Space lança nesta segunda-feira (17) série nacional 'Um dia qualquer', filmada no Rio

Trama parte de uma tragédia singular para retratar o cotidiano de uma população acuada entre a violência policial e o poder paralelo das milícias

Mariana Peixoto 17/08/2020 04:00
SPACE/DIVULGAÇÃO
Mariana Nunes (Penha) e Jefferson Brasil (Seu Chapa) na série Um dia qualquer (foto: SPACE/DIVULGAÇÃO)

Um jovem negro, da periferia, entra à força em um carro com dois milicianos, ambos brancos. Um deles usa de extrema violência com o jovem, tenta sufocá-lo. Pouco depois, a vítima cai (pula?) do carro em movimento. 

Essa cena foi rodada há dois anos, em Marechal Hermes, Zona Norte do Rio de Janeiro, o primeiro bairro operário do Brasil. A sequência, exibida ainda nos momentos iniciais de Um dia qualquer, é definidora da série, que estreia nesta segunda-feira (17), no canal Space.

Não há como não fazer analogias entre o conteúdo ficcional e o mundo aqui fora. O assassinato de George Floyd nos Estados Unidos, o domínio das milícias em regiões pobres das cidades brasileiras, a violência policial, está tudo ali. São cinco episódios de curta duração (em média, 25min), exibidos de hoje a sexta-feira, com uma maratona no sábado.


DISCUSSÃO

“Quando comecei a pensar na história, queria jogar luz sobre temas complexos da contemporaneidade, gerar discussão na sociedade. Criei (no passado, quando o projeto foi concebido) um personagem miliciano candidato a vereador. Hoje, vemos o escritório do crime no âmbito federal, com o Rio de Janeiro exportando as milícias para o país. Precisamos nos juntar e tentar travar este processo”, afirma Pedro von Krüger, criador e diretor de Um dia qualquer.

A série acompanha 24 horas na vida de um grupo de personagens no subúrbio do Rio, logo após o carnaval. São dois núcleos principais. A família de Penha (Mariana Nunes), viúva e ex-traficante, que nos dias atuais se dedica à igreja e aos três filhos. Um deles é Emerson (Gabriel Leal), o jovem que sofreu a já citada violência policial. 

O desaparecimento de Emerson fará Penha logo desconfiar de Quirino (Augusto Madeira). Esse é o personagem central do outro núcleo da série. Ex-policial, Quirino é hoje um miliciano e quer instaurar a ordem na região que domina, custe o que custar. Seu filho adolescente, Beto (Willean Reis), pretende seguir o caminho do pai. 
    
Intercalando as passagens deste dia que de qualquer não tem nada, há sequências ambientadas com os mesmos personagens 10 anos antes. No passado, Penha era casada com o traficante Seu Chapa (Jefferson Brasil), e Quirino ainda atuava na polícia. 
     
Um dia qualquer nasceu como um projeto misto: série e longa-metragem. O filme, já finalizado, não conseguiu entrar em cartaz em fevereiro, o período previsto para seu lançamento.  
    
 “A estratégia era que eles saíssem na mesma época. Estávamos na ‘boca do caixa’ para receber os recursos do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) para sua comercialização. Isso não aconteceu por causa do desmonte da Agência Nacional do Cinema (Ancine), gestora do FSA. Os recursos estão totalmente parados, e vale dizer que não só para o nosso filme, mas para muitos outros neste momento”, afirma o produtor Denis Feijão. Por ora, não se sabe quando o longa poderá ser lançado.
 
TRAGÉDIA
Ainda que trate de temas já explorados em filmes e séries recentes, Um dia qualquer traz alguns diferenciais. “É uma série que se passa muito dentro das casas das pessoas, mergulha na relação que as famílias têm com a violência. É uma tragédia. Pegamos elementos de diversas histórias e criamos uma narrativa original, mas que também não é distante da realidade”, diz Pedro von Krüger.

Um dos atores mais experientes do elenco, Augusto Madeira conta que foi chamado para fazer Quirino após sua participação na série Crime time (2017), da Netflix. Na produção, ele faz um aspirante a ator que atua como policial em favelas e faz o que puder em busca de poder. 

“Fui um ator durante muito tempo identificado com a comédia. O mercado tende a rotular você, tanto que pedi para sair do Zorra total e passei a evitar trabalhos nessa linha. Mas o tiro saiu pela culatra, pois, hoje em dia, só me chamam para papel de desgraçado, pedófilo, assassino, miliciano. Mas sempre procuro defender os personagens que interpreto. E acho que o Quirino, mesmo que tenha um senso de justiça torto, tem uma relação de amor pela Penha e um sentimento paternal com o filho.”

Madeira, Mariana Nunes e Vinicius de Oliveira (Maciel, o capanga de Quirino) são os atores mais experientes da série. Boa parte do elenco é jovem, escolhida em testes feitos com pelo menos 100 jovens. Há ainda a participação de 350 figurantes, todos moradores de Marechal Hermes.

UM DIA QUALQUER
Série em cinco episódios. Estreia nesta segunda (17), às 22h, no canal Space. Um episódio será exibido por dia, no mesmo horário, até sexta (21). No sábado (22), maratona completa a partir das 18h.

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