'Enquanto a Globo quiser, vou ficando', diz Tony Ramos

Com 53 anos de televisão, ator é um dos protagonistas de 'Tempo de amar', trama de época que estreia nesta terça (26) na Globo

JOÃO MIGUEL JR./DIVULGAÇÃO
Ator em cena na novela 'Tempo de amar' (foto: JOÃO MIGUEL JR./DIVULGAÇÃO)
Tony Ramos
retorna para 1927 na pele de José Augusto em Tempo de amar, novela que estreia nesta terça (26), na faixa das 18h, na Globo. Pai protetor de Maria Vitória (Vitória Strada), o produtor de azeite e vinho não se conformará ao ver a filha grávida de Inácio (Bruno Cabrerizo). Magoado com a herdeira, ele a interna num convento e entrega a neta para adoção. Viúvo há muitos anos, o dono da Quinta da Carrasqueira mantém um romance secreto com a empregada, Delfina (Letícia Sabatella). Na entrevista a seguir, o ator dá detalhes de seu personagem no folhetim romântico de Alcides Nogueira, fala sobre a importância de enfatizar o amor em períodos de crise e diz que o público clama por viajar na fantasia.

Como você vê o José Augusto de Tempo de amar?

O José Augusto é um rico proprietário de vinícolas e dono de uma plantação de oliveiras em Morros Verdes (aldeia fictícia de Portugal). Tem negócios internacionais, encontra-se com os ingleses, vai à cidade do Porto fazer negócios, tem uma filha única e, com o falecimento da mulher, cria Maria Vitória (Vitória Strada) sozinho, com a ajuda de sua governanta, Delfina (Letícia Sabatella). Esse homem vai vivendo sua vida até que a sua filha resolve dizer que está apaixonada por alguém que ele não quer. Não dá para a gente dizer hoje, com a nossa cabeça moderna, que essa ideia é velha e antiquada, pois temos que abrir o portal do século 20 e mergulhar nele.

A novela fala de amor. O que significa tocar nesse assunto em um momento de crise no Brasil e no mundo?

Em todas as épocas, desde a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a Segunda (1939-1945), por exemplo, eram grandes os sucessos da Broadway. Não que ela não tenha êxito hoje, mas as pessoas buscavam o respiro em plena época de guerra. E com Londres sendo bombardeada, a gente tinha o teatro de revista, porque as pessoas precisavam disso. Buscamos refletir sobre o amor em todas as épocas, há milênios. Não é porque as pessoas ficam completamente absortas pelo amor que se esquecem do que há de real. Isso é uma balela! As pessoas sabem onde o calo aperta, onde dói ou não. O público clama por viajar em uma certa fantasia. Mas aí não seria uma certa alienação? Claro que não! Repito, as pessoas continuam pagando suas contas e sabendo quais são os seus problemas.

Qual a sua opinião sobre a renovação no elenco da novela das seis, com protagonistas ainda desconhecidos do público?
Quando entrei para a TV, já estavam o Lima Duarte, o Juca de Oliveira e também o meu saudoso Elias Gleizer. Nossas diferenças de idade não importam mais, mas quando comecei era menor de idade, e o Elias já era um homem consagrado. Ter a renovação de elenco não significa que os outros foram esquecidos. A dramaturgia vai precisar ainda do titio, do vovô, do bisavô. Enquanto a Globo quiser, vou ficando. O importante do ser humano é saber entender as suas idades. Acho que a idade, se você tem saúde e consegue trabalhar, é uma bênção. É o tempo que vai dizer se o jovem tem o seu espaço ou não.

Como avalia a sua trajetória profissional?
Tenho 53 anos de televisão, ininterruptamente, junto com teatro e cinema. Esses anos me fazem lembrar da minha saudosa TV Tupi de São Paulo, onde atuei ao vivo. Comecei a fazer novelas em 1965, então faço esse produto há 52 anos. Naquela época, havia a figura ingênua do amor impossível, o romance da empregada pelo dono da casa e vice-versa, os clássicos romances de folhetim. Quando fazíamos telenovela naquela altura, havia uma censura prévia no texto. Isso tudo faz parte da minha história. Ninguém precisa me contar isso, porque eu vivi.

O formato de novela como nós conhecemos está com os dias contados?

Em 1978, já falavam que a novela estava com os dias contados. Isso começou a amenizar entre 1983 e 1984, pois diziam que a novela estava muito forte, mas que preferiam as de antigamente. É da natureza humana. O olhar contemplativo dos folhetins ainda existe, mas o que mudou é o tempo da contemplação. Porque querem tudo mais mastigado. Isso veio lá atrás com o videoclipe de três minutos, porque o de três e meio já era muito grande.

Que mudanças você destaca na TV de hoje?
Mudou o jeito de ver televisão. Mas A força do querer, por exemplo, está aí, num patamar bom de audiência, mesmo com todas as ofertas que existem de produtos alternativos. Quer dizer que uma história bem contada, tendo início, meio e fim, funciona. E com um triângulo de que não abro mão, que a novela tem de ter: amor, paixão e suspense. Tendo esse triângulo respeitado e bom texto, é impossível que alguém não queira acompanhar. Uma história bem contada não muda. Só muda o lugar em que você a assiste.

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