Com protagonistas negros, 'Cidade dos Homens' ganha novos episódios

Trama ressalta o racismo, a violência e o dia a dia das favelas. Série estreia nesta terça (2), na Rede Globo

por Estadão Conteúdo 02/01/2018 09:02

João Cotta/Divulgação
Roberta Rodrigues diz que a realidade das comunidades cariocas piorou depois de 2002, quando 'Cidade dos Homens' estreou. (foto: João Cotta/Divulgação )

“Vai ter negro, pobre e favelado, sim!”. A fala de Roberta Rodrigues, em tom de protesto, constata o óbvio: é pequeno o número de produções na televisão brasileira que têm negros como protagonistas. Quando uma série como Cidade dos Homens ganha espaço na faixa nobre da maior emissora do país, os atores comemoram. “Essas pessoas humildes são as que mais assistem à TV. Elas gostam de se sentir representadas”, acrescenta a atriz.

Depois de um hiato de 12 anos, a TV Globo resgatou Cidade dos Homens e a relançou em formato de minissérie, em 2017. Era para ter apenas uma temporada, mas a boa audiência levou a emissora a encomendar a nova leva de episódios, que será exibida diariamente, a partir desta terça-feira (2) até sexta-feira (5), na faixa das 23h.

 

 

Cenas de flashback dos episódios exibidos entre 2002 e 2005 voltam à nova temporada, mas numa frequência menor. Acerola (Douglas Silva) e Laranjinha (Darlan Cunha), agora adultos, dividem o protagonismo com seus respectivos filhos, Clayton (Carlos Eduardo Jay) e Davi (Luan Pessoa).


A novidade fica por conta da volta de dois antigos personagens: Poderosa (Roberta Rodrigues), mãe do filho de Laranjinha, e João Vitor (Thiago Martins), amigo playboy da dupla que ressurge como professor das crianças.

PSEUDOBONANÇA O racismo, tema recorrente da série, também é colocado em xeque na nova temporada. “Temos uma história ainda mais inserida na realidade atual do Rio de Janeiro, um estado onde as mazelas estão mais agudas, depois de uma pseudobonança”, explica George Moura, supervisor de roteiro de Cidade dos Homens.

“Este ano, também há duas histórias fortes, que envolvem violência, preconceito, falta de emprego, a nova realidade da comunidade pós-falência das UPPs e a diversificação das ações dos bandidos, envolvendo-se em roubo de carga e revenda de produtos roubados. Ou seja, é o Rio cidade partida e ferida dos dias de hoje”, diz Moura.

Nascida no Vidigal – favela carioca cujo cotidiano remete a Cidade dos Homens –, Roberta Rodrigues diz que a realidade das comunidades piorou em relação a 2002, quando a série estreou. “Antes da pacificação, tínhamos momentos de crise. Hoje não sabemos mais quando podemos sair de casa. O Rio de Janeiro está abandonado. O tráfico e a violência não estão somente dentro do morro”, afirma a atriz.

“Nossos governantes conseguiram fazer com que o povo se virasse contra o próprio povo. A gente não tem estudo, não tem liberdade. Somos escravos desses políticos imundos. Como é que se transforma uma comunidade se o tempo inteiro o preconceito é jogado na nossa cara?”, lamenta Roberta.

Apesar de muito se falar em protagonismo negro na TV brasileira, a atriz adverte: o preconceito ainda dá as cartas. “As pessoas que têm o poder não fazem muito para mudar isso. Existe um sistema ‘antinegro’ como protagonista no audiovisual. Só estou no personagem quando vem descrito ‘médica negra’ ou ‘advogada negra’. Não tem que vir assim. Para ser advogada, preciso apenas estudar. A qualidade do ser humano independe da cor da sua pele”, afirma.

EXTERIOR Roberta Rodrigues, que integrou o elenco do aclamado longa Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles, constata que, ao contrário do Brasil, produções realizadas no exterior se empenham em destinar personagens importantes a atores negros.

“A gente precisa saber que o momento de mudar é agora. Amo ter nascido na favela, porque aqui a gente se ama pelo ser humano que somos, não pela cor de nossa pele. Não queria ter nascido em outro lugar”, conclui Roberta. 

 

CIDADE DOS HOMENS
• TV Globo
• Estreia nesta terça-feira (2), às 23h09.
• Em cartaz até sexta-feira (5)

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