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Em 'Pokas', ria do Brasil com o humorista Thiago Ventura

Thiago Ventura é hoje considerado um dos principais humoristas brasileiros – e humorista de stand-up, prática popularizada no início dos anos 2000 no país por grupos como o Comédia em Pé e o Clube da Comédia, que projetaram Rafinha Bastos, Danilo Gentili, Fábio Porchat e Diogo Portugal, entre outros.



Nos últimos 15 anos, a comédia brasileira tomou rumos diferentes, e um dos exemplos mais significativos disso é o especial Pokas, o primeiro de Ventura, de 31 anos, naquela que é hoje a maior plataforma de humor stand-up do mundo, a Netflix.

BANCO


Thiago nasceu na “quebrada”, em Taboão da Serra (SP). Fez faculdade de administração e trabalhou em banco antes de se voltar para o que sabia ser a sua vocação: o stand-up. Conhecido na escola por contar histórias e fazer as pessoas rirem, ele teve contato com o gênero na histórica entrevista de Jô Soares com Diogo Portugal, realizada em 2006, quando o curitibano listou apresentações, nomes e clubes de comédia, dando projeção nacional ao gênero.

“Quando vi Diogo fazendo, tive certeza de que poderia fazer também”, diz Ventura. “Comecei a criar meus textos com 21 anos, estudava ainda por hobby e decidi participar de open mics (espaço que os clubes dão para comediantes iniciantes). Foi muito bom na primeira, a segunda OK, mas na terceira não queria mais”, lembra. “Foi quando aprendi: se a comédia não é a única coisa que você pode fazer na vida, desista.”



Mas Thiago perseverou. Baixava vídeos de comediantes brasileiros e estrangeiros, com legendas, para aprender estratégias de set up (preparação da piada), punchline (frase que arremata), delivery (o modo de contar) e outros gatilhos, mas também para saber o que outros estavam criando para não fazer igual. “Tinha pastas de anotação e entendia como cada um se comportava no palco.”

Em 2010, ele começou a compartilhar vídeos de seus próprios sets – assim, viu sua audiência crescer aos milhões. Pokas é o seu terceiro especial. O quarto, Modo efetivo, estava em turnê antes de a pandemia da COVID-19 fechar os palcos.

Ventura usa o ensinamento de Dave Chappelle, uma de suas principais influências: “Tudo o que você precisa saber para ser comediante é tudo aquilo que você já sabe”. Com piadas sobre o dia a dia na “quebrada” e sobre modos de pensar a vida, relacionamentos e família, Ventura trouxe para a comédia brasileira um elemento social novo, inserindo diversidade no universo antes dominado por uma elite cultural pouco ou nada preocupada com a realidade brasileira. Mas ele garante: “Stand-up não quer saber se o comediante é branco ou preto, homem ou mulher. Quer saber se ele tem boas piadas.”



Na opinião dele, muito da discussão sobre os “limites do humor” e sua relação com o “politicamente correto”, debate importado dos EUA sem levar em conta as particularidades brasileiras, é feita por gente que não entende de comédia.

“Não entendem o limite do humor porque não entendem de comédia”, diz, sem citar nomes. “Piada sem graça nem existe.” Para Ventura, piadas sobre racismo e sobre sexualidade podem ser equivalentes a uma piada sobre escada. Mas todas têm que ser boas.

“A comédia é totalmente pessoal. Meu processo busca entender quem eu sou”, diz ele. Mesmo assim, Thiago reconhece que o mercado brasileiro de stand-up alcançou o grande público com a piada “custe o que custar”, referência ao programa da Band.



“Naquela época, o stand-up foi tachado como algo totalmente agressivo, mas não é isso nem a pau. O mercado era horrível, ninguém queria ir a um show porque aquilo era conhecido por ser apenas ofensivo.” Agora mudou completamente, ele acredita. “Essa mudança se deve ao fato de novos comediantes ocuparem esse lugar. A diversidade deve estar em qualquer lugar: a gente não precisaria nem falar disso se não houvesse um contexto histórico (desfavorável).”

Uma característica do trabalho dele vem da escola americana, que valoriza a importância do texto. “O comediante tem que entender que ele é o texto. Tenho uma performance que gosto de aprimorar, mas tenho que entender que sou o texto”, comenta.

MÉTODO


Thiago Ventura criou seu próprio método de trabalho. Ele anota situações e ideias em um aplicativo de celular e depois as encaixa em momentos apropriados ao assunto de que está tratando.

Em Pokas, ele fala muito sobre de onde veio e aonde chegou com o seu trabalho, bem como sobre erros do passado e aspectos do presente. “Vocês nunca vão me ver falando de política. Sabe por quê? Não manjo nada. Sabe de uma coisa que eu manjo? Idiotas”, conclui. (Estadão Conteúdo)

POKAS
. Com Thiago Ventura
. Stand-up
. 122 minutos
. Netflix