do país a partir do humor. Além, é claro, de exercitar uma de suas habilidades: a brincadeira às formas mais melodramáticas de se fazer televisão.
O teatro de Gerald Celsius
“Por mais que a gente pareça ignorante, a gente sempre pesquisa o que vai satirizar”, afirma Franco. Marcio, o diretor da peça, confirma. Segundo ele, o grupo passou meses observando o trabalho dos encenadores brasileiros Zé Celso e Gerald Thomas, famosos pelo experimentalismo no teatro, antes de unirem os dois em uma sátira à nudez em cena e outras situações do teatro contemporâneo: Gerald Celsius.
O que une as esquetes, tanto as inéditas quanto as clássicas, é justamente a metalinguagem. “Antigamente, eu achava que metalinguagem era sobre sexo oral”, brinca Felipe, “mas agora eu sei que é o teatro falando do teatro”.
Além das esquetes, haverá momentos de improviso, em que o diretor sairá das coxias e entrará em cena com o quarteto. Foi enquanto atuava com Felipe Torres no filme TOC, dirigido por Paulinho Caruso e Teo Poppovick e estrelado por Tatá Werneck e Ingrid Guimarães, que Mário incentivou o grupo a levar adiante a ideia do espetáculo.
Quinto elemento
O convite do grupo para Mario dirigir a peça veio logo após a finalização do texto. “Eu entrei mais pra ser esse cara chato”, diz o diretor. Ele não freia o humor negro do quarteto, mas acredita que um olhar exterior à trupe é importante para orientar o que dá certo na peça. Bastante coisa, pelo que conta: “Eu dou risada demais nos ensaios”.
O limite do humor de Hermes e Renato, segundo Felipe, é apenas o bom senso, mas não existem temas que o grupo ache que precisa evitar. “Você transformar um assunto em tabu é como abrir um véu de hipocrisia”, diz Franco Fanti.
O irmão de Franco, Fausto Fanti, foi a figura central de Hermes e Renato desde o começo do projeto. Em 2014, porém, o ator cometeu suicídio. A partir de então, Franco assumiu os personagens antes interpretados pelo irmão mais velho. Franco fala sobre o assunto sem problemas. Ele conta que, pouco tempo após a morte de Fausto, flagrou-se rindo de um vídeo bem-humorado sobre suicídio.
“A gente faz das nossas lágrimas, risada”, ele diz. Situações que incomodam são material fértil para o humor, acredita. Depois de receber um péssimo tratamento em um banco, por exemplo, Franco pensou na esquete sobre o Banco Tiamo, “o banco mais carinhoso do planeta”.
“A TV é nossa casa”, afirma Franco. Mas, admiradores da internet e já sonhando com o próximo espetáculo fora das telas, desta vez na forma de um show, os integrantes do Hermes e Renato parecem entusiasmados em expandir cada vez mais as próprias possibilidades. “A gente é uma metralhadora giratória de zoeira”, define Franco.
HERMES E RENATO: UMA TENTATIVA DE SHOW
Cine Theatro Brasil Vallourec, Praça Sete, Centro, (31) 3201-5211. Sábado, 21h. Inteira: R$ 80, R$ 70 e R$ 60. Meia-entrada na forma da lei.