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O fantasma

House of cards abandona trama política em favor do mistério da morte de Frank Underwood

 

 
A sexta e última temporada de House of cards, disponibilizada pela Netflix na sexta-feira passada (2) decepcionou a maioria dos críticos. Havia grande expectativa em torno da solução que seria adotada pelos criadores desse que foi o primeiro grande sucesso mundial da Netflix para se livrar de seu protagonista – o antes indispensável Frank Underwood (Kevin Spacey).


No fim de 2017, Spacey, de 58 anos, foi acusado de assediar e agredir dois jovens atores menores de idade nos anos 1980. Spacey nega as acusações, mas aproveitou a ocasião para divulgar publicamente sua homossexualidade. O fato de o ator ter tratado do assunto apenas nessas condições provocou desagrado em grande parte da comunidade de Hollywood, e ele recebeu também acusações de má conduta no set da série.


A Netflix interrompeu as gravações de House of cards em outubro de 2017, logo após as revelações, e dispensou Spacey. Sem saber que o personagem principal, Frank Underwood, teria que abandonar a trama, os autores da série facilitaram a tarefa no fim da quinta temporada, quando colocaram Claire (Robin Wright), esposa do inescrupuloso presidente, para sucedê-lo.
No início da sexta temporada, é possível ver que Frank Underwood morreu enquanto dormia, dias depois da posse de Claire. E, de agora em diante, ela tentará dar uma identidade à sua presidência, em um contexto de grande hostilidade. Na verdade, Claire não conta com aliados nem dentro nem fora da Casa Branca.

MISTÉRIO Mas o aspecto que frustrou a maioria dos críticos é o fato de House of cards ter abandonado seu DNA de trama política e levado esta sexta temporada para a direção do mistério em torno da morte de Frank. Além da mudança de tom, ficou claro também que, mesmo ausente, Kevin Spacey continuou dominando a narrativa, o que foi considerada uma solução débil pelos que aguardavam o grande momento de Robin Wright com sua Claire Underwood assumindo de vez o primeiro plano.


É fato, porém, que para uma série concebida como um dueto reinventar-se na forma de um protagonista solo não seria tarefa fácil.

Um recurso utilizado pelos autores e certamente influenciado pela emergência dos movimentos #Time’sUp e #MeToo é a abertura de mais espaço para personagens femininas, notadamente nas personagens de Annette Shepherd (Diane Lane) e Jane Davis (Patricia Clarkson). “Existem papéis realmente importantes para as mulheres este ano” em House of cards, disse Clarkson à revista People. Ainda como uma sinalização de sintonia com as demandas atuais, Robin Wright dirigiu o último episódio da série.


Para a atriz, essa escolha envia uma mensagem às elites políticas, as reais. Nos Estados Unidos, as mulheres representam 51% da população, mas “apenas 20% do Congresso”, observa. “Nosso governo e nosso Congresso devem refletir sobre isso mais profundamente.”


Embora a Netflix não divulgue números de audiência, é consenso que House of cards foi seu primeiro sucesso massivo. Na Presidência dos Estados Unidos, Barack Obama chegou a participar de uma paródia da série num encontro anual com correspondentes da Casa Branca. A produção também deu à plataforma de streaming seus primeiros prêmios no universo da TV – foram sete Emmys e dois Globos de Ouro.

No entanto,  House of cards começou a dar sinais de esgotamento há três anos, quando não venceu nenhum prêmio importante. (AFP)

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