Steve Carell e John Malkovich brilham em 'Space Force'

Comédia estreia nesta sexta (29), na Netflix. Criado pelos idealizadores de 'The Office', seriado ironiza o governo Trump, sem citar o presidente dos EUA, por meio do embate entre militares e cientistas

Mariana Peixoto 29/05/2020 07:32
NETFLIX/DIVULGAÇÃO
John Malkovich, Steve Carell e Ben Schwartz contracenam na série que ironiza o poderio militar dos EUA (foto: NETFLIX/DIVULGAÇÃO )

Em 20 de dezembro de 2019, foi oficialmente criada a U.S. Space Force (Força Espacial dos Estados Unidos), novo ramo das Forças Armadas que atuará, pelo menos por ora, por um ano e meio. Sua missão é organizar, treinar e equipar equipes “para proteger os interesses americanos e aliados no espaço”. A USSF é um Departamento da Força Aérea comandado por um general quatro estrelas dos EUA.

Isso é fato, mais um ato da gestão Donald Trump. Pois tal e qual na vida real, a Netflix criou sua Space Force. A comédia em 10 episódios, que estreia nesta sexta-feira (29), reúne Steve Carell e Greg Daniels, protagonista e autor da versão americana de The office (2005-2013), uma das mais bem-sucedidas produções do gênero deste início de século. Novamente reunida (Carell agora assina como cocriador da série), a dupla volta a fazer comédia no local de trabalho.

PILOTO

Pois a despeito disso, Space Force não é The office. É bom deixar de lado a série antecessora para tentar gostar da atual, que vai conquistando pelas beiradas. O episódio-piloto apresenta o general Mark R. Naird (Steve Carell), que acabou de chegar ao pódio da carreira (a quarta estrela). O sonho de comandar a Força Aérea vai por água abaixo quando ele é convocado para liderar a nova divisão.

De uma hora para outra, Naird e sua família – a mulher, Maggie (Lisa Kudrow, fazendo aqui uma Phoebe de Friends na meia-idade), e a filha adolescente Eric (Diana Silvers) – têm que deixar Washington e rumar para o interior do Colorado, onde o governo americano gasta bilhões para criar o câmpus da Space Force, que fica atrás de uma montanha. Assim como os bilhões da ficção, a série também aparenta ter gasto muito para sua produção – um chimpanzé feito de computação gráfica é a estrela do segundo episódio.

Naird nos é apresentado como o general deveras rígido, reprimido até, que com um rosnado áspero manda e desmanda em militares e cientistas que simplesmente não queriam estar ali. No início, Naird tenta equilibrar solicitações práticas com demandas impossíveis: vai contra toda a equipe de cientistas para lançar o primeiro satélite militar de sua gestão simplesmente porque naquele dia específico há um grupo de políticos na base para assistir ao lançamento.

As ordens vêm de cima, de um presidente que se comunica somente por meio do Twitter. Não, ainda que saibamos de quem se trata, a série não cita o nome de Trump em momento algum, mas faz joça com o republicano sempre que pode. “Boots on the moon” (Botas na Lua) é um dos motes da Space Force real. Naird repete sem parar a máxima, ainda que o tuíte do presidente (na série) seja outro: “Boobs on the moon” (Peitos na Lua). Todos ali têm certeza de que se trata de um erro de digitação.

Cada novo episódio traz um desafio para Naird. Pode ser uma partida de paintball para animar a equipe, ou se juntar a um grupo de três pessoas para simular a experiência de uma semana na Lua. Em meio aos problemas no trabalho, ele tem de lidar com complicações familiares. Quando o estresse chega ao ponto máximo, consegue se acalmar cantando velhas canções pop (nesse momento, Carell se torna impagável).

BOMBA

À medida que os episódios vão avançando, fica claro que as risadas de Space Force (e elas vêm aos poucos, mas quando chegam dominam você) estão na relação entre Naird e seu cientista-chefe, doutor Adrian Mallory (John Malkovich, simplesmente perfeito). Água e óleo, eles são, na essência, incompatíveis. Naird, que parte do pressuposto de que é melhor soltar uma bomba sempre que um problema aparecer pela frente, vê-se obrigado a lidar com a razão de Mallory. Malkovich é sutil, com sua fala cuidadosa e lenta, olhares de soslaio – um contraste e tanto para a interpretação explosiva de Carell.

A dupla acaba se tornando o destaque da primeira metade dos episódios (a Netflix disponibilizou para a imprensa os seis iniciais). Space Force vai funcionar melhor para aqueles que têm acompanhado a política norte-americana, mas não é uma série política. É uma narrativa em tom farsesco com algumas boas situações (e outras para lá de descartáveis), que tenta, com alguma inteligência, mostrar que dá para rir em meio ao caos geral.

SPACE FORCE
• Série estrelada por Steve Carell e John Malkovich
• 10 episódios
• A partir desta sexta-feira (29), na Netflix

MAIS SOBRE SERIES-E-TV