Série 'Os Defensores' reforça o carisma particular dos quatro protagonistas

Projeto da Netflix e da Marvel visa à renovação do público também mantém viva a cultura das HQs

Fernanda Guerra
Cidade do México – Desde 2015, a parceria entre a Netflix e a Marvel atraiu um contingente expressivo de fãs para quatro séries: Jessica Jones, Luke Cage, Demolidor e Punho de Ferro.
Rodeada de expectativas, Os Defensores, a quinta atração do projeto, traz os quatro super-heróis reunidos e dividindo o protagonismo.

Além de apresentar novas tramas envolvendo os personagens de HQs, a Netflix contribui para aumentar ainda mais a popularidade do quarteto e, quem sabe, fomentar a renovação do público consumidor de narrativas do gênero. Vale ressaltar: as séries estão disponíveis em 190 países. O próprio ator Charlie Cox não conhecia o Demolidor antes de ser convidado para interpretá-lo. O inglês, de 34 anos, nunca havia lido uma HQ do super-herói, cuja primeira publicação ocorreu na década de 1960.

Antes de estrelar Punho de Ferro, cuja primeira aparição foi registrada em 1974, Finn Jones leu quadrinhos para identificar o tom usado em diferentes obras. O mergulho no universo de superpoderes surtiu efeito positivo.

“Tem sido incrível, maravilhoso. Filmar uma série individual, focada num único personagem, pode ser muito cansativo e pesado. É algo muito sério.
Um projeto em comum é maravilhoso. Nós temos dias de folga, podemos descansar um pouco, deixar a série respirar, deixar os personagens respirarem”, detalhou ele, em conversa com jornalistas no México.

Os quatro primeiros episódios de Os Defensores – são oito no total – contextualizam os personagens no momento posterior aos seriados individuais. Na medida em que os episódios avançam, os heróis se cruzam. As nuances das cores ajudam a demarcar cada um deles. Tons mais sombrios vão para Matt Murdock (Charlie Cox) e os mais suaves para Danny Rand (Finn Jones).

Conflitos urbanos e mulheres fortes seguem na nova produção. O destaque vai para a vilã Alexandra (Sigourney Weaver). “Ela é o ícone americano que menos te desaponta. Muito especial, é tudo o que você espera que ela seja”, ressalta Cox.

*A repórter viajou a convite da Netflix


ENTREVISTA


"É um time"

Charlie Cox e Finn Jones analisam detalhes relativos aos personagens Demolidor e Punho de Ferro. A união com Jessica Jones e Luke Cage revigora os quatro, afirma a dupla - Foto: BERNARDO MONTOYA/AFP

Vocês notam alguma evolução no amadurecimento de seus personagens em Os Defensores?
CC – Sim, claro. Como é de se esperar em boas séries, os personagens aprendem ao longo de sua jornada, a partir dos próprios erros. É algo com o que concordamos. Enquanto damos vida a eles, uma coisa importante é esse crescimento. O interessante é que são forçados a trabalhar juntos, como um time. Têm personalidades próprias, mas são colocados juntos e precisam aprender a trabalhar em equipe.
Falando por Matt, ele precisa aprender a ter maior sensibilidade, algo a que se opunha no princípio. E deve acreditar que aquelas pessoas têm boas intenções.

FJ – O Danny progrediu. Uma das grandes questões, desde o princípio, era o que ele poderia aprender com os outros três e o que poderia lhes dar. Pra mim, é muito importante Danny ter contato com esses personagens, pois eles o mantêm focado, mais consciente de suas responsabilidades. Vê que os outros têm habilidades parecidas com as suas, mas as usam com discernimento, com propósito. É a primeira vez que percebe isso, o que o torna mais sensível às responsabilidades, digamos assim. Ele vê que não está sozinho.

Como as cinco séries ajudam a renovar o público dos quadrinhos?
CC – Uma das primeiras coisas que você descobre quando se engaja com os fãs de uma série é que se cresce amando aqueles personagens, não deixa de gostar deles quando tem 20, 30 ou 40 anos. Você os mantém vivos, é maravilhoso. Esses personagens têm fãs que os acompanham desde a infância. Quando se faz um filme de super-herói, o objetivo é dinheiro, entende? Então, algumas coisas são modificadas para agradar o grande público, mais ainda as crianças e os jovens, pois eles geram bilheteria.
Uma coisa excelente da Netflix é não produzir mentiras para tornar as séries mais populares. Você tem que acompanhar, entender o personagem. No cinema, alguns personagens vêm sendo infantilizados, enquanto outros ganham contornos muito sombrios... O que torna as séries da Netflix tão populares é o fato de, pela primeira vez, os personagens das HQs ganharem vida de forma tão real. Os fãs de 20, 30 ou 40 anos têm sido contemplados.

FJ – A Netflix tem mantido os quadrinhos vivos. Você tem as séries dedicadas a um único personagem, depois aquela que pode se cruzar com outra, os personagens se misturam, surgem super-grupos... Como ocorre na HQ. A Netflix tem feito uma boa representação do que está nos quadrinhos, a releitura real das HQs do passado.

Roteiro antenado

Mulheres poderosas marcam presença na nova fase das séries - Foto: Jessica Miglio/Netflix

• FEMINISMO

Estrelada por Krysten Ritter, Jessica Jones traz o empoderamento feminino como essência da série. A personagem principal é uma investigadora, cuja habilidade é a força extraordinária adquirida depois de um acidente de carro. Relacionamentos abusivos são o cerne da primeira temporada.

INCLUSÃO
Demolidor foi a primeira série da Netflix com audiodescrição, ou seja, com narração dos detalhes de cenas para os cegos. O personagem principal é o advogado Matt Murdock, que perdeu a visão na infância. A partir daí, ele adquiriu habilidades.

RACISMO
O personagem Luke Cage é um dos primeiros super-heróis negros dos quadrinhos. Preso injustamente, sofreu maus-tratos na cadeia. Submetido a experimentos, adquiriu habilidades. Boa parte do elenco é negra e a trilha sonora tem hip-hop e soul.


Espiritualidade oriental é a marca do empresário Danny Rand, o Punho de Ferro. Considerado morto, ele foi treinado em artes marciais em uma cidade mística. Na série, que aborda filosofia, Rand não usa o uniforme do super-herói que exibe.

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