Série exibida no Instagram critica ricaços na quarentena

Equipe de atores gravou durante isolamento, cada um em sua casa, recebendo instruções do diretor via internet. Edição faz com que contracenem

Pedro Galvão 07/05/2020 09:04
Fotos Instagram/Reprodução
Elenco tem nomes famosos, mas nenhum dos atores foi remunerado pelo trabalho. Cada um gravou em sua própria casa, recebendo instruções do diretor via internet (foto: Fotos Instagram/Reprodução )
Lançamentos suspensos e gravações interrompidas ou canceladas em todo o mundo. O isolamento imposto pela pandemia do novo coronavírus afetou diretamente a teledramaturgia em nível planetário. Porém, para quem vive da própria criatividade foi possível achar um caminho para ultrapassar essa dificuldade.

Na última sexta-feira (1º), estreou a ‘instassérie’ Alta sociedade baixa, produção cômica envolvendo nomes conhecidos da TV brasileira, cujos capítulos são lançados no Instagram e filmagens feitas individualmente pelo elenco, cada um em sua casa.

O lançamento foi possível graças à vontade de atores e diretores de encontrar uma forma de trabalhar no período de restrições e dificuldades impostas pela quarentena.

“É uma espécie de antídoto a todo o marasmo, solidão e falta do que fazer que a quarentena causa nos artistas. São pessoas que gostam da rua, do palco, por mais que todo mundo seja conhecido ou tenha situação econômica ótima, também estão confinados”, afirma o diretor Rodrigo Pitta, idealizador do projeto.

Dramaturgo de múltiplas experiências no mercado audiovisual, incluindo o musical Cazas de Cazuza e a direção de turnês internacionais de Anitta, ele é responsável pelo coletivo artístico Team O, ao lado de Mariana Jorge. Juntos, pensaram no formato e convidaram um time de caras conhecidas, que toparam a proposta, sem receber cachê.

Apenas a equipe técnica de edição e montagem é remunerada na série. O elenco tem Samantha Schmütz, Tom Cavalcante, Adriane Galisteu, Karol Conká, Theodoro Cochrane, Glamour Garcia, Gustavo Mendes, Gorete Milagres, Leonardo Miggiorin, Reynaldo Machado e Pablo Morais. Até a maquiagem e o figurino são feitos domesticamente pelo próprio elenco, e Rodrigo Pitta os dirige por aplicativo de videochamada.

Pitta explica que ele e Mariana já eram acostumados a desenvolver projetos a distância, já que ela mora em Los Angeles. “Entendi que era necessário fazer alguma coisa pensando nos amigos artistas, pois tudo parou. Muita gente teve seus projetos cancelados, então tivemos essa ideia e resolvemos convidar pessoas próximas para fazer parte disso”, diz.

Assim nasceu a ideia de uma sátira sobre o comportamento de grupos sociais mais privilegiados durante a quarentena. Na trama, uma socialite chamada Lidia, interpretada por Samantha Schmütz, está entediada com o isolamento e arma uma reunião no apartamento luxuoso onde vive com o marido, um político de índole duvidosa, vivido por Theodoro Cochrane.
Fotos Instagram/Reprodução
A atriz mineira Gorete Milagres diz que o convite para participar da 'minstassérie' foi "um presentinho" (foto: Fotos Instagram/Reprodução)
“É um período muito maluco no Brasil e no mundo todo, mas aqui me parece que as coisas tomam um caminho mais egoísta, principalmente quando falamos de uma classe mais privilegiada, da qual muitas pessoas que conhecemos e amamos fazem parte. Então, é uma crítica a essa fatia, não há piada com o vírus, nem com a doença, que é muito grave, mas com o comportamento desse grupo”, afirma o diretor e roteirista.

Cada artista grava suas cenas em casa, e a edição faz com que eles “contracenem”. A mineira Gorete Milagres, sempre lembrada pela personagem Filó, participa também como trabalhadora do lar, mas sob outra configuração.

“Faço uma governanta de origem alemã. Ela é mais séria, tem uma voz mais grave, mas está na situação de milhares de empregadas do Brasil, sem poder cuidar da própria família porque a madame não quer ficar sem seus serviços”, diz Gorete, que aprovou a experiência de gravar em casa.

“Participar disso foi um presentinho na quarentena. Acho que o público vai se divertir, além de ser uma ocupação para mim dentro da minha arte”, comenta a atriz, que diz ter cancelado uma agenda cheia de compromissos com o espetáculo Filomena – 25 anos de peleja em razão da pandemia.

“Estou adorando participar, porque a gente morre se não tiver palco. Tenho que fazer alguma coisa. É uma situação muito alarmante”, afirma Gorete, que teme o avanço ainda maior da COVID-19 no Brasil. “Os números são catastróficos e devem piorar. Então, acho que esse formato de séries e novelas via Instagram pode ser uma solução.”

O primeiro episódio, de 8min, já está no ar. No total, serão oito, sendo que três já estão prontos. Rodrigo Pitta explica que a produção dos roteiros espera os acontecimentos sociais, para que os capítulos não fiquem datados.

No entanto, a equipe terminou sendo surpreendida pela realidade. “O primeiro episódio já estava pronto quando ocorreu o caso da festa na casa da (influenciadora digital) Gabriela Pugliesi. Foi surreal, pois a realidade acabou imitando nossa ficção. Era para a nossa história ser um caso exagerado, dentro da teledramaturgia, e acabou virando um caso trivial perto do que aconteceu”, diz.

Para assistir à série basta acessar a página www.instagram.com/altasociedadebaixa. Os novos capítulos serão lançados às sextas-feiras.

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