Erika Januza diz que, como na novela, também foi discriminada em relacionamentos amorosos por ser negra

A ex-doméstica Raquel, personagem da atriz mineira, dá a volta por cima e reaparece como juíza. Januza defende enfrentamento de opressores e diz que a vida é "roda-gigante"

por Estadão Conteúdo 03/12/2017 09:00
Raquel Cunha/Globo
Apaixonados, Bruno (Caio Paduan) e Raquel enfrentam preconceito por ela ser negra (foto: Raquel Cunha/Globo)

Erika Januza, mineira de Contagem,  acredita na lei do retorno. Em O outro lado do paraíso, novela das 21h da Globo, a personagem da atriz, Raquel, que tanto sofreu na primeira fase da trama de Walcyr Carrasco, deu a volta por cima. Na nova etapa, ela aparece como juíza para surpresa de Nádia (Eliane Giardini). Após estudar muito, a ex-empregada doméstica vai trabalhar com Gustavo (Luis Melo), o que gera fortes cenas no folhetim. “A vida é uma roda-gigante. Hoje você está aqui, mas tem que se ligar porque o mundo dá voltas. Se você não agiu bem, amanhã pode pagar pelos seus atos. E a novela tem falado sobre isso lindamente”, defende a atriz.


Como reflexo do seu trabalho, Erika acha que pode inspirar outras pessoas a reagirem contra o racismo. Segundo ela, o alcance da novela no Brasil pode abrir os olhos de muita gente. Na opinião da atriz, a história da jovem Raquel, que sai do quilombo para estudar e se torna juíza, serve de aviso de que condições sociais mudam e que todo preconceito deve ser combatido.

Raquel Cunha/Globo
Depois de ser humilhada pela ex-patroa, Raquel (Erika Januza) vai à luta e se torna juíza em O outro lado do paraíso (foto: Raquel Cunha/Globo)


“A novela mostra um pouco da realidade. Tudo bem que é ficção, mas é inspirada em situações reais. É tão bom quando você assiste a algo e se identifica, se vê na TV. Passo por preconceito, assim como a Raquel. Mas aí ela dá a volta por cima e a pessoa que está assistindo sente que também pode”, acredita.

Em muitos capítulos de O outro lado do paraíso, Raquel foi humilhada por Nádia quando trabalhou em sua casa como doméstica. Para Erika, todas as situações que encenou a tocaram profundamente. Refletindo sobre as emoções que sentiu na pele da personagem, ela torce para que no futuro essas profissionais tenham coragem de enfrentar os opressores

“Fiquei me perguntando quantas empregadas domésticas por aí passam por situações das quais não têm como se defender. Não podem responder para não perder o emprego. É bom a pessoa assistir e ver que ela pode fazer diferente. Vou ficar feliz se atingir as pessoas, nem que seja um pouquinho”, afirma.

RACISMO
Erika conta que, infelizmente, também já foi vítima de racismo na vida real. Inclusive em relacionamentos amorosos. A atriz lembra que as famílias de alguns namorados não gostavam dela por ser negra e que isso a deixou desconfortável em diversas ocasiões

“Hoje sou uma pessoa mais consciente. Na época, não percebia que era isso (racismo). Fui entendendo depois, quando a coisa ficou mais verbalizada. Acabou não dando certo. Não foi uma vez só, mas, graças a Deus, não acabou só por causa disso (racismo). Tiveram outras questões também”, relata.

Na novela, Raquel e Bruno (Caio Paduan) sofreram com o preconceito. Porém, depois de anos separados, eles irão se reencontrar e o sentimento continuará o mesmo. Segundo sua intérprete, enquanto houver racismo, a questão merece ser debatida com frequência.

“Tem que ser discutido. Acho que posso me relacionar com quem eu quiser, da cor que quiser. Mas tem muita gente que julga. As pessoas sempre se incomodam com quem está do lado. Isso vem lá de trás, é histórico e se mantém até hoje”, argumenta a atriz.


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