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Veja por que a cerimônia virtual do Emmy funcionou

Lisa, Jennifer e Courteney: só faltam os garotos para completar a festa de Friends - Foto: AFP

Seis meses desde que foi declarada a pandemia do novo coronavírus, quem aguenta lives e encontros virtuais? Era de se imaginar então que as chances do 72º. Emmy Awards, primeira grande cerimônia de premiação totalmente virtual, fosse um tiro no pé. E não foi, por mais de uma razão.


 
Ainda que o mundo esteja mergulhado nas trevas – doenças, divisão política, recessão, incêndios, mortes – o tom foi otimista, com a televisão olhando para si mesma e revelando o que é. Uma cerimônia de premiação é algo deveras fútil em meio à desgraceira geral, mas como instrumento de comunicação a televisão traz alegria e conforto em momentos difíceis. 
 
Foi com este tom que Jimmy Kimmel deu início à premiação em um Staples Center vazio mas “cheio de gente”. No momento inicial, foram utilizadas imagens das plateias de premiações anteriores para só depois a câmera revelar o ginásio vazio, com displays de alguns dos candidatos da noite.
 
“Decidiram que toda vez que eu disser Schitt's Creek (e foram várias já que a série foi a grande vencedora entre as comédias), somos obrigados a colocar a grafia na tela (para não parecer com shit, merda em bom português). Depois querem saber porque a TV aberta está quase morta”, foi uma das boas tiradas de Kimmel – o Emmy é exibido pela rede ABC. Ele ainda chamou a cerimônia de pand-Emmys. 


 
Como cerca de 130 equipamentos de vídeo foram distribuídos entre os candidatos – em 20 cidades de dez países – a chance de a transmissão não funcionar era grande. Mas deu certo, os vencedores fizeram seus discursos, ainda que muita gente não tenha entrado no ar. Entre os pesos-pesados do entretenimento que não deram as caras estavam Cate Blanchett, Michael Douglas, Jeremy Irons, Meryl Streep. A sorte é que nenhum deles ganhou, então não houve nenhum momento em branco.
 
Kimmel teve boas companhias em cena, atores fazendo aparições no Staples Center. Jason Bateman surgiu na plateia ao lado dos colegas em papelão; Jennifer Aniston foi a primeira a pisar no palco, em sequência que fugiu um pouco do script. Estava previsto que Kimmel colocaria fogo em um envelope com desinfetante para mostrar como as regras de saúde estavam sendo seguidas. Só que o fogo perpetuou e Aniston, mais do que rapidamente, pegou um extintor e evitou uma confusão maior. 
 
A super vitória de Zendaya - Foto: AFPA atriz voltou mais tarde já de casa e surpreendeu ao mostrar suas companheiras da noite, Courteney Cox e Lisa Kudrow. É verdade que toda a audiência esperou pela chegada, que não veio, de Matthew Fox, David Schwimmer e Matt LeBlanc para completar o elenco de Friends.


 
A aparição para lá de bizarra, também no palco, do ator Randall Park com uma alpaca usando uma gravata borboleta garantiu outra boa piada. “Quando você lê um e-mail rápido demais a frase 'Você vai apresentar com uma alpaca' se parece muito com a frase 'Você vai apresentar com o Al Pacino'”.
 
Vários profissionais que não pararam na pandemia também anunciaram os prêmios: carteiro, caminhoneira, fazendeira, enfermeira. Desta maneira, a premiação tirou um pouco o foco dos nomes estelares e celebrou quem realmente vem fazendo a diferença neste ano.

Sem números musicais – havia apenas um DJ em cena – o Emmy preencheu a cerimônia com vídeos pré-gravados. A participação de America Ferrara lembrando do comentário de uma produtora durante o seu primeiro teste – “agora fale inglês com sotaque de latino” – foi uma lembrança da dificuldade que as minorias têm no mundo do entretenimento. E vale lembrar que a despeito da indicação recorde de atores negros nesta edição do Emmy, nenhum latino foi nomeado.


 
Foram sete artistas negros premiados, um recorde para a cerimônia. Dois deles saíram do elenco de Watchmen, cuja vitória entre as minisséries era uma das barbadas da noite. Recebeu 11 prêmios, quatro deles dos principais: melhor minissérie, roteiro, atriz para Regina King e ator coadjuvante para Yahya Abdul-Mateen II. 
 
Dentre os premiados, nenhum foi mais celebrado – tanto na tela quanto na internet – quanto o de Zendaya, que pelo Emmy de melhor atriz em série dramática se tornou, aos 24 anos, a mais jovem a vencer na categoria – e é a segunda negra a receber tal estatueta.
 
Na falta do tapete vermelho, o telespectador, como um voyeur, pôde observar os candidatos de suas próprias casas, ou então em festinhas particulares. Reese Witherspoon e Kerry Washington, com um grupo de Little fires everywhere tentaram antecipar o réveillon em uma piada que não deu muito certo. Melhor foi assistir à equipe de Schitt’s Creek numa festinha que diante da quantidade de prêmios (foram sete, ninguém mais da seara das comédias levou além deles) deve ter virado a noite. 


 
Um dos melhores momentos não veio da TV, mas do Twitter. Ramy Yousseff, estrela de Ramy, indicado a melhor ator em comédia, perdeu. Para que os prêmios fossem devidamente entregues, produtores foram enviados para as casas dos principais candidatos para entregar o troféu. Só que como Ramy não levou, ele conseguiu filmar o produtor, todo paramentado com equipamento de proteção contra a COVID-19 com a estátua que não chegou a ser dele.
 
O Emmy da pandemia, ou pand-Emmy, como destacou Kimmel, não poderia ser como as premiações anteriores e nem se prestou a tal. Funcionou para este período, mostrou união da categoria diante dos acontecimentos recentes e premiou quem deveria premiar. Mais importante de tudo, mostrou que o entretenimento consegue refletir sobre o mundo atual. O que diante do que o mundo todo vem passando não é pouco.