Quais os maiores desafios do médico geriatra no interior de Minas nesta pandemia?

Como suportar a quarentena, manter acompanhamentos periódicos de doenças crônicas e cuidar da funcionalidade e qualidade de vida são alguns deles

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(foto: Wikipedia)

Na última semana, alguns geriatras que, assim como eu, atuam em Belo Horizonte me responderam a seguinte pergunta: De qual mal mais estão sofrendo seus pacientes, durante a pandemia? As respostas variaram entre o medo por vários motivos, a depressão e a ansiedade causada pela desinformação e a restrição da mobilidade.

Nesta semana, resolvi conversar com colegas geriatras que atuam no interior de Minas. A minha vontade era saber e compartilhar aqui se a dor e as dificuldades trazidas pela pandemia são diferentes, ou não. Dessa vez, minha pergunta foi: Quais os maiores desafios do médico geriatra, no interior de Minas, durante a pandemia? Vamos às respostas. 

"Existe uma desigual distribuição de profissionais geriatras no interior do país e em Minas Gerais não seria diferente. O estado possui mais de 700 municípios com população abaixo de 25.000 habitantes, sendo 480 com menos de 10.000. A população idosa carece de serviços de saúde, inclusive os especializados no envelhecimento. Nesta pandemia, os geriatras que estão nessas localidades têm enfrentado um enorme desafio para orientar a população idosa a suportar a quarentena, manter acompanhamentos periódicos a fim de evitar descompensações de suas doenças crônicas, além de cuidar de sua funcionalidade e qualidade de vida. 

São idosos acostumados a manter vínculos sociais estreitos. Acredito que o distanciamento de parentes e amigos represente o maior agravo à saúde do idoso, seja de caráter físico ou mental. O idoso do interior está acostumado com o “calor humano”, o “cafezinho na casa da cumadre”, a “espiadinha na janela”. O afrouxamento destes laços têm causado imensa dor na alma. Será um enorme desafio auxiliá-los nesta nova rotina.” Dr Diogo Kallas Barcellos - geriatra em Uberlândia. 

"Como a população da 3ª idade faz parte da faixa etária de maior risco para adoecimento e morte pelo COVID-19, ela está enfrentando um dos grandes problemas ocasionados pela pandemia: o medo e o isolamento social. Esse medo levou os idosos do interior a terem prejuízos no controle de patologias prevalentes nessa faixa etária, como hipertensão e diabetes. Por causa do isolamento social, sintomas como ansiedade e depressão também se tornaram mais comuns. 

Nas cidades do interior, é comum nos finais de semana os familiares se reunirem nas casas de seus pais e avós para pequenas confraternizações (almoços em famílias, café da tarde). Infelizmente, a pandemia tornou isso impossível. Os finais de semana ficaram mais tristes e os idosos que necessitam desse calor humano de filhos e netos não estão recebendo essas esperadas visitas. Com isso, nós geriatras que atuamos no interior, estamos usando dispositivos remotos (telemedicina, whasapp, redes sociais), que já são usados em várias casas desse idosos - inclusive na zona rural. Tentamos orientar os familiares e também os próprios idosos que já manuseiem bem esses recursos a buscarem o controle desses sintomas que estão se exacerbando nesse momento tão triste de pandemia. Outro recurso importante que também utilizamos aqui são as consultas domiciliares para aqueles que não podem ser orientados por essa tecnologia e necessitem de forma imprescindível de uma avaliação presencial com o geriatra." Gustavo Henrique de Melo da Silva - geriatra em Manhuaçu.

"A relativa demora para a COVID-19 se tornar realidade no interior de Minas Gerais trouxe consequências para todos, mas principalmente para os idosos.         
                                
O isolamento está sendo prolongado e o geriatra tem que lidar com dois extremos: o idoso que está fazendo o isolamento social correto, e tem tido algumas consequências, como depressão, medo de procurar assistência médica para controle de suas doenças e o idoso que não faz o isolamento social e que fica muito exposto ao risco dessa doença. Tentar um equilíbrio entre os dois grupos tem sido um desafio constante para os profissionais que lidam com esses pacientes." Flávia Lima Nogueira - geriatra em Sete Lagoas. 

A pandemia trouxe ao interior de Minas um desafio a mais. Nossa cultura interiorana é extremamente social e calorosa. Não é que a dor causada pela pandemia aos mais velhos que vivem no interior seja maior, mas eles estão precisando aprender a viver distanciados.  Viver distanciado é uma pedra no sapato de qualquer bom mineiro.

É Drumond… “No meio do caminho tinha uma pedra”. 

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