Uma das âncoras negras no jornalismo nacional, Joyce Ribeiro celebra ida de Maju Coutinho para a bancada do JN

Para jornalista, apresentadores negros vivem um bom momento que trará reflexos positivos para a sociedade

por Ana Clara Brant 26/02/2019 11:00
Adriane Sanseverino/TV Cultura
Joyce Ribeiro é a atual âncora do Jornal da Cultura, da Tv Cultura (foto: Adriane Sanseverino/TV Cultura )
Muito antes de Maju Coutinho estrear na bancada do Jornal nacional – ela se tornou no sábado (16) a primeira negra a apresentar o telejornal mais importante do país em 50 anos – outras jornalistas afrodescendentes já despontavam na telinha, inclusive como âncoras: Zileide Silva, no Jornal hoje; Aline Midlej, na Globonews; Luciana Barreto, na TV Brasil; e Joyce Ribeiro, na Record, no SBT/Alterosa e agora na TV Cultura.

“É um momento relevante sem dúvida por ser tratar do telejornal mais assistido do país, o que tem mais visibilidade e exposição. Principalmente, porque, desde que ele foi criado (1969), tivemos pouca presença de profissionais negros, como Glória Maria, na reportagem, e o Heraldo Pereira, apresentando. Por isso, é um marco e deve ser comemorado, ainda mais que se trata de uma mulher e terá seus reflexos na sociedade”, ressalta Joyce.

Assim que a novidade sobre Maju foi divulgada, Joyce Ribeiro chegou a receber uma série de mensagens exaltando esse momento e lembrou a sua própria trajetória. A atual âncora do Jornal da Cultura – que vai ao ar de segunda a sábado, às 21h15 – apresentou um telejornal em rede nacional pela primeira vez em 2002, o Fala Brasil, da Record. Já naquela época, o fato teve grande repercussão.

“Teve sim uma celebração porque tinha essa consciência da importância de uma negra apresentar um programa ainda mais para todo o país. Foi um divisor de águas na minha carreira. Mas acredito que hoje tudo é mais amplificado, mais acessível, o debate está mais perto das pessoas por conta das redes sociais. Deveria ser algo normal ter um jornalista negro comandando um jornal ou assumindo outras funções importantes, mas infelizmente não é. Espero que daqui a alguns anos isso possa ser encarado com mais naturalidade”, anseia.
Adriane Sanseverino/TV Cultura
A jornalista já passou por emissoras importantes como SBT/Alterosa e Record (foto: Adriane Sanseverino/TV Cultura)

Joyce se formou na Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), em São Paulo, cidade onde nasceu, e escolheu essa faculdade justamente por ela focar em TV. “Já vislumbrava trabalhar na televisão. E queria seguir aquilo de forma obstinada, apesar de ser um sonho distante”, pontua a jornalista que tem pós-graduação em política e economia pela PUC-SP. O primeiro estágio veio na Boa Vontade TV, da LBV, em que atuou em vária funções como pauteira, produtora e repórter. “Foi ali também que tive a minha primeira experiência como apresentadora. Era um programa sobre cultura”, lembra.


CREDIBILIDADE

De lá, migrou para a RIT (Rede Internacional de Televisão), onde apresentou o seu primeiro telejornal. Logo depois, foi contratada pela Record e, em 2005, foi trabalhar no SBT/Alterosa, empresa que considera fundamental para a sua formação. Joyce ficou 12 anos na emissora de Silvio Santos e passou pelos mais variados programas jornalísticos, como o SBT manhã, Aqui agora, Boletim SBT, Jornal do SBT, Primeiro impacto e SBT notícias. “Foi a casa onde fiquei mais tempo e me testei profissionalmente e de diversas formas. Não só por passar por diferentes programas, mas horários também. Sem dúvida, foi um lugar muito importante pra minha carreira”, destaca.

Desde abril de 2018 na bancada do Jornal da Cultura, Joyce Ribeiro festeja o atual momento. Além de estar numa emissora em que nunca havia trabalhado, ela salienta o formato do telejornal que diariamente – além da âncora – traz dois convidados de áreas variadas para comentar os assuntos do dia.”É o olhar do cidadão. Seja médico, economista, cientista político, professor. Eles versam comentários sobre todas as notícias; e não só sobre as de suas áreas. É muito interessante. Tem sido muito enriquecedor fazer parte de uma TV pública que tem muita credibilidade – algo fundamental no nosso meio. É bem diferente de tudo que já fiz na minha carreira e me deu um novo gás. Isso é muito bacana”, ressalta.

Inspiração em Chica da Silva

Assim que deixou o SBT/ Alterosa, Joyce Ribeiro foi se dedicar a um projeto inesperado: escrever um livro. O convite partiu da Editora Planeta, que a chamou para se dedicar a uma publicação sobre Chica da Silva. “A Chica sempre teve uma imagem muito erotizada e a ideia da editora era oferecer um novo olhar. Já era fascinada por esse personagem tão importante da nossa história e fiquei mais ainda quando mergulhei na sua trajetória”, revela. Joyce contou com a colaboração da pesquisadora Mirian Inês e fez um romance histórico em que tenta aproximar Chica da realidade atual das mulheres negras.

“Foi uma mulher forte, empreendedora, corajosa que cuidou dos filhos praticamente sozinha e não teve medo de enfrentar os padrões do século 18. Chica da Silva desempenhou muitas funções naquela época que hoje são tão comuns na modernidade. Era uma figura muito admirável”, celebra. O entusiasmo com Chica da Silva – Romance de uma vida foi tamanho que Joyce pensa em uma segunda incursão literária já programada para 2020.

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