Pesquisas sobre a genética do câncer

Estudos de sequenciamento genético vem permitindo entender melhor a mecânica da doença, auxiliando na prevenção, no diagnóstico e em seu tratamento

Divulgação/Australian Government Dept of Health
(foto: Divulgação/Australian Government Dept of Health)
Temos no próximo dia 27 o Dia Nacional de Combate ao Câncer, mais uma oportunidade para chamar atenção da população sobre essa complexa e intrigante doença, que afeta - mesmo que de formas diferentes - a pessoas de todo o mundo, resultando em cerca de 10 milhões de óbitos por ano. No Brasil, essa estatística já alcançou um patamar de mais de 280 mil óbitos anuais. A estimativa de incidência de câncer no Brasil é de 625 mil novos casos para cada ano do triênio 2020-2022, sendo o câncer de próstata o mais incidente em homens, com 65.840 casos; e o de mama o mais incidente entre mulheres, com 66.260 casos, segundo informações do INCA.

Ao contrário de muitas doenças causadas por vírus e bactérias, o câncer, por sua própria gênese, possui um comportamento de certa forma imprevisível. É como se não fosse uma, mas inúmeras doenças, visto que cada tipo de tumor funcionará de forma diferente. E até mesmo tumores do mesmo tipo podem apresentar evoluções e respostas diferentes.

Isso ocorre porque o câncer é impulsionado pelas mudanças genéticas, que podem ser imprevisíveis. No entanto, o advento do sequenciamento genético vem permitindo a documentação sistemática dessas variações, assim como entender melhor a mecânica de funcionamento tumoral, o que é útil para a prevenção, diagnóstico e tratamento oncológico.

Existem inúmeras pesquisas nesse sentido, que já vêm dando resultados palpáveis e darão muitos outros ainda. Um desses projetos é o Consórcio Internacional de Genoma do Câncer (ICGC), que faz a análise integrativa de 2.658 genomas de câncer inteiro e de seus tecidos normais correspondentes em 38 tipos de tumores.

O projeto descobriu que os cânceres têm em média entre quatro e cinco tipos de mutações fundamentais que levam ao crescimento celular anormal. Além disso, os pesquisadores descobriram que um quinto das mutações havia ocorrido anos ou mesmo décadas antes de o câncer ser detectado. Isso contribui em muito com a possibilidade de desenvolver novos testes para diagnósticos mais precoces do câncer ou para identificação de pessoas com alta probabilidade de desenvolverem essa doença.

O uso de exames genéticos relacionados ao câncer já está em uso com algumas aplicações indicadas para confirmação de hereditariedade de mutações em pessoas com perfil para predisposição. Mas a ideia é expandir o uso desse tipo de tecnologia para diagnóstico de tumores não hereditários, com exames de sangue que poderiam ser feitos em rotinas médicas. No Reino Unido, 165 mil pessoas estão sendo submetidas ao Galleri, um exame de sangue com potencial de detectar mais de 50 tipos de câncer precocemente.

Em análises anteriores, o exame demonstrou capacidade de identificar alterações moleculares, inclusive de tipos de câncer de difícil diagnóstico precoce, como de cabeça e pescoço, ovário, pancreático, esofágico e alguns de sangue.

Já nos Estados Unidos, uma startup do Vale do Silício desenvolveu um kit de teste genético para tornar a identificação do risco de câncer de mama e de ovário mais acessível financeiramente para as mulheres. Chamado de Color Genomics, o teste é feito com a análise de saliva para identificar até 19 variações genéticas que estão relacionadas a um risco maior desses tipos de câncer.

Todas essas inovações são promissoras e mostram que em um futuro próximo se tornarão cada vez mais comuns. Contudo, não é possível prever quanto tempo ainda teremos que esperar para que estejam disponíveis em sistemas públicos de saúde.

É importante lembrar contudo que, por mais que as tecnologias avancem, os cuidados preventivos relacionados ao estilo de vida e comportamento, juntamente com as consultas e exames de rastreamento são hoje o que temos para combater o câncer, de todos os tipos. E continuarão a ser primordiais!