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Oncologia

Dieta mediterrânea reduz progressão do câncer de próstata em fase inicial


Meus pacientes e as pessoas que já assistiram a uma palestra minha sobre prevenção do câncer sabem que sou um defensor da dieta mediterrânea, não apenas por minha experiência prática, mas devido aos inúmeros estudos que demonstram os benefícios da nutrição à base de alimentos frescos e naturais, como azeite, ervas, frutas, legumes, cereais, peixes, entre outros.


Em estudo recente com resultados publicados na revista Cancer, os pesquisadores Gregg et al examinaram o efeito de uma dieta mediterrânea em relação à progressão do câncer de próstata em homens sob vigilância ativa. Eles descobriram, então, que os participantes com câncer de próstata localizado, com padrão alimentar básico mais próximo dos princípios-chave de uma dieta de estilo mediterrâneo, se saíram melhor durante o curso de sua doença, com menor progressão tumoral.

Para chegar a esses resultados, o estudo acompanhou 410 homens em um protocolo de vigilância ativa com câncer de próstata localizado, em estágio inicial (classificação 1 ou 2 de grau de Gleason). Todos os participantes do estudo foram submetidos a uma biópsia confirmatória no início do estudo e avaliados, a cada seis meses, por meio de exames clínicos e estudos laboratoriais de Antígeno Prostático Específico (PSA) e níveis de testosterona.

Compuseram o ensaio: 82,9% participantes brancos, 8,1% negros e 9% outra raça ou raça desconhecida. A idade média foi de 64 anos; 15% dos homens eram diabéticos e 44% usavam remédios prescritos para baixar o colesterol (estatinas).


Os homens completaram um questionário de frequência alimentar com cerca de 170 itens e a pontuação da dieta mediterrânea foi calculada para cada participante em nove grupos de alimentos. Os participantes foram, então, divididos em três grupos: alta, média e baixa adesão à dieta alimentar.

Efeito da dieta
Depois de serem ajustados os fatores conhecidos por aumentarem a progressão do câncer com o tempo - como idade, antígeno prostático específico (PSA) e volume do tumor -, os homens com uma dieta que continha mais frutas, vegetais, legumes, cereais e peixes tiveram um risco reduzido de crescimento e avanço do tumor, a um ponto em que muitos considerariam se tratar de tratamento ativo. Os pesquisadores também examinaram o efeito no diabetes e no uso de estatinas e descobriram uma redução de risco semelhante.

Após ajustes para idade e características clínicas, os pesquisadores observaram uma associação significativa entre o alto escore inicial da dieta e o menor risco de progressão do grau de câncer.

O estudo também descobriu que o efeito de uma dieta mediterrânea foi mais pronunciado em pacientes negros e outros que se identificaram como não brancos. Essas descobertas são significativas, já que a taxa de diagnóstico de câncer de próstata é mais de 50% maior em homens negros, que também apresentam um risco maior de morte por câncer de próstata e progressão da doença.


Obviamente, trata-se de um estudo pequeno, sendo necessárias pesquisas futuras para ver se os mesmos efeitos são observados em grupos maiores e mais diversos de pacientes e homens com câncer de próstata de alto risco.

A dieta mediterrânea tem sido consistentemente associada a um menor risco de câncer, doenças cardiovasculares e mortalidade pelas mesmas, de forma que seria indicada para toda a população, com foco na redução do risco de desenvolvimento dessas doenças.

E com resultados de estudos como este, realizado em homens com câncer de próstata em estágio inicial, temos uma indicação de que recomendar o consumo desse tipo de dieta pode também ser um diferencial para o sucesso do tratamento e regressão dessa doença.

Uma dieta mediterrânea não é invasiva, é boa para a saúde geral e, como mostrado por este estudo, tem o potencial de reduzir a progressão do câncer. Esperamos, assim, que esses resultados, emparelhados com pesquisas adicionais e validação futura, irão encorajar os pacientes, e população em geral, a se adaptarem a um estilo de vida saudável.

*André Murad é oncologista, pós-doutor em genética, professor da UFMG e pesquisador. É diretor-executivo na clínica integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada e diretor Científico no Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão: GBOP. Exerce a especialidade há 30 anos, e é um estudioso do câncer, de suas causas (carcinogênese), dos fatores genéticos ligados à sua incidência e das medidas para preveni-lo e diagnosticá-lo precocemente.
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