Não consigo mais correr, doutor!

A síndrome compartimental crônica é um desconforto progressivo, comumente na região da perna, que aumenta de intensidade durante a corrida

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(foto: Pixabay)

Você já sentiu uma sensação de desconforto na região da panturrilha após começar a correr que o motivou a interromper a atividade? Se sim, continue a leitura desta coluna. Talvez você esteja com uma doença chamada síndrome compartimental crônica.

A síndrome compartimental crônica, que mais frequentemente é vista em corredores de longas distâncias, é caracterizada por uma sensação de desconforto progressivo (mais comumente na região da perna), que aumenta de intensidade durante a corrida e pode motivar a interrupção da atividade.

Esse desconforto é descrito como um aperto, podendo estar associado a alterações na sensibilidade, formigamentos e até diminuição da força da perna. Essas alterações são induzidas pelo exercício e, para entendê-las, devemos recorrer à anatomia da perna.

A perna possui quatro compartimentos: anterior, lateral, posterior profundo e posterior superficial. Cada um desses compartimentos possui músculos e alguns deles vasos e nervos, todos limitados por uma estrutura denominada fáscia, que delimita esses compartimentos e possui uma característica que nos ajuda a entender a gênese da síndrome compartimental: ela é inelástica. Isso faz com que os aumentos de volume dentro do compartimento (do conteúdo) não sejam acompanhados por uma expansão da fáscia (do continente), gerando um aumento de pressão.

Para quem entendeu a miniaula de anatomia, já faz sentido entender que, nas pessoas que sofrem com a síndrome compartimental crônica, um aumento da pressão em um compartimento da perna durante o exercício, devido à dilatação do músculo, passa a gerar dor e pode comprimir os vasos e nervos daquele compartimento, intensificando os sintomas. O aumento de pressão pode chegar inclusive ao ponto de motivar o corredor a parar a atividade, como dito anteriormente.

Para quem se identificou com os sintomas e entendeu por que eles ocorrem, calma! Existe luz no fim do túnel. Inicialmente, o tratamento dessa condição é feito de maneira conservadora com trabalho de força muscular, flexibilidade, tensão miofascial, gesto esportivo e controle de carga. Para aqueles que mesmo assim não melhoraram, ainda existe a opção de cirurgia.

A cirurgia para a síndrome compartimental crônica da perna consiste na liberação da fáscia do compartimento afetado. Ela pode ser realizada de maneira minimamente invasiva, por meio de incisões menores e apresenta excelentes resultados no que tange ao retorno à corrida.

Cuidem dos seus pés! São eles que nos levam cada vez mais longe!