No verbete do dicionário Houaiss, biografia é “o relato da vida de alguém” ou a obra que traz esse relato. Do título do livro Biografia da televisão brasileira, lançado pelos jornalistas Flavio Ricco e José Armando Vannucci, pode-se presumir a importância e a representatividade desse veículo para a cultura e a história do Brasil.
“A televisão é a pessoa mais presente na vida dos brasileiros. É uma companhia. Damos boa-noite aos apresentadores do Jornal Nacional, discutimos com os personagens das novelas. Há intimidade com o que está sendo visto ali”, diz Vannucci. Ricco completa: “A TV acabou ganhando importância que poucos segmentos têm. É a única opção gratuita de diversão de muita gente. E tem muita diversidade”.
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“Não havia um livro dedicado a contar a história da TV brasileira desde seu início. Os registros eram muito pobres ou se centravam num único período. A ideia é que esse livro passe a ser importante fonte de pesquisa”, conta Ricco. “No Brasil, a TV saiu do nada. Hoje, é a terceira maior do mundo, a maior e melhor da América Latina”, completa.
Há curiosidades saborosíssimas no livro, como o delicioso diálogo de Dercy Gonçalves com Silvio Santos, quando ela foi assinar contrato com o SBT. A atriz notou que não estava estipulada a data de término do acordo e questionou o empresário.
Os autores lembram o acidente com a atriz e apresentadora Márcia Real, que comandava o TV de vanguarda, na TV Tupi. A cena, em que a personagem morria afogada, foi gravada numa banheira. Mesmo depois do “corta!”, a atriz não saiu da água. Márcia havia fraturado a bacia durante as gravações e saiu dali direto para o hospital.
CRISE
“A TV não está em crise. Pelo contrário, ela está melhorando. O jornalismo é um exemplo: hoje já se consegue concorrer em rapidez com o rádio e até com a internet com o auxílio de câmeras de celular que transmitem com qualidade e de onde a notícia estiver. Na dramaturgia, a experimentação vem crescendo.
Para Vanucci, a televisão brasileira está “melhor em todos os sentidos, da tecnologia à criatividade”. O jornalista lembra que o início da atividade já era promissor, com a ida de estrelas do rádio – Ary Barroso, Dorival Caymmi e Inezita Barroso – para a telinha.
Na década de 1980, houve percalços. “Não estávamos acostumados a ter liberdade. Demoramos a saber o que fazer com a TV. Então, falava-se e fazia-se de tudo, inclusive passando de alguns limites. Hoje, nós nos recuperamos. Está tudo melhor: os recursos, os textos...”, afirma ele.
Vannucci e Ricco não acreditam que a TV será destruída por plataformas de streaming como a Netflix. No entanto, ela vai passar por adaptações. De acordo com a dupla, o programa MasterChef, noticiários e a novela A força do querer, por exemplo, mostram que as redes sociais e a televisão são mais aliadas do que concorrentes.
“As emissoras de TV aberta estavam com medo do streaming. Porém, perceberam que ele não diminuiu a audiência delas.
A PIONEIRA
A televisão chegou ao Brasil em 18 de setembro de 1950 pelas mãos do empresário Assis Chateaubriand – dono do grupo Diários Associados, ao qual pertence o Estado de Minas. Naquele dia, foi inaugurada a TV Tupi, em São Paulo.
A transmissão pioneira exibiu uma celebração, apresentação de balé de Lia Marques e Rosalina Coelho declamando poemas. Lolita Rodrigues e o mexicano Frei José Mojica cantaram o Hino da televisão. Logo depois, entrou no ar o programa TV na taba Em 20 de setembro, a Tupi exibiu o primeiro humorístico nacional: Rancho alegre, comandado por Mazzaropi.
BIOGRAFIA DA TELEVISÃO BRASILEIRA
De Flavio Ricco e
José Armando Vannucci
Matrix
928 páginas (2 volumes)
R$ 99,90